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Moradores de rua intensificam a violência no Centro de Florianópolis

O Centro tem duas faces. Durante o dia, os principais registros na 1°DP (Delegacia de Polícia) são perdas de documentos e turistas lesados pela rapidez dos batedores de carteira. À noite, a violência ganha forma – sobe pelos telhados, apedreja lojas, saqueia mercadorias, assalta, agride e consome o que arrecada nas bocas de crack. Desde o início do ano – há oito dias – foram mais de duas mil ocorrências.

Para o Comandante do 4° Batalhão da Polícia Militar, Araújo Gomes, os pivôs da criminalidade no bairro central de Florianópolis são os moradores de rua. Dados das secretarias de Assistência Social e do Planejamento Urbano indicam que 500 pessoas vivam dessa forma. O número flutua de acordo com as migrações. A tendência é o calor e a facilidade de esmolar os turistas atraírem outros desabrigados para cidade.

O perfil dos sem-teto foi traçado pela PM. Na maioria, são viciados em pedra ou álcool, há doentes mentais e os chamados “sociais”, condenados à miséria por infortúnios – é o grupo que aceita se submeter às regras do Albergue da Maçonaria, na Av. Hercílio Luz, reaberto no final do ano passado e com capacidade para 30 pessoas.

Mas, foram os consumidores de crack que transformaram a arquitetura criminosa da cidade, de acordo com Araújo Gomes. A fissura pela pedra não espera. Os crimes são praticados próximos ao local de abrigo – diferente da prática habitual, que afasta os delinquentes das moradas.

No Centro, a população de rua se abriga nas escadarias da Catedral, na Praça 15 de Novembro, no Terminal Cidade Florianópolis, no Largo da Alfândega e alguns casarões abandonados – que veem sendo fechados. Até o momento, foram 11.

Escuras e desertas, as áreas próximas alardeiam perigo. O Parque da Luz e abaixo do viaduto da José Mendes, na Prainha, são as zonas de luz vermelha para PM.

As mãos atadas da PM

O vicio em drogas não é crime. Não cabe a polícia combatê-lo. Cabe aos programas sociais. Em Florianópolis há o Creas POP (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População em Situação de Rua), e a Abordagem de Rua-nenhum das instituições foi criada com o propósito de tratar dependentes químicos.

Os casos de prisões são regidos por divergências. A Polícia Militar só age nos flagrantes. “Estamos com as mãos atadas”, afirma Araújo Gomes. Já a Polícia Civil conduz as investigações. Mas as detenções esbarram na legislação.

Na constituição brasileira, furto é configurado como crime afiançável e a condição de réu primário é mantida. Impera o jogo do prende e solta. “Já prendi caras com 30 passagens pela polícia, que foram soltos no mesmo dia”, afirma Araújo.

A soltura foi o resultado das 108 prisões, feitas pelo 4° Batalhão em 2012.

Arquitetura do crime

São erros urbanísticos que alimentam o crime, analisa Araújo Gomes. O principal é o desequilíbrio das ocupações – conhecido como “purismo”. Ladrões infestam o bairro Santa Mônica durante o dia. Com perfil residencial, os moradores só voltam para casa à noite. No Centro, a lógica é inversa. Há mais comércio que residências. Quando restaurantes, lojas e bares fecham suas portas, a terra é de ninguém.

À meia-noite, as 72 câmeras da Central de Monitoramento da Polícia Militar registram o vai e vem de uma multidão antes recolhida nos seus mocós. Saques, brigas, arruaças. Os três postos da polícia pouco amenizar a marcha descontrolada e impune.

(ND, 09/01/2013)

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