A coleta de lixo está mais uma vez ameaçada na Capital. Os trabalhadores da Comcap (Companhia Melhoramentos da Capital) reúnem-se nesta quarta-feira, 27, às 7h, para discutir as atuais condições da trabalho da categoria e não descartam entrar em estado de greve. A diretoria do Sintrasem (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal) acredita que uma paralisação pode começar na próxima semana.
O presidente da Comcap, Marius Bagnati, admitiu que a empresa passa por situação financeira difícil. “Infelizmente, 87% do orçamento da empresa, destinado pela prefeitura, está na folha de pagamento. Não sobra muito para investimentos. O controle rigoroso de gastos, no entanto, não influencia na qualidade do serviço”, garantiu.
Porém, um dos descontentamentos dos profissionais da Comcap está relacionado ao descumprimento do acordo coletivo pela empresa. De acordo com Márcio Bittencourt do Nascimento, diretor do Sintrasem, não foram adquiridos os três novos caminhões que constavam no documento. “Eles tinham até abril para fazer a compra. Também deveriam adquirir um equipamento para retirar os pneus dos caminhões até maio, mas não abriram licitação”, afirmou. Enquanto isso, os trabalhadores reclamam da frota que faz a coleta.
Bagnati não soube informar a idade média dos veículos, mas no terreno da Comcap é possível ver caminhões antigos e novos. “Não há falta de caminhões agora, já que estamos na baixa temporada. Vamos comprar os caminhões mais para o final do ano”, justificou.
Segundo nota encaminhada pela Comcap, entre 2005 e 2012 a Prefeitura de Florianópolis investiu R$ 7,3 milhões na compra de equipamentos e na manutenção de benfeitorias da empresa. A renovação da frota absorveu R$ 5,6 milhões desse total. Em oito anos, foram adquiridos 17 caminhões compactadores mais três equipamentos compactadores, um caminhão baú e quatro utilitários para a coleta seletiva.
Empresa garante 13º e agasalhos
Além da questão da frota, a categoria está insegura, porque no mês passado recebeu o vale transporte com cinco dias de atraso. “O 13º salário também deveria ter caído na conta dos trabalhadores. Mas a empresa tem até o dia 30 deste mês para depositar”, explicou o diretor do sindicato, Márcio Bittencourt do Nascimento.
Marius Bagnati, presidente da Comcap, garantiu que o 13º salário será depositado até o prazo e que não haverá atrasos no vale transporte. “O atraso aconteceu na época em que houve greve no transporte coletivo. Sendo assim, não causou nenhum dano para os trabalhadores”, relatou. Outra reivindicação da categoria seria a falta de agasalhos para funcionários novos, mas Bagnati garantiu que a empresa comprou 600 agasalhos que devem chegar em breve.
Garis reclamam da falta de estrutura
No meio do Monte Cristo, o caminhão da Comcap sofre para acessar as ruas estreitas cheias de sacolas de lixo. O motorista do veículo, que não quis se identificar, reclama da precariedade, do barulho alto, do chorume que vaza para fora enquanto o lixo é compactado. Ele já teve que pedir licença do serviço por danos nas costas, causadas por seis horas de trabalho no caminhão desconfortável, com documento de 1981.
Para os garis, a situação também é difícil. Recolhem o lixo em área de risco enquanto reclamam do veículo sucateado, cheio de ferrugens. “Esse ano não veio moletom para os mais novos, falta até combustível para os caminhões. Houve atraso no vale transporte e decumprimento do acordo. Faltam investimentos e isso acaba com o serviço”, comentou João Carlos da Silva, 42 anos, dez deles como gari da Comcap.
Apesar das dificuldades, João Carlos garantiu que quer ficar mais dez anos na posição. “Imagina se quebra o caminhão no morro, ou se falta freio. Estamos pedindo o mínimo para poder trabalhar”, desabafou.
(ND, 26/06/2012)