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Pontes da Capital precisam de manutenção urgente, dizem engenheiros

Lajes das passarelas caem no mar. Ferros oxidados aparecem nos pilares. Por cima, passam 190 mil veículos por dia, enquanto elas foram projetadas para um fluxo de 80 mil. Essa é a situação das pontes Colombo Salles (inaugurada em 1975) e Pedro Ivo Campos (1991). Juntas, elas formam a única ligação entre a Ilha e o Continente. É hora de dar carinho para as “irmãs”, apontam os engenheiros.

Na semana passada, um alerta da Capitania dos Portos de Santa Catarina jogou luz sobre a situação das pontes. Foi proibida a passagem de embarcações pelo vão central, porque lajes da passarela da Colombo Salles poderiam cair. Desde o início, o Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura) afirmou que era um problema isolado e que não comprometia a estrutura.

Ao navegar por baixo das pontes, é fácil constatar ferros oxidados e partes de concreto se despedaçando. A estrutura não poderia entrar em colapso e acontecer uma interdição, como na vizinha Hercílio Luz? Para o Deinfra, não. “A Hercílio Luz tem outra tecnologia, baseada em aço, além de ser mais antiga. As duas pontes são de concreto. Não há risco nenhum de elas serem interditadas”, afirma o presidente Paulo Meller.

Os engenheiros Gilberto Scafuro, construtor de várias obras no governo Jorge Bornhausen, e Bernardo Tasso, diretor do Ibape (Instituto Catarinense de Engenharia de Avaliações e Perícias), também não veem risco neste momento. Mas alertam: é hora da manutenção.

O edital de reforma foi lançado em novembro de 2011. Mas a ordem de serviço não foi dada até agora por falta de recursos. “Não há perigo, mas precisa ser feita manutenção. Porque, caso contrário, as partes metálicas começam a corroer. De forma geral, os governos têm sido omisso com a manutenção. A Colombo Salles e a Pedro Ivo estão com aspecto relaxado”, avalia Scafuro.

Para o engenheiro Bernardo Tasso, quando os ferros começam a aparecer é hora da manutenção. “Quando a ferragem está exposta os ferros começam a oxidar. Ou seja, eles vão diminuindo de tamanho até desaparecer”, afirma.

Ordem de serviço deve ser assinada em abril

Quanto ao fluxo de veículos, que é mais que o dobro do projetado, nem Paulo Meller e nem os engenheiros dizem que pode causar problema na estrutura. Afirmam que elas são projetadas para suportar um peso ainda muito maior.

Se, por enquanto não há problema, uma obra deve ser olhada com carinho. A promessa do Deinfra é de que, em abril, seja assinada a ordem de serviço de R$ 1,6 milhão para uma empresa fazer a análise de toda a estrutura das pontes, inclusive a subaquática. Ela terá oito meses para fazer um check-up nas “irmãs” e apontar as melhorias necessárias.

Faltou a passarela

O funcionário público Miguel Castro, 44 anos, costuma ouvir que as pessoas devem andar a pé e de bicicleta para melhorar a mobilidade urbana. Ele faz isso ao cruzar a passarela da ponte Pedro Ivo Campos quatro vezes por dia. Mas não vê incentivos. Quando chega à Ilha, precisa atravessar uma rua movimentada, sem qualquer faixa de segurança.

A rua é a Antônio Pereira Oliveira Neto, ao lado da rodoviária. “Havia uma faixa ali na esquina, mas foi retirada por causa de uma obra voltada para carros [o elevado Rita Maria], diz.

Quem chega à Ilha a pé ou de bicicleta tem duas opções: atravessar a rua movimentada e correr riscos ou ir ao CentroSul para acessar a passarela. Reinaldo Pires Ferreira, 67, costuma atravessar a passarela de bicicleta. Para ele, também o pior problema é atravessar a rua. “Seria tão simples continuar a passarela, chega a ser ridículo”, dispara.

O Ministério Público está atento ao assunto. No ano passado, após abrir um inquérito para apurar a insegurança na passarela, única ligação para pedestres e ciclistas, ela foi revitalizada. Está iluminada, com câmaras de segurança e um parapeito adequado. Só falta a passarela. “É um problema sério. Os remadores costumam reclamar bastante. Conversamos com o João Amin (vice-prefeito e secretário de Obras), que ficou de estudar alguma alternativa. No final de abril ele deve nos mostrar os estudos”, informa o promotor Daniel Paladino.

E se as pontes fossem interditadas?

Quando a ponte Hercílio Luz foi interditada pela primeira vez, em 1982, havia a Colombo Salles para garantir a ligação Ilha-Continente. Ao ser fechada em definitivo, em 1991, também já existia a Pedro Ivo. E, se por algum problema, uma ou mesmo as duas pontes tivessem que ser interditadas, como seria? Um caos, como mostra a história.

Um dos casos é clássico: o apagão de 2003. Na época, funcionários da Celesc trabalhavam em cabos condutores de média e alta tensão, dentro da Colombo Salles, quando houve uma explosão. A cidade ficou sem luz e a ponte, em alguns momentos, teve que ser fechada.

Aliado à falta de luz, o caos se instalou na Capital. Na época, o gerente do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), Lírio Legnani, dizia que sem a Colombo Salles o trânsito seria transformado em “caos absoluto”, porque não havia um plano de emergência para Florianópolis ter só uma ponte.

Outro caso menos lembrado também mostra o perigo da interdição. Em 1994, um caminhão de lixo tombou na Colombo Salles. A caçamba abriu e espalhou chorume e lixo por toda a ponte. O resultado foi a interdição total da Colombo Salles e de apenas uma pista na Pedro Ivo. Durante três horas, ninguém saiu da Ilha.

Os camaleões da Colombo Salles

Apesar de ser uma área de segurança, há pelo menos 11 pessoas morando embaixo das pontes, mais precisamente sob a cabeceira insular da Colombo Salles. “Como dizia meu pai, o ser humano é como camaleão e vai se adaptando”, filosofa uma mulher de 37 anos que mora ali.

Mas ela não quer ficar por muito tempo. Veio de Chapecó, há um mês, e tentou morar sob o elevado Rita Maria. Mas era perto da polícia e foram convidados a se retirar. “Era o único lugar para morar. Não vejo a hora de encontrar uma casa para morar”, conta.
Segundo o promotor Daniel Paladino, este é outro problema sério da cidade. Já houve uma recomendação para a Polícia Militar identificar e tirar estas pessoas de situação de risco. Eles não poderiam ficar ali.
Enquanto isso, a mulher tem enfrentado problemas com ladrões, provavelmente alguém de fora. A primeira barraca foi roubada, a segunda ainda está lá, brigando contra o vento sul. Também levaram um chinelo dela, e não o par.
A área tem placa de aviso que é proibido entrar no local. Mas um portão está aberto, fora os inúmeros furos nas cercas.

FIQUE POR DENTRO
Estrutura e movimento das pontes

190 mil veículos por dia
Número de carros, caminhões, ônibus e motos que cruzam as pontes diariamente

Pedro Ivo Campos
Inaugurada em: 1991
Comprimento: 1.252 metros
Projetada para um fluxo de 40 mil veículos por dia

Colombo Salles
Inaugurada em: 1975
Comprimento: 1.227 metros
Projetada para um fluxo de 40 mil veículos por dia

 

(Notícias do Dia Online, 01/04/2013)

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