Mesmo sem nunca ter saído do papel, as obras do contorno viário da Grande Florianópolis são pagas por quem trafega pela BR-101 desde 2009, início da cobrança do pedágio. Isto porque quando venceu o processo de licitação, a Autopista fixou o preço da tarifa com base nos custos que teria nos próximos anos. O problema é que, com o atraso, a obra orçada inicialmente em cerca de R$ 200 milhões já estaria estimada em pelo menos o dobro do valor. Isso sem levar em conta os custos com os seis túneis (três em cada sentido da pista) necessários para o trecho projetado para desviar do condomínio construído em Palhoça.
Segundo o engenheiro Ricardo Saporiti, que tem estudo específico sobre o contorno, os túneis serão semelhantes ao recém-contratado pelo DNIT para as obras de duplicação do trecho Sul da 101, no Morro do Formigão. O governo pagou cerca de R$ 52 milhões pela estrutura – em uma comparação com os túneis que serão construídos no contorno, o custo seria de cerca de R$ 300 milhões por serem mais extensos. Somados, o valor dos túneis aos investimentos já previstos, a obra do contorno pode chegar a R$ 700 milhões (mais de três vezes o previsto inicialmente).
Tarifa do pedágio compensará aumento
Tanto ANTT quanto Autopista afirmam que “os a mais” da obra serão compensados na tarifa de pedágio – porém, ainda não divulgam o quanto será acrescido no valor atual (R$ 1,70 para veículos de passeio). Ou seja, o atraso do contorno vai pesar no bolso do usuário de todo o trecho entre Palhoça e Curitiba.
(DC, 09/06/2013)
Licença negociada pela cúpula
Se todas as etapas do estudo de impacto ambiental fossem cumpridas a rigor, o contorno viário da Grande Florianópolis não sairia do papel antes do fim do ano. Porém, desde a intervenção do Ministério dos Transportes – que devido aos atrasos da obra ameaça romper o contrato com a Autopista Litoral Sul – o assunto passou a ser tratado como “decisão de gabinete”. A diretora da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Natália Marcassa, afirma que negocia a liberação das licenças diretamente com a direção do Ibama e garante que há possibilidade de iniciar as obras ainda em 2013.
O que sustenta a possível exceção à concessionária do trecho Norte da BR-101 seria a elaboração de nove campanhas de coleta de fauna e flora, a última delas realizada em maio. Segundo Natália, a pesquisa de campo ocorreu em três períodos diferentes, o que atenderia a sazonalidade exigida no Eia-Rima – o complexo estudo de impacto que, até a semana passada, era tratado por técnicos do Ibama como o principal obstáculo para o começo das obras.
Pesquisas realizadas seriam suficientes
Por precisar de levantamentos em períodos do inverno e do verão, o estudo poderia levar até um ano para ser concluído. As pesquisas já realizadas, segundo a diretora da ANTT, teriam sido suficientes para provar que na área onde será construído o contorno não há nenhuma espécie em extinção.
– É uma maneira de acelerar o processo, que está sendo negociado internamente entre ANTT e Ibama – diz a diretora.
Se o Ibama aceitar a proposta, o que pode ocorrer a qualquer momento, a licença poderia ser emitida em um prazo de 75 dias – tempo para a análise do estudo e realização de audiências públicas nos municípios impactados pela obra (Biguaçu, São José e Palhoça). No entanto, a empresa ainda precisaria concluir a etapa de desapropriação das áreas por onde a nova rodovia vai passar. Conforme a assessoria da empresa, existe um cadastro em que constam cerca de 500 proprietários de terras.
Via assessoria de imprensa, a Autopista Litoral Sul se restringiu a informar que irá agir conforme determinação da ANTT. Já o Ibama, até a noite de sexta-feira, não havia se manifestado sobre as negociações com a direção da agência.
(DC, 09/06/2013)
A interferência do Ministro
No dia 22 de maio, o ministro dos Transportes, César Borges, abriu processo administrativo para apurar as responsabilidades pelo atraso das obras do contorno e determinou que iniciem ainda em 2013 – sob o risco de rompimento do contrato. E mesmo que comece as obras, a Autopista não deverá escapar da investigação. O ministro também mandou suspender a cobrança do pedágio em Palhoça a partir do dia 22 de junho. A medida vale por um ano ou até que a empresa construa uma nova praça, 23 quilômetros à frente do prédio atual, no limite com o município de Paulo Lopes.
(DC, 09/06/2013)