Durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, na noite desta segunda-feira, o deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB) afirmou que a Ilha do Arvoredo é a “galinha dos ovos de ouro para o turismo”. A afirmação foi feita durante o debate sobre a transformação da Reserva Ambiental Marinha do Arvoredo para parque nacional.
Segundo o deputado a Ilha deveria ser usada no desenvolvimento do turismo em Santa Catarina. O deputado Esperidião Amin, autor do projeto que muda a classificação da Ilha, destacou que, diferente de quando o local foi definido como reserva, desta vez a decisão vai ser tomada de forma democrática, com a opinião da população.
A professora Alessandra da Fonseca, representante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) explicou que a instituição considera reserva e parque algo completamente diferente e que a mudança irá comprometer a biodiversidade da região. Alessandra falou ainda que a universidade espera que a decisão seja tomada com base em conhecimento científico e que a UFSC tem esse conhecimento para oferecer.
No meio dessa discussão, a Instituto Chico Mendes (ICMBio) se propôs a fazer uma analise técnica do projeto de lei. De acordo com o Diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação, Pedro Cunha de Menezes, a instituição não abre mão da preservação da Ilha, mas considera viável que, enquanto parque, esta preservação pode ser garantida.
— Como parque, aquela região irá gerar empregos e renda e, com isso, vai ter um envolvimento maior da população que deve contribuir com a preservação do lugar.
Vinte e dois anos
A reserva, que tem uma área de 16 mil campos de futebol, foi oficializada como reserva por decreto em 12 de março 1990, pelo então presidente José Sarney. Para alterar o texto, apenas com um projeto de lei. Esta é a terceira vez que a mudança é proposta.
Da maneira como é, a reserva determina a preservação total dos recursos naturais, com a proibição da visitação pública, exceto para pesquisas e educação ambiental. Uma área ao sudoeste da Ilha permite mergulhos. O parque nacional permitiria atividades de recreação, educacionais e de turismo ecológicos. Nos dois casos, pesca e construções ficam proibidas e qualquer intervenção deve considerar a manutenção dos ecossistemas.
Vantagens
• As operadoras de mergulho poderiam auxiliar na fiscalização do parque.
• Conhecendo o parque, os visitantes perceberiam a importância de preservar os recursos naturais.
• Mergulhadores e as operadoras contribuiriam para a retirada de lixo que chega com a corrente.
• Os valores arrecadados ajudariam na manutenção Seria o último grande ponto de mergulho do Sul.
Desvantagens
• Não há um estudo detalhado dos impactos sobre a presença humana na área.
• Há formações de bancos de corais e de algas calcárias que poderiam ser destruídas com a batida de nadadeira de um mergulhador inexperiente.
• São muitos os pontos com restrições biológicas.
• O acesso à parte terrestre é difícil, com muitas rochas e inclinações.
Da exploração à preservação
Nas décadas de 1950 e 1960, a área da atual reserva era muito explorada. Eram apturados centenas de quilos, em um dia, de peixes mero e tubarões-mangonas. Apesar da oficialização como reserva, em 1990, a fiscalização pelos órgãos ambientais não conseguia coibir os infratores.
A partir de 1997, começaram a se intensificar as pesquisas na região. Nessa época, foram colocadas algumas âncoras fixas no fundo, que seriam amarradas em boias e poderiam evitar o impacto de âncoras móveis no fundo da reserva. O plano de manejo da reserva foi concluído em 2004, estabelecendo as zonas que não podem receber visitação e as que suportam a pesquisa ou mesmo o mergulho para educação ambiental.
Curiosidade
A Ilha do Arvoredo serviu como porto de chegada, no fim do século 18, para os contrabandos de mercadorias trazidas por holandeses para abastecer Florianópolis. Eram tecidos finos, tapetes, vinhos, lâmpadas, leques, gravatas, luvas, louças. Para chegar à Capital, as mercadorias eram deixadas na Ilha do Arvoredo à noite. Na noite seguinte, barcos saíam da localidade de Ponta das Canas, Norte da Ilha, para buscar o contrabando. Abastecidos, os barcos voltavam na outra noite.
(DC, 10/07/2012)
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