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Mundo selvagem da Reserva de Carijós

Ao ritmo de preamar e baixa-mar, raízes e mais raízes brotam do lamaçal. Selvagens. Raízes que pre­servam e expõem toda exuberância do mangue. Onde o solo salgado, lodoso, pobre em oxigênio e rico em nutrientes é abrigo perfeito para camarões, mariscos, ostras, berbigões, peixes, aves. E não se assuste caso um jacaré-de-papo-amarelo sorrir pra você emergindo das águas salobras com os dentes à mostra. Em luga­res como Florianópolis, estuários fazem estrema com a vida urbana e sua escassez. O encadeamento desses biomas garante sincronia na cadeia animal; e como um elo, uma vez quebrado causaria danos ambientais irre­versíveis para a população de toda uma região.

Junto à baía Norte da Ilha de Santa Catarina está a Estação Ecológica de Carijós. Ali, nos mangues do Saco Grande e Ratones e entorno, vivem mais de 500 espécies nativas. Por ali é possível avistar, por exem­plo, a saíra-sapucaia (Tangara peruviana), ameaçada globalmente. São mais de 148 tipos diferentes de aves, que representam 25,2% de toda avifauna do Estado, se­gundo estudos da Proaves (Associação Brasileira para Conservação das Aves) e Cemave (Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres).

O manguezal de Ratones é o mais preservado da ci­dade, e um dos maiores do país dentro de zona urbana. Os limites de 619 hectares da reserva, hoje, abrangem, além dos mangues, áreas de restinga, rios e banha­dos. “A reserva serve de berçário para as espécies, se o mangue morre somem o camarão, peixes, carangue­jos e aves”, alardeia o chefe da reserva, Silvio de Souza. Entre as principais ameaças, Silvio destaca a ocupação irregular, poluição dos rios e pesca predatória.

A reserva de Carijós foi criada em 1987 para pro­teger os dois principais manguezais ao Norte da Ilha. Vista da beira do mangue de Ratones, a imponência da ponte Hercílio Luz, emoldurada pela vegetação de transição entre o terrestre e o marinho, instiga qualquer um a refletir sobre quais os caminhos que a urbanização da cidade tem tomado.

Ideia de transformar a reserva em parque eco­lógico, abrindo para visitação, é um dos planos fu­turos para a áreas, assim como remarcação de seus limites, aumentando ainda mais a área preservada.

Ameaças urbanas

Sobre a alfombra verde, as bacias hidrográficas Ratones e Saco Grande fornecem boa parte da água doce que encharca o solo dos mangues. Eapesar de a natureza dar conta de organizar tudo, ali dentro dos limites da reserva, com tanta perfeição, ela ainda não pode se defender da poluição que chega através dos rios.

Na década de 1960, antes mesmo da instituição da reserva, a planície do Rio Ratones sofreu uma redução de 50% da sua área original em consequência de drenagem realizada pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento para fins diversos, tais como recuperação de áreas para agricultura, saneamento, construção de rodovias e expansão urbana. As obras reduziram em 24% da extensão original do rio.

Atualmente, os dois mangues também apresentam redução significativa. Enquanto o mangue do Saco Grande preserva apenas 68% de seu tamanho original, em Ratones a degradação acelerada poupou apenas 37,7% da área original. Segundo Sílvio de Souza, chefe da reserva, estudos realizados recentemente mostram que a poluição que chega até o local através dos rios é de difícil combate. “As nascentes ainda estão preservadas e cristalinas, mas ambos os rios, do Saco Grande e Ratones, e seus afluentes recebem muita poluição nas partes planas. Em alguns casos, o esgoto é ligado direto no rio, resultado da falta de saneamento adequado”, explica. As situações mais críticas foram verificadas nas bacias dos rios Papaquara e Pau do Barco.

Apopulação no entorno e até mesmo dentro dos limites de Carijós é outra ameaça. Entre 1991 e 2001, o número de habitantes na região cresceu 164%, o que, segundo Sílvio, reforça ainda mais a importância de se obedecer aos limites da reserva. Atualmente três áreas edificadas oferecem riscos à Estação de Carijós por estarem dentro dos limites da reserva ou muito próximas. Essas residências estão localizadas em Sambaqui, Daniela e Jurerê.

Para os técnicos, período é de atenção

Entre os meses de janeiro e abril, o caranguejo-uçá, ou simplesmente catanhão, deixa suas tocas para buscar um par para o acasalamento. Esse período também é de especial atenção para os técnicos da reserva. “Ocaranguejo é muito comercializado em outras regiões. Barcos vêm de longe para caçá-los”, revela Sílvio de Souza.

A pesca amadora também é ilegal nos limites de Carijós. “É crime ambiental, fazemos rondas e quando pegamos alguém pescando dentro do parque apreendemos os petrechos e autuamos o responsável em flagrante. Alguns pescadores insistem em jogar redes na boca da barra do Ratones”, conta. Os produtos apreendidos são levados para a sede e destruídos.

Espécies exóticas da fauna e flora também interferem no equilíbrio ambiental da região. “No verão o jambolão com suas copas grandes faz muita sombra, e atrapalha no crescimento da vegetação rasteira”, aponta Sílvio.

Areserva ainda sofreu sério risco de ter sua rotina influenciada pela construção de um estaleiro na cidade de Biguaçu, que fica do outro lado da baía Norte. Oempreendimento do milionário Eike Batista ainda estava em fase de licenciamento quando o projeto foi levado para outro local, em novembro de 2010. Aconstrução do estaleiro, segundo especialistas, poderia comprometer a reprodução de espécies e até mesmo culminar no fim da pesca na baía.

Zenóbia, a ilustre moradora

Silvio de Souza alerta que, infelizmente, as espécies não sabem até onde ficam os limites do parque, o que torna impossível, por exemplo, impedir um sanhaçu-de-asa-branca de bater asas para além dos 619 hectares da reserva — a área do polígono descrevendo a estação equivale a 759,33 hectares. No entorno dos limites da Estação é que também vive um jacaré-de-papo-amarelo.

Zenóbia, como é chamada a fêmea, tem endereço fixo, e desde 1997 vive na Quadra 6, Avenida das Palmeiras, no balneário da Daniela. Atualmente o local é considerado Área de Preservação Permanente e também é conhecido como Posto Avançado das Saracuras – Refúgio dos Jacarés. Antes, os 1.500 m² de bolsão de mangue eram usados como lixão. “Muitos jacarés circulam pela região, eles dependem da reserva para viver e se reproduzirem, mas acabam também saindo da área da Estação e encontrando outros refúgios”, explica.

Em 1995, moradores avistaram dois jacarés em meio ao lixão e resolveram limpar o local. Dois anos depois Zenóbia apareceu. Choca, em março de 1998 nasceram 15 filhotes de jacarés. Desses, dez filhotes foram soltos nos limites da reserva. Zenóbia, anos depois, também voltou para Carijós com os cinco filhotes restantes, mas nunca abandonou o Refúgio dos Jacarés, e hoje vive solitária e majestosa no lugar. Anfitriã ilustre.

Lontra: Em 1999, um macho adulto de lontra foi atropelado ao tentar atravessar a rodovia SC 402, demonstrando o efeito perturbador da proximidade de rodovias nos limites da ESEC. Apele e o crânio do animal encontram-se depositados na Coleção de Mamíferos da Universidade Federal de Santa Catarina.

Avifauna

Estudos realizados entre 2002 e 2003 observaram e registraram 148 tipos diferentes de aves, que representam 25,2% da avifauna do Estado. Santa Catarina tem ocorrência de 596 espécies. AIlha abriga 268.

(ND, 24/01/2013)

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