Em janeiro, a coleta seletiva da Comcap bateu recorde histórico com o recolhimento de 1.209 toneladas de materiais recicláveis. Essa quantidade é maior do que toda a produção no ano de 2005. Ou 60% do que foi coletado durante todo ano de 2008. “Em menos de uma década, passamos a recolher em um mês o que se recolhia num ano inteiro, temos feito milagre, às vezes até me pergunto como”, compara o gerente da Divisão de Coleta Seletiva, Roberto Vieira.
Logo as respostas surgem. Apesar da frota desatualizada, já que seis dos oito caminhões rodam há 30 anos, e da dificuldade em escoar os materiais recicláveis, a equipe é coesa e ágil. Hoje 80% dos garis da seletiva são jovens, muitos com Ensino Médio completo, e compartilham com os mais antigos a visão que seu trabalho tem grande importância ambiental e social. “Com todas as dificuldades, tem sido um contentamento chegar na empresa e encontrar essa equipe que trabalha com prazer e muita consciência”, atesta Roberto.
Modernização
A modernização tecnológica, garante o presidente da Comcap, Ronaldo Freire, é questão de tempo. Os dois últimos caminhões baús foram comprados em 2009 e 2012 por meio de projetos que a Comcap viabilizou junto ao governo federal. Essa competência técnica da Comcap na captação de recursos externos será potencializada – e reconhecida _ com contrapartidas e investimentos próprios, como já ocorre em relação ao PEV do Continente.
“Vamos destravar esses processos não só para comprar caminhões que atendem a coleta de porta em porta, mas para dinamizar os pontos de entrega voluntária, e abrir novas frentes de captação de recursos com apoio da prefeitura”, afirma Ronaldo.
Um exemplo, aponta o diretor de Operações da Comcap, Marius Bagnati, são os 20 contentores que a Ambev vai doar à cidade (parte deles usada durante o Carnaval). Essas cápsulas com capacidade para 2,5 mil litros serão instaladas em pontos de grande circulação, como supermercados, postos, bares e restaurantes, para a coleta diferenciada de vidro. Hoje, um problema para a coleta seletiva.
Gargalo
A grande dificuldade na seletiva hoje, aponta Roberto Vieira, é em relação ao escoamento dos materiais recicláveis, questão que não depende direta e exclusivamente da Comcap. Desde 2008, com a crise internacional, explica o engenheiro Wilson Cancian Lopes, houve uma desvalorização de preço dos materiais recicláveis no mercado. Depois, com a recuperação econômica, diminuição do desemprego e os ganhos de renda dos brasileiros, a mão de obra para a triagem se tornou escassa e cara, comprometendo a capacidade de operação de associações e empresas.
Novos parceiros
Hoje as duas principais associações de triadores para as quais o município doa os materiais recicláveis conseguem absorver apenas metade da produção da coleta seletiva da Comcap. A ACMR, 600 toneladas/mês e a Aresp, 60. De modo que a companhia tem se obrigado a destinar o restante a novos parceiros. Já são nove entre Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. “Temos conseguido parceiros com capacidade para colocar até 700 toneladas por mês, mas é preciso percorrer 20 quilômetros a mais para vazar os materiais nesse trânsito caótico da Via Expressa e BR-101”, aponta Vieira. Com o que, são gastas até duas horas a mais de trabalho para cada caminhão em horários de pico.
A preocupação com o escoamento dos recicláveis, acrescenta Ronaldo Freire, também tem feito a Comcap estudar novos destinos em acordo com a nova lei.
Frequência
Os roteiros de coleta seletiva são diários hoje no Centro de Florianópolis. Em bairros do Continente, no Santa Mônica e Jurerê Internacional, o recolhimento de materiais recicláveis é feito duas vezes por semanas. Nos demais, uma vez por semana.
Na maior parte dos bairros, observa Roberto Vieira, a separação de materiais cresceu pelo menos 50%. E no Centro explodiu, desde que a coleta passou a ser diária em 2009. Hoje são recolhidas nessa área central, cerca de 200 toneladas/mês, quantidade que em anos anteriores representava a produção da cidade inteira.
Apesar do crescimento da seletiva, a Comcap ainda pratica um quarto da meta a ser alcançada em três anos.
Destino principal dos materiais da coleta seletiva
ACMR – 600 toneladas/mês
Aresp – 60 toneladas/mês
Novos parceiros (capacidade em toneladas/mês):
Área industrial de São José/ Daniel (300)
Sertão do Imaruim/Aparecida (100)
Forquilhas/fábrica de mangueiras(40)
Alto Forquilhas/usina (40)
Forquilhinhas/Márcio (40)
Avenida das Torres/Marcelo (20)
Bairro Areias/Moliv (60)
Coqueiros/Mário (40)
Associação de triadores de Biguaçu (40)
Frota e rotas
8 caminhões baús
2 compactadores
1 caminhonete
Manhã – 6 roteiros – 7 motoristas e 25 garis
Tarde – 2 roteiros – 2 motoristas – 9 garis
Noite – 6 roteiros – 5 motoristas – 23 garis
Cada equipe tem feito de duas a três viagens recolhendo em média seis toneladas/dia
Firme e forte
Dejair Dário Claudino trabalha na seletiva desde que a coleta diferenciada começou em Florianópolis no final dos anos 80. Lembra que naquela época, pelo Projeto Beija-flor, subia aos morros da Mariquinha e do Horácio a cada dois meses para retirar os materiais recicláveis.
Lembra, bem depois, já com a coleta seletiva regular, de porta em porta, quando tirava um caminhão por semana do Campeche. Hoje são quatro. Mas há uma coisa que permanece igual: a proximidade do contato com o morador. Se hoje já não precisa insistir tanto no bordão _ “Recicle, a natureza agradece” _ , precisa ter na ponta da língua informações sobre como devem ser separados e embalados os resíduos. “Eu gosto muito do que faço, são 24 anos de trabalho e nunca peguei perícia, não sei o que é ficar parado.”
(PMF, 27/02/2013)
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