Pelos trovões que Valdir Vieira dos Santos avistava no mar, no último sábado, ele sabia que não viria coisa boa. – Quando vêm essas tempestades do Sul do Estado, eu já tenho medo – diz.
Ontem, a Defesa Civil comprovou oficialmente o risco que ele, a mulher, os filhos e outras famílias estavam sujeitos nas residências na Servidão Guilhermina Izabel da Costa. Sete casas foram interditadas pela ameaça de deslizamento, ampliada pelas fortes chuvas deste mês.
Moradores da Costeira do Pirajubaé por 13 anos, Valdir, a mulher e os filhos saíram da casa anterior há sete meses, porque era rota de passagem do bairro. Pagaram R$ 5 mil pela moradia onde não podem mais ficar. No último sábado, uma corrente de água e lama se formou ao lado do que era a cozinha. Quem alertou foi a ex-cunhada Lucia Machado, vizinha de Valdir. A casa dela, que serviu de refúgio, sofreu interdição.
– Quando olhei pela janela, vi que o meu varal tinha caído. Aí olhei para a casa dele e vi que a terra iria levar. Quase tive um enfarto e comecei a gritar para eles saírem – conta.
Valdir tentou recuperar a própria residência. Assim que o tempo firmou, na terça-feira, demoliu o cômodo que estava na mira da água. Mas, como o órgão municipal alertou, o imóvel pode desbarrancar em qualquer chuva.
– A gente ficaria em qualquer lugar, mas e as crianças? – questiona Valdir.
A ex-cunhada, Lucia, também estava desnorteada
– Não consegui nem trabalhar hoje, não sei para onde ir. Não é casa de rico, mas é minha casa, trabalhei por ela – argumenta a governanta.
Sandra Rodrigues Pinto conta que, pelo medo de deslizamento, a cada chuva, ela se revezava com os filhos para olhar na janela. Como a casa está ameaçada, a alternativa agora é voltar para Lages, de onde vieram há dois anos.
– O jeito é deixar o emprego e ir morar com os parentes – destaca a auxiliar de enfermagem.
As casas deverão ser desocupadas até segunda-feira. A previsão é que quatro, incluindo a de Lucia, Valdir e Sandra, sejam demolidas. O secretário de Assistência Social, Felipe Augusto Teixeira, ressalta que a previsão é que os moradores recebam o auxílio-aluguel de R$ 300.
(Por Gabrielle Bittelbrun, DC, 19/01/2012)
Servidora tenta pagar as contas
Vera Lucia Cardoso ainda tenta se acostumar com a ideia de não poder ficar na própria casa. A residência foi uma das 20 afetadas pelo deslizamento no Morro da Mariquinha, que causou o soterramento de uma pessoa, no dia 13 de dezembro. Quando soube que o morro estava “desabando”, Vera tentava calcular o vazio que estava na terra. Vazio que sentiria a cada vez que chegasse do trabalho.
– É tudo do jeito que eu fiz, com janela boa, quadro na parede, é o meu cantinho – lamenta.
Agora, a funcionária pública tenta reorganizar as contas. Para pagar o aluguel de R$ 1,8 mil, de uma casa semelhante a que ainda está em risco no morro, ela conta com o auxílio-aluguel e economiza no máximo que pode. Ela explica que antigos vizinhos estão em situação pior, na casa de parentes. A maioria das casas afetadas é de alvenaria e pode ter um alto valor comercial no mercado imobiliário. A Defesa Civil ainda monitora o local.
(DC, 19/01/2012)