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Humor em Floripa

(Por Sergio da Costa Ramos DC, 17/03/2013)

Hercílio Luz crismou-a com o nome de um algoz, Floriano Peixoto, agindo como um chaleira e com a intenção de abrir sobre o seu primeiro mandato o guarda-chuva da recém-nascida República.

– Bengala de chuva! – apelidou o mané, que tinha medo do temperamento forte do mandatário, mas não perdia a piada.

Lendária bengala, que presidia as reuniões do secretariado e – não raro – descia sobre o lombo de algum secretário – o que os levava a inteirar-se, medrosos, antes da reunião:

– O homem vem “armado”?

Velha Floripa, de nomes e apelidos.A Rua Bocaiúva um dia se chamou, popularmente, Rua do Sebastião. A Almirante Lamego era a Rua de Sant’Ana. A Avenida Mauro Ramos atendia pelo nome trivial de Rua das Olarias. E a Fernando Machado registrou-se nesse cartório urbano como Rua do Vigário, certamente porque pavimentava o caminho rumo à Cúria e à Catedral.

Não vivi essa arqueologia do século 19. Mas vivi, de certa forma, a pré-história da cidade à beira da Matriz e da Praça XV – o Mercado Público como empório de víveres, o Senadinho – na encruzilhada de Felipe com Trajano – como assembleia de viventes.

Vivi a infância nos anos 1950 do século 20 – e pude conviver com a paisagem única de uma cidade bucólica, beijada pelo mar, ruas estreitas e tipos populares – figuras colhidas no relicário felliniano de Amarcord.

Tipos que eram chamados “de apelido”. Estes nasciam da criativa lavra do mais genuíno humor ilhéu. Alguns dos mais conhecidos eram portados por andarilhos do Centro da cidade, como o “Curvina”. O ofendido corria atrás da molecada, o apelido entoado em coro, como se fosse o verso de um jogral. A gorda “Barca Quatro”, úberes imensos, língua afiada, cuspia em quem a chamasse “de apelido”. A produzida “Lídia Traça”, vestidos de melindrosa e o dorso sempre coberto de peles, parecia uma caricatura em tintas carregadas, como se fosse uma figura “para colorir”.

E havia os tipos superpopulares, como o “Adolfo”, que se arrogava proprietário de todos os carros da cidade. Gabava-se de “ter vendido um Odsmobile para o doutor Aderbal Ramos da Silva e um Mercury para o arcebispo D. Joaquim”.

O “Capa Preta” era um mistério. Assombrava as noites de lua cheia, assustando as mocinhas que se atreviam ao cinema noturno, no Ritz ou no São José.

As famílias cultivavam seus jardins de margaridas, copos-de-leite e bocas-de-leão, trepadeiras lenhosas derramavam suas flores pelos gradis, compondo, na visão do escritor Renato Barbosa, “um rendado tropical de rara beleza”.

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