De todos os pontos irregulares de despejo de lixo, a maior quantidade está na região continental: mais de 80% deles. A razão, segundo o gerente de remoção da Comcap, Marcelo Viana, é a proximidade com as cidades vizinhas:
— Vem muito lixo de lá também — conta.
O secretário municipal do Continente, Deglaber Goulart, explica que a única alternativa que resta à prefeitura é a limpeza semanal desses locais. Segundo ele, nem mesmo a fiscalização acaba tendo o efeito desejado, já que esbarra na própria legislação: não há, hoje, nenhuma lei que permita uma intimação, multa ou processo contra quem é flagrado sujando estes locais.
Inexistência de punição atrapalha
Em outras palavras, o caminho está livre para a imundície: aos olhos da lei, o problema não é considerado depredação, como as pichações:
— Ficamos de mãos amarradas. Já tentamos cercar alguns desses terrenos, mas os próprios moradores acabam por arrebentar, jogar lixo por cima, estragar. Manter limpo, é nossa obrigação.
Lixeiras
As caixas e lixeiras comunitárias que a Comcap usa não ajudam muito. Pelo contrário: viram um ponto de referência, onde todo o lixo, incluindo o pesado, é misturado: “Se coloca a lixeira para lixo comum, eles jogam madeira, sofá. No Morro do 25, na Agronômica, onde a gente já chegou a ser expulso por traficantes, o problema só foi resolvido com a retirada da lixeira”, conta o encarregado da Comcap Ricardo Alexandre Nunes.
Doenças
Um lixão na frente de casa pode representar risco à saúde. Segundo a gerente de Vigilância de Zoonoses do Estado, Suzana Zeccer, essa condição é um forma de atrair ratos e baratas – causadores de doenças, como a leptospirose. E ainda há outros: escorpiões, cobras e até urubus são adeptos desses lugares: “Um lixão por perto é um passo para uma cadeia da doenças”. Na Capital, a reportagem achou lixo atrás de hospitais e postos de saúde.
Problema é mistura de resíduos
A Comcap chega a gastar cerca de R$ 35 mil por mês em recolhimento e transporte destes entulhos até o destino final, em Biguaçu. São restos de obras, de poda, móveis, eletrodomésticos, alimentos e animais mortos que acabam enterrados juntos, como lixo comum.
— Quando está tudo misturado, é impossível de fazer uma triagem dos materiais. Vira uma bola de neve — conta o gerente do departamento de limpeza pública da Comcap, Bruno Vieira Luiz.
Em qualquer canto da cidade
Segundo a Comcap, mais da metade dos pontos de despejo de lixo são ruas e calçadas. O trabalho de recolhimento dos despejos nestas situações entrou no mapa de atividades da companhia. Toda semana, uma equipe se dedica a passar três dias consecutivos só retirando da rua o lixo pesado, que não faz parte do recolhimento comum.
— Qualquer canto, hoje, serve e parece ter potencial para virar um lixão a céu aberto — confirma Ricardo Alexandre Nunes, que é o encarregado da Comcap para a remoção de resíduos sólidos do Continente e do Centro de Florianópolis.
Solução começa pelo Monte Cristo
De todos os pontos de despejo irregular na Capital, até pouco tempo, mais da metade vinha do Monte Cristo, no Continente. Toda semana, quatro das maiores caçambas da frota da Comcap saíam do bairro carregadas com mais de 40 toneladas de lixo, acumulados próximo ao centro de reciclagem. O custo da Comcap era de R$ 14 mil mês, agora, não passa de R$ 2,8 mil.
É que, no mês passado, o bairro recebeu o primeiro Posto de Entrega Voluntária (PEV) da Capital – o que reduziu em 80% a quantidade de lixo. E a ideia é simples: um terreno é dividido por muros para separar o tipo de lixo. A organização facilita o recolhimento e permite o reaproveitamento pelos moradores.
— O que não serve para um, serve para o outro. Os detritos ficam mais limpos — conta o gerente de remoção da Comcap, Marcelo Viana.
Separação
A reciclagem é feita de maneira correta e imediata – a madeira é reciclada, e o entulho é reutilizado como aterro. Os restos de poda vão para a compostagem e os móveis de ferro viram doação para catadores. Só os sofás e os colchões, que quando não têm saída, acabam sendo enterrados como lixo comum. A maioria dos entulhos é aproveitada pelos moradores da área.
(Sâmia Frantz, DC, 03/04/2012)
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