DC teve acesso à cópia do relatório de vigilância da subestação onde foi alertado, em 19 de novembro, sobre o derramamento
A Celesc e outras entidades afirmam ter conhecimento há apenas um mês sobre o vazamento de óleo na subestação da estatal na Tapera, Sul da Ilha. Mas o livro de ocorrências dos vigilantes da empresa Ondrepsb, que cuida do terreno, alertou sobre o problema bem antes da data em que foram tomadas as primeiras providências para minimizar os impactos. O DC teve acesso à cópia do relatório.
Em 19 de novembro, um dos vigilantes da empresa terceirizada escreveu: “Entrou um elemento na subestação e furtou duas peças do transformador, daí ficou vazando todo o óleo do mesmo”. Esse produto, segundo análise solicitada pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma), contém ascarel, uma substância cancerígena que fez a entidade embargar a extração de moluscos em mais de 730 hectares de mar no Sul da Ilha na semana passada. Para piorar, o vazamento contribuiu para que a Justiça Federal interditasse o cultivo na Grande Florianópolis exigindo estudo de impacto ambiental. A região representa 75% da maricultura em SC, que lidera a produção no país.
Questionada sobre o registro do vigia, a Celesc, por meio da assessoria de imprensa, reafirmou que só soube do vazamento em 19 de dezembro por causa da notificação da Fundação de Meio Ambiente (Fatma) e justificou que a estatal não teve acesso ao livro de ocorrências no período.
A Celesc ainda garante que o óleo dos transformadores não continha o produto, e sim traços de um dos seus componentes. “O óleo que vazou dos transformadores em questão não era ascarel e sim um tipo mineral isolante, com traços de PCB (bifenilos policlorados, um composto encontrado em grande concentração no ascarel)”, afirma em nota oficial.
O Departamento de Vigilância da Ondrepsb informou que geralmente os profissionais da empresa passam as informações do registro de ponto para servidores da UFSC, mesmo sendo a Celesc a contratada. Isso porque a área está em processo de permuta da estatal para a instituição de ensino.
O procurador da UFSC, Cesar Azambuja, não foi encontrado ontem para comentar o assunto. Mas durante a semana, argumentou que, como não houve a efetivação da permuta, a área continua pertencendo à Celesc.
Ele afirmou que a estatal teria sido comunicada pelos vigilantes. Também disse que os servidores da UFSC perceberam o problema quando o óleo já estava contaminando o terreno da Fazenda Ressacada e teria sido feita a comunicação à Celesc.
(DC, 19/01/2013)
Polícia Federal abre inquérito
A Polícia Federal esteve ontem na subestação para recolher amostras do óleo no transformador, no mangue e na água do mar para confirmar se existe a contaminação. Foi aberto inquérito para investigar a autoria do vazamento, apurar a responsabilidade e se o problema atingiu o mar, considerado bem da União.
De acordo com o chefe do Núcleo de Operações da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, Carlos Eduardo Costa, as investigações apontam que a UFSC teria encaminhado ofícios antes do dia 19 de dezembro, quando o Corpo de Bombeiros começou a conter o óleo no canal de drenagem. O aviso teria sido encaminhado à Celesc, Fatma e Vigilância Sanitária.
Além disso, Costa informou que foi registrado um vazamento anterior, de menor proporção, em outro aparelho, em 5 de novembro.
– Estão verificando de quem é o terreno e se já houve a permuta. Mas os equipamentos são da Celesc e existe a possibilidade de responsabilidade compartilhada – afirmou.
Em nota, a Celesc informou que a transferência da propriedade no registro imobiliário ainda não ocorreu.
Outras entidades públicas buscam reverter a decisão do juiz da Justiça Federal Marcelo Krás Borges, que interditou a extração de molucos na Grande Florianópolis por falta de um estudo de impacto. A Fatma informou que entrou, ontem, com um pedido de reconsideração da decisão. Borges marcou para segunda-feira, às 14h, uma audiência de conciliação.
(DC, 19/01/2013)
Há 13 anos, outro caso
No início de fevereiro de 1990, 12 galões de 20 litros contendo óleo ascarel foram localizados num ferro velho, em São José. O proprietário do local foi intoxicado ao passar o líquido no corpo por achar que seria um tratamento eficaz contra o reumatismo. O homem teve várias feridas na pele. A denúncia foi levantada pela promotoria do Fórum de São José, por entender que se tratava de um caso de ação pública.
(DC, 19/01/2013)
Vazamento: perguntas sem respostas
Da coluna de Moacir Pereira (DC, 20/01/2013)
Impossível calcular, por enquanto, os graves prejuízos ecológicos, econômicos e sociais desta irresponsabilidade que resultou em grave crime ambiental, com o vazamento de óleo com produto cancerígeno no Sul da Ilha de Santa Catarina. Tudo com origem em um transformador da Celesc, abandonado em uma área transferida à Universidade Federal de Santa Catarina. Perguntas que precisam de respostas:
1 – A UFSC foi avisada do vazamento pelo vigilante em 19 de novembro. Por que só em 20 de dezembro a Reitoria comunicou a gravíssima ocorrência à Celesc?
2 – A Celesc tem outros transformadores com tóxicos abandonados espalhados pelo interior de SC?
3 – A retirada do óleo foi feita de forma amadora, segundo especialistas. Ainda há resíduos sólidos na vegetação contaminada pelo óleo. Por quê?
4 – Por que o armazenamento de 40 mil litros de óleo ocorreu de forma inadequada e sem segurança?
5 – Os transformadores que estavam na área foram abandonados ou doados à UFSC?
6 – Por que não houve análise dos frutos do mar ainda em 2012, quando o vazamento foi detectado?
7 – E a proteção a quem consumiu ostras nos últimos 60 dias, se pelo laudo confirmar contaminação?
8 – Quem vai responder civil e criminalmente pelos prejuízos causados: a UFSC ou a Celesc?
9 – A UFSC ou Celesc pagarão lucros cessantes aos criadores e comerciantes prejudicados?
No triste episódio apenas uma única esperança. Não pode terminar em pizza
Área contaminada no Sul da Ilha está sujeita a novo dano ambiental em Florianópolis
O caminho até os dois transformadores da Celesc de onde vazaram 12 mil litros de óleo permanece liberado. No domingo, a equipe do Notícias do Dia circulou pelo terreno na Tapera, no Sul da Ilha, sem ser incomodada por ninguém. No local ainda há um balde com o líquido, que contém resquícios da substância cancerígena conhecida como ascarel, e caixas de fibra com 70 mil litros de água contaminada recolhidos do córrego afetado pelo incidente em novembro.
Tranquilo, como um passeio no campo. Assim é caminhar pelo terreno do antigo centro de treinamento da estatal. Em 30 minutos foi possível entrar no terreno por três locais diferentes: dois portões escancarados e um buraco pela cerca de tela. Apenas uma única vez a vigilância foi avistada. De longe, o guarda olhou para o local onde a água drenada do córrego foi armazenada em sete caixas de fibra, cada uma com 10 mil litros.
O alerta para a falta de segurança foi do maricultor Adécio Romalino da Cunha, 60 anos. Ele foi ao local quatro vezes após a descoberta do crime ambiental, sem que ninguém questionasse a presença dele. “Estou apavorado com a situação. Se mexeram em um transformador de aço, qualquer um pode quebrar uma caixa de fibra e tudo voltar para o córrego”, avisou.
Pelo menos nove litros do óleo podem entrar em contato com o meio ambiente a qualquer momento. O produto está em um balde que apara o líquido que escorre lentamente dos transformadores. Se chover, o recipiente pode transbordar. Por meio da assessoria de comunicação, a direção da Celesc informou que a área foi isolada pela Polícia Federal e que a segurança foi reforçada. E que a falha será investigada.
Protesto e audiência
Maricultores de Florianópolis e região participam de uma audiência conciliatória hoje, às 14h. Eles tentam a liberação do cultivo e venda do molusco suspensos pelo juiz Marcelo Krás Borges. A Fatma embargou uma área de 730 hectares no Sul da Ilha. A decisão de Borges foi mais dura: determinou a interdição na Grande Florianópolis. No domingo, o magistrado recebeu apoio da Ajufesc (Associação dos Juízes Federais do Estado de Santa Catarina). Em nota, o presidente Vilian Bollman defendeu a iniciativa de Borges no caso.
Trabalhadores da Tapera e do Ribeirão da Ilha esperam chegar à audiência com apoio popular. Às 9h, fazem uma manifestação no Centro. O objetivo é chamar atenção para os prejuízos causados pela paralisação.
(ND, 21/01/2013)
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1 Comentário
A dois anos foi desativado o centro de treinamento (CeFa) da celesc que já foi modelo para o Brasil como centro de treinamento, a anos atras recebia eletricistas de todo o Brasil para capacitação. Apos acionista da celesc não verem lucro em mante-lo ,junto com o governo do estado dissidiram doá lo a UFSC. Agora terão o lucro pelo descaso, pena que depois quem paga pela sujeira que fizeram é o povo e os funcionários da celesc que tentam manter a empresa sustentável