Até um país tão conhecido por suas riquezas naturais como o Brasil precisa ficar atento no quesito biodiversidade marinha. É o que alerta uma das referências mundiais no assunto, Boris Worm, que está em Florianópolis, participando do Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, que ocorre até o próximo dia 23. Em conversa com o Diário Catarinense, o pós-doutor em Ciência Marinha defende o aumento de unidades de conservação integral no país.
Diário Catarinense – Na sua avaliação, como está a biodiversidade marinha no mundo?
Boris Worm – Está melhor do que as espécies em terra. Poucas espécies sofrem ameaças de desaparecer, o oceano ainda está muito vivo. Mas particularmente nas regiões costeiras, a produção tem sido comprometida, principalmente pelos efeitos da pesca predatória, da poluição, da destruição de habitats como corais. As mudanças climáticas e a elevação do nível do mar são problemas adicionais. O problema principal é transformar a pesca predatória em sustentável.
DC – Quais são as espécies que merecem mais cuidado? Por quê?
Worm – Estou muito preocupado com os tubarões e raias. Eles são como as pessoas, crescem devagar, amadurecem tarde e não produzem muita descendência. Não há espécies que sumiram do mundo, mas há regiões que não têm mais seus tubarões.
DC – A redução dos alimentos deles também não influencia?
Worm – Isso também acontece, mas não é tão preocupante como a matança dos tubarões ou a pesca. Um problema é que, no mundo, eles matam os tubarões para cortar suas nadadeiras e vendê-las para a Ásia a um preço muito alto. Isso tem causado a extinção de tubarões em muitas regiões. A prática já é ilegal em muitos países (no Brasil, há restrições na pesca e comercialização de tubarões. A pesca ao tubarão galha branco oceânico, por exemplo, foi proibida em março).
DC – No Brasil, existe alguma área em que não há mais tubarões?
Worm – No Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em Pernambuco, costumava ter muitos tubarões e agora está totalmente sem esses animais, pela pesca comercial que começou nos anos de 1960. O último tubarão foi visto na região em 1993.
DC – Como está o Brasil em termos de biodiversidade?
Worm – Estou preocupado com o Brasil. Eu fui informado que o Brasil tem crescido muito economicamente e o governo decidiu aumentar a pesca. Espero que o Brasil invista na costa para uma pesca consciente e não só gastando o potencial pesqueiro porque isso poderia ser complicado para as espécies.
DC – Quais seriam alguns exemplos de pesca sustentável?
Worm – A pesca sustentável significa que não se está tirando mais peixes do que a capacidade da espécie de se recuperar em número na temporada seguinte. Isso pode ser alcançado por melhores controles de pesca (permitindo a captura apenas em determinadas épocas e com cotas específicas), estudos científicos, com dados estatísticos do que é capturado, e trabalhos com pescadores e comunidades pesqueiras.
DC – Como você considera as espécies em Santa Catarina?
Worm – Soube que já há grupos de tubarões que são mais raros, como em muitas áreas onde houve excesso de pesca. Também escutei que há uma área de proteção integral aqui (a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo) e isso já é algo positivo.
DC – Como poderíamos melhorar em termos de biodiversidade no mundo e no Brasil?
Worm – Os Estados Unidos, por exemplo, têm tomado longos passos para recuperar as espécies marinhas. Eles não pescam algumas espécies quando as populações de peixes caem, apenas quando se recuperam. Eles também têm muitas áreas de proteção marinha. O Brasil poderia ter mais parques marinhos, com áreas protegidas (apenas 2% dos 3,6 milhões de quilômetros quadrados de mar do país estão em área de proteção, enquanto o índice recomendado pela Convenção da Diversidade Biológica, das Nações Unidas, é de pelo menos 10%). A maior diversidade é boa para as pessoas porque melhora o turismo, a qualidade da água.
(DC, 21/05/2013)
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