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23/08/2013
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Por Sérgio da Costa Ramos (DC, 18/08/2013)
A nova administração municipal pensa num centro histórico revitalizado, marinas e lazer náutico. Tomara que essas promessas não fiquem apenas no musgo das boas intenções.
Dizer que falta mar numa ilha pareceria bizarro. Mas um ilhéu florianopolitano entende o que se quer dizer quando alguém lamenta a retirada do mar do centro “nervoso” da ilha-capital.
Houve um momento em que ainda era possível abrir um braço de mar no aterro da Baía Sul adentro, para que o “oceano” pudesse revisitar a cidade, entrar entre os beirais manuelinos, embalando as canoas e os barcos um dia retratados por Eduardo Dias.
Canoas coloridas, com nomes açorianos – como “Angra do Heroísmo” e “Ilha Terceira” – cheirando a algas e tintas frescas, ancoravam no cais do Mercado, orquestradas pelo marulhar ágil ou preguiçoso, dependendo do vento. Canoas que traziam o pescado para as bancas do casarão amarelo: as tainhas, as ovas, os camarões.
Hoje, os frutos do mar chegam no freezer de um caminhão frigorífico – tudo bem, não vamos sonhar com uma “regressão” ao útero da história. Mas todo ilhéu sente saudades do mar à sua porta – “ele”, que foi expulso pelo aterro e pela sua ocupação predatória.
Lá pelo ano 2000, virada do século, um concurso de arquitetura urbana concebeu a “devolução” do mar à cidade. Entrava aterro adentro, abria uma meia-lua até a beira da praça da Alfândega e do Mercado. Criava um “porto abrigado” e uma promenade, com barzinhos e outros equipamentos de turismo à beira desse “novo” mar. Pelo menos esse “passeio”, da Praça XV à beira do velho mar, está nos planos de humanização do Centro. Sairá do papel?
Que o cheiro de maresia seria bem-vindo, ninguém contesta. Hoje os ilhéus tomam o seu aperitivo no Mercado, sem vista pro mar. Têm que se contentar em vê-lo numa fotografia antiga, tom sépia, verdadeiro “telegrama” da memória.
Pedro Álvares Cabral, está provado, levantou ferros a partir do “trapiche” da Torre de Belém. Se fosse desembarcar na Ilha, sentiria falta do antigo trapiche da Alfândega.
Numa época romântica, pré-ponte Hercílio Luz, as balsas e os trapiches serviam ao povo. Trapiches são marinas. Que mal há em modernizá-los e equipá-los com banheiros, bares e instalações decentes?
Se esse vezo irracional de criar dificuldades para a implantação de marinas pontificasse na Lisboa dos “Descobrimentos”, o mais famoso dos trapiches de Lisboa seria embargado – ali, no colo do rio Tejo.

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