Entrevista com o presidente da Casan, Dalírio Beber
O presidente da Casan, Dalírio Beber, embarca no segundo ano de sua gestão acelerando ações para aumentar a capacidade de fornecimento de água, ampliação da rede de coleta e tratamento de esgoto e de despoluição das baias Sul e Norte, cujo plano foi apresentado no Ministério do Planejamento e das Cidades. Neste projeto devem ser liberados R$ 849 milhões em recursos federais a fundo perdidos para projetos estruturantes de saneamento básico na Grande Florianópolis e R$ 823 milhões para rede de esgoto nos demais municípios. Paralelo a isso está em andamento um processo de atualização dos valores da Casan para levar a leilão até 49% das ações da empresa cujo dono é o Estado. Beber acredita que no primeiro trimestre o levantamento estará pronto e se saberá o real valor das ações da companhia. O dinheiro irá capitalizar a empresa para futuros investimentos, como coleta e tratamento de esgoto onde será investido R$ 1,5 bilhão. Para universalizar o sistema será preciso de investimentos na ordem de R$ 6 bilhões até 2025.
Como está o processo de atualização dos valores patrimoniais da empresa para efeito de venda das ações da Casa? Já existe um modelo para o leilão dos papéis?
Este processo é do Estado. O governo do Estado buscou a autorização da Assembleia legislativa e uma vez alcançada essa autorização está se fazendo todo um trabalho preliminar no sentido de promover a avaliação da Casan. Quanto vale o negócio da Casan? Somente a partir daí o Estado vai definir a abertura do edital para a venda das ações.
O que é e como é esse processo de avaliação?
Quanto é que representam nossas redes, nossos equipamentos? Por que temos equipamentos já com vida útil avançada. Hoje a Casan tem um ativo correspondente a xis milhões de reais e o percentual que for colocado à venda representa tanto da empresa. Até porque, quando o governo tomou essa iniciativa era em função de um conjunto de investimentos que a Casan esta se propondo a levar adiante para melhorar as condições de saneamento de Santa Catarina com implantação de rede. Temos um conjunto de obras de R$ 1,5 bilhão que envolve várias fontes de financiamento, recursos do PAC (Plano de Aceleramento do Crescimento), BNDES, CEF, e temos recursos com a Jica, uma agência japonesa, outra agência francesa de fomento e alguma coisa com o Banco Mundial, neste caso não vem diretamente para esgotamento sanitário, mas para melhorar nossas condições de controle de perda, ou seja, de medição, a micro e macro medição. Se recomenda que os hidrômetros tenham vida útil de cinco anos. A partir daí, tanto eles podem medir a favor do consumidor quanto contra. Estamos hoje com programa de substituição de 300 mil medidores em Santa Catarina, das 680 mil ligações que temos hoje. Estamos substituindo os que tem problemas ou que tem vida útil vencida.
Esse trabalho de avaliação da empresa será um processo demorado?
Como temos algumas ações dependendo do fechamento do balanço de 2011 e a regularização de algumas situações que vinham sendo tratadas nos últimos anos, sobremaneira no ano passado, essas coisas devem acontecer no primeiro trimestre desse ano. Esperamos que até fim de março tenhamos as informações básicas para orientar o poder Executivo, que é detentor do controle acionário da Casan para que ele possa decidir.
Tem muita água vazando pelos canos da Casan?
Esse controle de perdas, tanto física como comerciais – são duas coisas que temos que tratar. Perdas comerciais se fazem pela medição correta para podermos ser justos na cobrança do que de fato foi fornecido para o consumidor. A perda física, temos trabalho muito intenso no sentido de que as redes mais antigas, que apresentam mais problemas de vazamento, sejam substituídas até numa parceria com os próprios municípios. Estamos deslocando as redes para as calçadas, onde intervenções necessárias causam menos impacto. Nossas redes estão na faixa dos 30 anos. A Casan completou 40 anos no ano passado. Foi criada em julho de 1971. De lá para cá tem rede lançada que está respondendo com alguma satisfação, outras nem tanto, talvez porque o material da época não era tão resistente e nem tinha tanta qualidade como hoje.
Então precisa redimensionar a rede?
Nós temos um redimensionamento da rede, até porque em algumas áreas, o crescimento populacional foi intenso e daí demandou a melhoria do sistema de abastecimento e outras vezes, ocorre a substituição porque o material entrou em fadiga.
A Capital cresce, os municípios da Grande Florianópolis crescem e consequentemente o consumo de água. A Casan está vencendo os desafios do abastecimento?
Pontualmente temos municípios em que o consumo cresceu mais. Palhoça é uma cidade que cresceu muito. Talvez pelo poder aquisitivo, pelo preço dos imóveis e mobilidade urbana, ela vai fomentando o crescimento em outras.
Qual região da Capital que está tendo mais ligações de água?
Hoje é o Centro. Nós temos um sistema de captação de água lá na Lagoa do Peri, no Sul da Ilha, que abastece toda a região, e temos no Norte da Ilha captações de superfícies e outras subterrâneas. Na bacia dos Ingleses temos captação forte: são 32 ou 33 poços. Essa água toda é recolhida, tratada e distribuída. Como a cidade cresce muito na região Norte, é para lá que temos que fazer investimentos. Essa estação de captação da água em Palhoça vai melhorar a regularidade do abastecimento na bacia do Itacorubi, que tem crescido muito, além dos bairros Trindade, Pantanal, Santa Mônica, João Paulo, Saco Grande, Sambaqui, Cacupé e Santo Antônio de Lisboa. As melhorias promovidas agora na SC-401, por exemplo, só vão intensificar a demanda por novas edificações tanto comercial como residencial.
Vencido o desafio de levar água aos catarinenses, existe outro desafio que é ampliar a rede de tratamento de esgoto. Por que Santa Catarina tem índices tão baixos nessa área?
A Casan atende 204 municípios em Santa Catarina. Infelizmente ao longo desses 40 anos de existência da empresa a preocupação foi maior com aquilo que é também mais demandado, que é o abastecimento de água da dona de casa. Atingimos indicadores de 98% a 99% de casas construídas nas áreas urbanas com regularidade e qualidade. Algumas dificuldades sazonais podem até existir. Todo este período de estiagem no Oeste que afetou 90 municípios nenhum deles ficou desabastecidos em função da seca. Os nossos reservatórios, nossas captações permitiram fornecer água a todos eles. Passamos a virada do ano de grande consumo em função do aumento da população, especialmente no Norte da Ilha, e foi possível passar o réveillon sem maiores problemas.
Com relação ao esgoto sanitário?
Em esgoto temos indicadores sofríveis. De certa forma nos deixam desconfortáveis, de modo especial quem tem a tarefa de executar o esgotamento sanitário e a Casan se propõe a isso, como um braço da administração pública estadual. O fato de termos 14% apenas de rede coletora de esgoto e tratamento adequado não significa que os outros 86% estejam jogando esgoto in natura no meio ambiente. Como temos um território bem distribuído, bem instalado, são 293 municípios, as fossas sépticas e sumidouros, quando construídas dentro das normas da ABNT, elas se caracterizam em um processo aceito pela Organização Mundial da Saúde como um meio de tratamento de esgoto. Se considerarmos hoje os 14% que tem rede e tratamento adequado mais as residências que tem fossa nós temos tranquilamente 65% de tratamento de esgoto doméstico.
Somando todos esses programas de investimentos de organismos internacionais: JICA, Banco Mundial e outros como o BNDES e CEF, qual será o total aplicado pela Casan?
Nós temos hoje operações financeiras estruturadas da ordem de R$ 1,5 bilhão. Mas a nossa necessidade nos próximos quatro anos para universalizar o serviço de tratamento sanitário, que é meta de todos os planos municipais de saneamento básico, uma vez que a lei 11.445 estabeleceu as diretrizes do saneamento, isso deve ser alcançado até 2025. Em resumo: a necessidade de investimento é da ordem de mais ou menos R$ 6 bilhões. Se temos R$ 1,5 bilhão – estamos hoje com 25%. No caso desses investimentos se concentrarem no curto prazo aqui em Florianópolis, onde temos 55% de cobertura de rede de esgoto e tratamento, vamos elevar para 75%. Ficaria 25% para ser complementado nos anos subsequentes.
A municipalização do serviço de água e esgoto, a criação de empresas municipais de água é um fantasma que ainda preocupam a Casan?
Preocupa… e preocupa muito. Não resta dúvida que saíram do sistema da Casan boas operações. Nós temos hoje excelentes operações: Florianópolis, São José, Biguaçu, Criciúma, Rio do Sul e Chapecó. As que saíram são operações extremamente importante que dariam a Casan uma condição de alavancagem de recursos muito maior que elas podem auferir sozinhas.
Qual foi o lucro da Casan em 2011?
Estamos fechando o balanço e ainda este mês teremos os números na mão. Mas devemos ter previsão de lucro da ordem de R$ 12 a R$ 13 milhões. Por que isso? Porque tivemos a necessidade ainda de regularizar situações históricas e de realizar o provisionamento para atendermos possíveis débitos que Casan possa a vir a ter se eles forem confirmados. O provisionamento de valores consideráveis no exercício de 2010, fez com que balanço fechasse negativo. Em 2011, dentro desse processo de regularização, inclusive com débitos remanescentes de até 15 anos, foram consolidados no ano de 2011, o que provocou redução do lucro. O lucro quando se fala em Casan tem que ser cem por cento revertidos para investimento para sanar a demanda reprimida.
(ND, 23/01/2012)
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