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15/04/2013

Por Sérgio da Costa Ramos (DC, 13/04/2013)

A caminho do Mercado, o ilhéu captura no ar cheiros de antigamente, que se desprendem dos velhos casarões da Conselheiro Mafra. Emanações do mofo de paredes espessas ou de barrotes apodrecidos dos assoalhos – iluminados pelo facho de luz solar em que levitam as poeiras do tempo.

No antigo Largo da Alfândega, todos parecem assumir personagens de “Amarcord”, de Fellini. O vento (o “sirocco” ou o “vento suli”?) sopra num assobio que traz o passado pelo ar, através dos sentidos.

Pairam no ar, como gaivotas, pedaços de passado, como se todos, velhos e moços, estivessem à procura do elo perdido num “puzzle” urbano. Uma lembrança capaz de remendar o tempo perdido, como em “A La Recherche du Temps Perdu”, de Marcel Proust.

Sinto falta de algumas peças de “reposição”, capazes de recompor a paisagem urbana. Sinto falta do cheiro da maresia e do som das ondas, marulhando nas bordas das canoas ancoradas no Mercado, descarregando peixe…

Por que não deixaram “um braço de mar” lambendo a cidade ali pelo casarão da velha Alfândega? Onde está o “Bar-e-Confeitaria Chiquinho”, a melhor empada e o melhor camarão recheado do Brasil? E o Senadinho, com a sua indefectível e cívica esquina tribunalícia?

Já faz tempo que “assassinaram” o Ponto Chic. E onde estão as ostras que se grudavam na limosa escadaria do Miramar – e que escalavam as muradas do Mercado Público? Onde estão os carrinhos-de-cavalo da Praça Fernando Machado, sopé da Praça XV, em cujo ponto relinchavam os cavalos brancos (e baios) de Napoleão?

Onde estão os trapiches da orla antiga – o da Alfândega, o da Rita Maria, o do Arataca – estaleiro da Casa de Navegação “Hoepcke”? Promontórios que, nas manhãs resplandescentes, acolhiam os gazeteiros do Colégio Catarinense?

Moleques que vadiavam na manhã ensolarada, soltando pandorgas ou treinando um “peixinho triplo” – arremesso de pedrinhas deslizantes na lâmina d’água. Três pulinhos – isto, se ao menino acudisse uma maneira muito esperta de lançar, habilidade só adquirida com muita prática…

O tempo voa, o tempo muda.

Caminhar pelo centro histórico é tomar biotônicos – aqueles de rótulos antigos, como a “Emulsão de Scott” – capazes de devolverem a cidade ao meio do século passado.

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