A Ponte Hercílio Luz já esteve mais perto do chão. Com a aprovação do projeto de recuperação do monumento histórico através da Lei Rouanet, na semana passada, as esperanças de ver o principal cartão-postal de Florianópolis sem os riscos de um colapso se renovaram. Mas até que a velha ponte esteja integrada ao cotidiano da cidade é preciso muito. Se as obras transcorrerem normalmente, no próximo ano deve ser finalizada a etapa chamada “Ponte Segura”. Até 2014, a estrutura estaria completamente recuperada. Este ano a ponte completou 30 anos de interdição.
Via Lei Rouanet, o MinC (Ministério da Cultura) autorizou o governo do Estado a arrecadar R$ 64 milhões para as obras de recuperação da Hercílio Luz. Nos próximos meses, a ponte se transformará em um canteiro de obras. Enquanto os engenheiros armam a estrutura que sustentará o vão central, a partir de onde serão trocadas todas as barras de olhal corroídas, suspensas as duas torres e trocadas as rótulas enferrujadas que devolverão a velha ponte seu molejo original, projetos sobre o uso futuro do espaço começam a florescer. E propostas é o que não faltam. Durante a sessão que aprovou o projeto de recuperação da ponte foram levantadas hipóteses, inclusive, vindas dos membros do MinC.
O engenheiro e professor Honorato Tomelin, que acompanha a história da ponte há mais de 30 anos, desde os tempos da antiga Escola de Engenharia da Ufsc (Universidade Federal de Santa Catarina), está entusiasmado, mas alerta que será preciso o engajamento da sociedade civil para que a obra seja realmente concluída.
Nesta semana a Secretaria de Estado de Infraestrutura e a Fundação Catarinense de Cultura devem se reunir para discutir estratégias de captação de recursos pela Lei Rouanet. Será definido cronograma dos trabalhos e elaborado material específico destinado às empresas que podem contribuir para a obra por meio de renúncia fiscal.
Notícias do Dia: Porque devemos recuperar a Hercílio Luz? Não é muito investimento?
Honortado Tomelin: Eu acompanho a história da Hercílio Luz há anos. Mas nos últimos tempos houve uma condenação formal da ponte, e, então, resolvi entrar nessa briga. Não é somente a ponte que liga um lado ao outro que está em questão, se fosse isso o Ministério da Cultura não teria vindo à Florianópolis e a ponte já teria outro destino. O que está em jogo é o patrimônio cultural e de engenharia que a ponte carrega nesses seus 86 anos.
Notícias do Dia: Com a aprovação da Lei Rouanet, podemos considerar a ponte salva?
Honorato Tomelin: Sim, mas em partes. Esta verba é suficiente para a conclusão das obras de suspensão do vão central. Esta é uma obra complexa, mas que pode ser concluída em até um ano. Não pode é haver paralisação das obras, nem como no caso da queda de uma das estacas, nem por falta de verba. Enquanto não terminarem esta etapa da obra a ponte ainda está sob o risco de ir parar no fundo do mar.
ND: Quais os caminhos para que este processo ocorra dentro do prazo?
Tomelin: Para que o Estado comece a utilizar as verbas da Lei Rouanet é imprescindível o apoio das empresas. A Celesc é a maior incentivadora via Rouanet de Santa Catarina, por exemplo. Agora depende só de nós. Antes não se tinha verbas para continuar a obra, hoje este já não é mais o problema. Agora é questão de vontade política.
ND: Quais os possíveis usos da ponte após a recuperação?
Tomelin: Eu penso em um uso da ponte estratégico para os próximos 30 anos em três etapas. Nos primeiros 10 anos, a ponte deve servir imediatamente como apoio ao tráfico de veículos. Isso daria uma vazão média de 50 mil carros por dia e uma grande ajuda para a mobilidade de Florianópolis. Nesses 10 anos, imagino que a quarta ligação já estará pronta. Aí entra a segunda etapa, onde o uso poderá ser misto. O espaço poderia ser facilmente usado para espetáculos e servir de passagem para um veículo de transporte em massa, como o metrô de superfície, por exemplo. Nessa fase podemos priorizar a travessia a pé e de bicicletas e transformar a ponte em um local de encontro. Na próxima etapa poderíamos fazer como foi feito na nova Vidal Ramos. Um local turístico e histórico. Ligação entre o passado e o presente de Florianópolis.
ND: Quanto tempo de vida terá a ponte recuperada?
Tomelin: O atual projeto de recuperação já prevê também manutenção desde a execução das obras. Como a ponte será praticamente reconstruída, teremos uma nova ponte que poderá ficar de pé para sempre, desde que se faça manutenção. Lembro que a Hercílio Luz só chegou ao ponto que está porque durante 40 anos não se investiu nada na manutenção da estrutura que fica dentro d’água. As leis da engenharia nos mostram os gastos com manutenção, se feitos desde a execução da obra, custam até 125 vezes menos.
(Fabio Bispo, ND, 20/03/2012)