A reciclagem é um trabalho essencial. Em Florianópolis, o serviço de coleta seletiva é feito pela Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital) desde 1994. Mesmo oferecendo a coleta seletiva, a Comcap idealiza um projeto de expansão no cuidado com o lixo, que deve operar completamente até 2015, por causa do PNRS (Plano Nacional de Resíduos Sólidos), aprovado em 2010 depois de 20 anos de discussões.
O plano é ousado e projeta ampliar em 250% a coleta do lixo seco. No caso de Florianópolis, só o recolhimento do lixo seco feito pela coleta seletiva que, em 2010, foi de 9 mil toneladas, deve passar para 32,6 mil toneladas. A intenção é organizar, trazer um novo olhar sobre a forma como o Brasil trata o lixo e motivar a reciclagem e sustentabilidade. Todas as cidades do Brasil serão obrigadas a implantar a coleta seletiva e 70% de todo o lixo deve ser reciclado, tanto o seco quanto o orgânico.
Para ampliar a reciclagem e atingir as metas do PNRS, a Comcap tem um projeto ousado, que pretende mudar radicalmente a forma de encarar o lixo na cidade. O projeto deve operar 100% apenas em 2015, mas algumas mudanças já devem começar neste semestre. “Hoje, o lixo é um problema para o município. Com esse novo plano, queremos reverter essa situação e fazer dos resíduos uma fonte de riqueza”, explicou o presidente da Comcap, Marius Bagnati.
Como funciona a coleta na cidade
Hoje, o sistema de coleta seletiva da Capital atende 90% da população: 70% dos moradores são atendidos em domicílio e 20% pelos sistemas de lixeira comunitária, no qual devem levar os resíduos a pontos de coleta distantes no máximo um quilômetro da residência porque o caminhão tem dificuldade de acesso.
O material reciclado é encaminhado para um galpão anexo ao Centro de Triagem no Itacorubi e doado para duas cooperativas: a Associação dos Coletores de Materiais Recicláveis e a Associação de Recicladores Esperança. A coleta seletiva é feita, diariamente, no Centro; duas vezes por semana no Continente; e uma vez por semana na maioria dos bairros.
A professora aposentada Suely Mortimer mora no bairro Agronômica e separa o lixo desde que existe a coleta seletiva em Florianópolis. Ela separa o vidro, do restante do lixo seco e o óleo de cozinha usado. O orgânico é usado como adubo em um canteiro que tem em casa. “O problema não é reciclar, mas produzir menos lixo. Primeiro, temos que ter consciência, depois precisamos de infraestrutura para colocar em prática, Acho interessante que o poder público dê estrutura para que funcione bem”, afirmou Suely.
No Mont Serrat, os moradores reclamam da falta de espaço para reciclar. Como o caminhão não sobe em todas as ruas, eles usam uma lixeira comunitária. Todo o lixo é colocado em uma caçamba . Paulo Nascimento, 25; André da Silva, 19; e Luiz Fernando da Silva, 16, moram na comunidade desde que nasceram e dizem que a coleta seletiva não funciona ali. “Não conheço ninguém aqui que separe o lixo. Seria melhor se tivesse pelo menos mais uma lixeira”, disse André. Luiz Fernando conhece a reciclagem, acha importante, mas também não faz. “Na verdade, só falta alguém começar, tomar a iniciativa”, afirmou.
Cobrança no IPTU deve mudar
O primeiro passo no novo projeto da Comcap é fazer um estudo para a readequação na cobrança da taxa do lixo no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), que hoje varia de acordo com a periodicidade da coleta e metragem da casa ou estabelecimento. A coleta de lixo também será diferente. A Comcap pretende instalar contâineres para a coleta exclusiva de vidro. Os primeiros serão colocados em postos de gasolina, supermercados e próximo a bares e restaurantes.
No segundo semestre deste ano, a separação dos resíduos deverá ser feita em três partes: reciclado seco, reciclado úmido orgânico e rejeito. Dessa forma, o que é lixo e não pode ser reaproveitado como lixo sanitário, por exemplo, será descartado. O resíduo orgânico deve ter três destinos: ir para biodigestores, minhocários e pátios de compostagem.
Há projetos para organizar pequenas cooperativas e implantar a coleta seletiva nas comunidades do maciço do morro da Cruz. Além disso, serão criados polos de reciclagem para transformar o resíduo em matéria-prima pronta para indústrias e sete ilhas ecológicas, chamadas de PEV (Pontos de Entrega Voluntária) em que o morador leva restos de jardim (folhas, galhos, podas) e materiais de reforma. Para grandes produtores haverá dois aterros para revalorizar os materiais de construção civil, principalmente para resíduos de poda e capina.
Os comerciantes e indústrias também deverão se adaptar e pôr em prática a logística reversa. Se um cidadão vai a uma loja comprar um fogão, por exemplo, a empresa que vende o fogão deverá recolher o fogão antigo dele. “Estamos preparando uma geração futura da cidade. É um processo longo, mas a cidade está preparada. Antes tinha que convencer a sociedade da importância da reciclagem. Hoje, é uma questão de mudar hábitos”, afirmou Bagnati.
Investimento chegaria a R$ 8 milhões
De acordo com o presidente da Comcap, cada uma das ilhas ecológicas, ou PEVs, exige investimento em torno de R$1 milhão. A coleta diferenciada de vidro exigiria a instalação de, no mínimo, 100 contentores, ao custo de R$ 2 mil cada. Com isso, seriam R$ 200 mil custeados pelo município, mais R$ 600 mil para aquisição de dois caminhões coletores especiais.
O investimento total ficaria em cerca de R$ 8milhões, sendo que R$ 1,2 milhão do PEV do Continente já foi viabilizado pela Funasa, e o PEV do Itacorubi está praticamente pronto. O presidente da Comcap já teve audiências nos Ministérios das Cidades e do Meio Ambiente e apresentou projetos para a captação de recursos.
Fique por dentro
O número de material coletado tem aumentado nos últimos anos, segundo a Comcap. Em dezembro de 2011, foram recolhidas 1.160 toneladas de material reciclado, quase o mesmo volume do coletado em todo o ano de 2005.
Coleta seletiva nos últimos dez anos, em toneladas
2002 – 2.464
2003 – 1.594
2004 – 1.243
2005 – 1.178
2006 – 1.760
2007 – 1.832
2008 – 2.001
2009 – 5.354
2010 – 7.565
2011 – 9.837
(Letícia Mathias, ND, 31/03/2012)
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