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Vagas de garagem transformam-se em espaços de luxo

Foi-se o tempo que os gastos com o carro eram limitados a abastecer, pagar o emplacamento anual e o seguro. Quem comprou um carro e ainda mora em apartamento tem uma dor de cabeça extra: nem todos os condomínios têm vagas de garagem para todos os carros. A situação gera desconforto e um gasto a mais para aqueles que preferem a segurança de ter o carro guardado nas vagas do prédio.

Quem pretende investir na compra de uma garagem no centro da Capital não desembolsa menos do que R$ 30 mil, o preço de um carro zero. Em regiões centrais da cidade, uma vaga pode chegar a R$ 100 mil. Para alugar, a situação é ainda mais complicada. Nas principais imobiliárias da região estão disponíveis atualmente 22 oportunidades para aluguel.

Os gastos da naturóloga Renata Hermes com a garagem de casa são de R$ 150 por mês. Ao se mudar para o apartamento comprado no bairro Campinas, ela e o namorado tinham uma vaga, adquirida com o imóvel. O segundo carro precisava ficar em um estacionamento próximo. “Era perigoso, acabávamos com receio de sair à noite com aquele carro para não precisar ir à pé até em casa”, lembrou Renata. A solução para o problema veio em uma conversa com um vizinho, filho da dona de um apartamento no mesmo prédio. “Ele disse que a mãe morava ali e não tinha carro. Foi aí que ele nos ofereceu a vaga para alugar”, lembrou Renata, que há dois anos conta com a comodidade de ter os dois carros no prédio.

Mesma situação da funcionária pública Nilce Peixer March, que também prefere pagar R$ 200 mensais para ter a segurança do carro no prédio. “Se colocar na ponta do lápis, vale mais a pena. Se o carro ficasse estacionado na rua, o seguro sairia muito mais caro”, enumerou, pensando também na segurança do filho que sai à noite. “Já soubemos de vizinhos que tiveram o carro arrombado de madrugada porque ficou na rua”, comentou.

Empreendimentos novos

Pode até parecer exagero. Mas hoje condomínios que saem da planta dificilmente têm menos do que duas vagas de garagem por apartamento. Pela construtora Zita, um empreendimento na avenida Trompowsky, no Centro de Florianópolis, não sai da planta com menos de três vagas por unidade comercializada. Mas a maioria dos compradores opta por quatro garagens. Segundo o corretor responsável pela comercialização do empreendimento, Cesar Vaz, o número não assusta. “Hoje um apartamento com dois quartos custa ser vendido se não forem oferecidas duas garagens, no mínimo”, assegurou.

Em prédios antigos, encontrar uma garagem a venda em Florianópolis é tão difícil quanto alugar. Segundo o corretor, há casos de apartamentos grandes, de 400 m² na avenida Beira-mar, que a imobiliária não consegue efetuar a venda porque há a oferta de apenas uma vaga de garagem. “Hoje as famílias têm dois carros ou mais. Quem há dez anos vendeu a garagem extra hoje se arrepende”, comentou.

Vagas escassas

Para o presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Santa Catarina), Helio Bairros, o número crescente de oferta de vagas em novos condomínios é resultado da pouca infraestrutura pública de transportes, que obriga as famílias terem mais de um carro na garagem. “Também está muito mais fácil ter um carro hoje em dia”, apontou o presidente.

Entretanto, para Bairros, ampliar o número de vagas em novos condomínios não é a solução total para o problema das vagas escassas. Para ele, o investimento em edifícios garagem pode ser uma solução viável.

Em Florianópolis, o único prédio voltado exclusivamente ao estacionamento de carros está 95% pronto, entretanto, a finalização foi impedida em virtude de uma ação do Tribunal de Justiça. Quando for inaugurado, o edifício localizado ao lado da Catedral Metropolitana oferecerá 256 vagas distribuídas em oito andares. O serviço funcionará 24 horas.

O pedido de embargo veio depois que o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) questionou a forma de licitação feita pelo Estado e a falta de justificativa para os 30 anos de contrato e o valor do aluguel. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça, os advogados que respondem pela I-Park, empresa responsável pela construção da garagem, já entraram com recurso para retomar as obras, entretanto, o caso ainda não foi julgado.

A expectativa de um dos encarregados da I-Park, Almir Daraba, é que o empreendimento comece a funcionar no primeiro semestre de 2013. “Já entramos com recurso e estamos aguardando”, pontuou.

Alugueis caros

Enquanto não surgem opções para deixar o carro, quem não pode comprar uma vaga precisa vasculhar bem para encontrar um aluguel. Na Grande Florianópolis, as imobiliárias dispõem de opções raras, voltadas na maior parte das vezes para o aluguel comercial. Na região são 22 possibilidades divididas nos bairros Centro, Pedra Branca, Campinas, Kobrasol, Coqueiros e Estreito. O valor mensal varia entre R$ 180 e R$ 300.

Segundo a gerente de negócios da imobiliária Brognoli, Sandra Rodrigues, encontrar uma vaga em condomínios é ter sorte. No site da imobiliária, por exemplo, existem apenas duas vagas disponíveis para Florianópolis e nenhuma em São José ou Palhoça. “Quem tem uma vaga pode se considerar um sortudo porque com o número de carros que temos na cidade, a oferta de garagens é mínima”, enfatizou.

A venda de uma garagem também pode ser um bom negócio. Quando foi comprado há dez anos, o antigo apartamento da naturóloga Renata Hermes valia R$ 35 mil com garagem. Na venda, feita há dois anos, somente a garagem valia os R$ 35 mil. “Fiquei impressionada de quanto uma vaga para o carro pode valorizar em pouco tempo”, disse.

Vagas a preço de luxo

No Centro de Florianópolis a valorização das vagas fica ainda mais evidente. Quem é dono de uma garagem no Ceisa Center tem um espaço avaliado em R$ 100 mil. Por lá, são oferecidas 100 vagas àqueles que trabalham no local. Poucas são alugadas para terceiros e, segundo o síndico do Ceisa e presidente do Sindiconde (Sindicato dos Condomínios de Edifícios da Grande Florianópolis), Alfred Heilmann, quando surge uma opção de aluguel a locação é feita em menos de um dia. “Não dá nem tempo de divulgar”, confirmou Heilmann. Por lá, quem aluga uma vaga desembolsa, por mês, R$ 500 em média.

Como presidente do Sindiconde, Heilmann alerta àqueles que pretendem ser locadores ou locatários de uma garagem que façam a consulta ao síndico do prédio antes de efetivar o contrato. “Muitos condomínios não permitem esse tipo de aluguel para pessoas de fora do prédio”, observou, indicando que sempre seja feito um contrato de locação.

(ND, 20/01/2013)

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