Em outubro do ano passado, a equipe do jornal Notícias do Dia percorreu 10 escolas estaduais da Grande Florianópolis. Destas, cinco eram consideradas pela SDR (Secretaria de Desenvolvimento Regional) como as mais preocupantes quando o assunto é estrutura escolar; as outras cinco, as melhores em estrutura e atendimento pedagógico. Cinco meses depois, e com a volta às aulas, a equipe retornou às cinco escolas tidas como mais problemáticas. A realidade não mudou muito. E até piorou, como é o caso da Escola Estadual Cristo Rei, em São José, onde os estudantes só puderam retornar às aulas no dia 1º deste mês, já que a instituição esteve interditada pela Defesa Civil.
Nem a diretora Maria Cristina Valente estava autorizada a entrar na escola antes da liberação. Estava interditada desde 15 de dezembro, quando começaram as reformas no telhado, na rede elétrica e na pintura. Pais preocupados com a situação precária da estrutura denunciaram o descaso ao órgão municipal. O resultado da reclamação foi a continuidade das aulas em dezembro e janeiro de forma improvisada na igreja do bairro. “A reforma está quase pronta. Já não chove mais dentro”, contou a diretora, que não pôde nem chamar os professores com antecedência para organizar o calendário.
“Com o atraso, já sabemos que os alunos não terão férias em julho”, anunciou a diretora. Apesar de não ter recebido os alunos, a diretora ao menos pode comemorar que, com a rede elétrica nova não será mais necessário deixar computadores encaixotados. Até antes da reforma, além das salas de aula que alagavam com qualquer chuva, os estudantes não podiam usar os computadores devido à rede elétrica frágil, que não suportava mais de uma máquina ligada ao mesmo tempo.
Alunos põem a mão na massa
Para conseguir utilizar o ginásio, os estudantes da Escola Estadual Maria do Carmo Lopes, no bairro Serraria, em São José, precisam colocar a mão na massa. Com o telhado recuperado, os alunos decidiram ajudar a retirar os montes de livros e outros materiais acumulados no ginásio, que até o ano passado estava interditado por apresentar risco em quatro vigas de sustentação. “Todas foram trocadas. Agora só precisamos fazer alguns reparos nas redes para que os alunos voltem a fazer atividades no ginásio”, pontuou o auxiliar de direção Ailton de Souza.
Na visita feita à escola pelo Notícias do Dia, no mês de outubro, os estudantes das séries iniciais tinham aulas em salas improvisadas dentro de um posto de saúde desativado. “Era muito complicado, não tinha como exigir concentração dos alunos em lugar apertado”, comentou a professora da 2ª série, Maria de Fátima, que agora foi transferida para uma sala totalmente reformada, sem goteiras e com ar-condicionado. “Essa ala precisou ser fechada em 2011 porque o teto cedeu. Mas, apesar da reforma, ainda temos problema de goteiras em uma das salas”, reclamou Ailton, que já cobrou da empreiteira responsável pela obra para fazer o conserto. “Não vamos assinar o pagamento à construtora se tudo não estiver perfeito. É dinheiro público que está sendo investido”, pontuou o auxiliar de direção.
Mesmo com as melhorias em uma parte da escola, a direção sofre com a falta de espaço. Há um projeto para construir mais três salas de aula, já que a biblioteca, sala de vídeo e sala de informática precisaram ser improvisadas em um mesmo ambiente. “Não conseguimos oferecer projetos extra-curriculares, como o Mais Educação, porque não temos espaço para isso”, lamentou Ailton, que precisou improvisar uma classe de correção de fluxo no lugar onde deveria ser colocada a biblioteca. Em um cubículo com apenas uma janela estudam 25 alunos.
Ginásio e informática são sonhos
O ano começou bem diferente para os estudantes da Escola Estadual Laurita Dutra de Souza, no bairro Picadas do Sul, em São José. Agora, os estudantes podem pesquisar na biblioteca, lugar que antes da reforma era sala de aula. Os colegas de Vinícius de Farias, da 7ª série, não veem a hora que uma nova professora de informática seja contratada para que eles possam usar os dez computadores, que até o ano passado estavam encaixotados porque a rede elétrica não suportava os equipamentos em uso. “É bem melhor. Assim dá vontade de estudar”, confirmou Vinícius.
Nas salas que no ano passado os alunos precisavam ser retirados em dias de chuva, agora o telhado foi reformado. “É incrível como os pequenos detalhes fazem a diferença. Só em verem o muro pintado os alunos já se sentiram melhor, chegaram no primeiro dia comentando o quanto a escola estava mais bonita”, comemorou a diretora, Maria do Carmo Koerich, que ainda espera por melhorias, com destaque para um ginásio, antigo sonho da comunidade. “Precisamos do ginásio porque a nossa quadra está em situação complicada”, disse a diretora .
Outra reivindicação antiga da escola ainda não realizada é o oferecimento de transporte para os alunos que moram em Palhoça. “Preciso exigir o transporte no Ministério Público, porque a prefeitura de Palhoça não transporta as crianças, alegando que elas estudam em São José. A maior parte desses alunos precisa caminhar mais de meia hora, todos os dias, para ir à escola”, explicou a diretora.
Prioridade é trocar rede elétrica
A escola mais antiga do Sul de Florianópolis, a Escola Estadual Dom Jaime, está com o ginásio reformado. Até o ano passado, os alunos precisavam driblar as poças de água que se acumulavam no piso.
Apesar da melhoria, que se estendeu também para os telhados das salas onde chovia, a direção ainda precisa ponderar o uso de equipamentos eletrônicos. “Nossa urgência, hoje, é a troca da rede elétrica. Não podemos usar todos os computadores, nem instalar os quatro aparelhos de ar-condicionado porque a rede não suporta”, enfatizou a diretora Valdíria dos Santos Sark.
Neste ano a escola também forma a primeira turma de ensino médio, que teve aulas complementares, totalizando 600 horas de estudo a mais do que os outros estudantes, dentro do chamado ensino médio inovador. “Para nós, isso é um marco, porque tivemos que lutar para garantir as aulas extras aos estudantes. Dependemos até das salas do centro comunitário para receber os alunos”, recordou a diretora. A expectativa é que ainda neste ano seja construído um laboratório de física e química para os estudantes.
Aposta na reformulação pedagógica
Na Escola Estadual Hilda Teodoro Vieira, no bairro Trindade, em Florianópolis, as aulas retomaram com a colocação de um telhado novo e com expectativas de melhorias dentro dos trabalhos pedagógicos. “Ainda neste semestre teremos toda a rede elétrica reformada e também a pintura de toda a escola”, anunciou o diretor Renato Antunes, comemorando o fato de não chover mais nas salas de aula e laboratórios. Para garantir mais conforto aos alunos, o espaço para refeições também será reformado durante o ano.
A grande aposta da escola para o ano letivo de 2012 está na qualidade do ensino. “Vamos trabalhar com a valorização da amizade e com o cuidado com a escola”, apontou o diretor, que quer garantir a continuidade de projetos como a fanfarra e as aulas de música, tradicionais dentro da escola.
Cinco precisam de obras emergenciais
Das 122 escolas estaduais distribuídas na Grande Florianópolis, 75 foram reformadas no ano passado. Destas, cinco entraram o ano escolar com a presença de pedreiros e pintores dividindo espaço com os estudantes. Apesar do investimento de R$ 7 milhões feito em reformas pontuais, como telhados e rede elétrica, o secretário de Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis, Renato Hinning, admite que ainda há muito que fazer. Do total, cinco escolas ainda precisam de reformas emergenciais para este ano letivo.
A secretaria espera por R$ 30 milhões para fazer outras reformas pontuais, como ampliação de salas de aula. “Sabemos de necessidades como a da escola Maria do Carmo Lopes, que precisa de novas salas, mas ainda não temos certeza que toda essa verba será disponibilizada pelo governo”, apontou Hinning. Ele deve se reunir com o novo secretário de Educação, Eduardo Deschamps, na próxima semana para definir os investimentos da SDR.
(Saraga Schiestl, ND, 04/03/2012)
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