Dia da Água: O cálculo do desperdício
22/03/2013
BRT e o surreal
22/03/2013

(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 22/03/2013)

A Lagoa da Conceição já é uma cidade de 80 mil habitantes ainda cheia de belezas, mas carente de esgoto. É o tal de progresso, essa hydra de mil cabeças, eterno símbolo do mais e não do melhor. Foi essa serpente que despertou no doce poeta Mário Quintana a seguinte definição:

– O progresso é a insidiosa substituição da harmonia pela cacofonia.

Ir a Canasvieiras – outra cidade hoje descaracterizada – era “uma viagem”. Ninguém ia às praias do Norte da Ilha, a não ser para confinar-se no único hotel existente em praias da ilha: o do Canasvieiras Hotel, cercado por pitangueiras. O banho de mar de todo dia ficava bem mais perto, no Praia Clube, em Coqueiros. E até que era possível tomar-se um bom banho, sem beijar os coliformes que hoje navegam à superfície…

Havia trapiches nas duas baías e a cidade vivia em conjunção carnal com o mar. Afinal, em qualquer outro país do Mundo Florianópolis seria um excelente porto.

Era só mandar dragar o canal entre as baías, no ponto conhecido como o “Estreito”. Transatlânticos de grande calado navegam pela laguna de Veneza, deslizando praticamente ao lado da Piazza de San Marco. Aqui, já vão longe os tempos em que os navios de médio porte – os “vapores”, como se dizia – podiam navegar sob a ponte Hercílio Luz e atracar no trapiche da Florestal, no Continente, em sítio próximo ao Parque de Coqueiros.

A Ilha do Carvão era um penditif pendurado no pescoço da baía sul, enquanto o Miramar era o mal-cheiroso ancoradouro dos bêbados e dos notívagos, mas também o procurado refúgio boêmio, Gibraltar dos festeiros e dos seresteiros.

Vivemos, os sessentões, essa traumática mudança da paisagem urbana, como o “operado” que se entrega a uma cirurgia sem o benefício da anestesia. E que acorda em outra cidade, esteticamente desfigurada. Dela roubaram o mar. E em vez de cultivarem um plano de gerenciamento costeiro (temos um, esquecido e não aplicável), cultivam um bem nutrido labirinto sobre quatro rodas.

Como reclamar da mobilidade urbana se a própria vítima – o ilhéu – não se move para cobrar trabalho junto às autoridades motivadas unicamente pelo evento chamado “eleições”?

Floripa, hoje, é a própria negação daquele inspirado título da autobiografia de Hemingway: “Paris is a moveable feast”. Pois Paris, apesar de recordista em turistas, ainda se move.

Florianópolis é uma festa em dias de sol. Mas uma festa imóvel.

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