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Praias escondidas, mas belas e tranquilas

Prainhas escondidas em Governador Celso Ramos são verdadeiros recantos de belezas naturais e tranquilidade

Há cerca de dez anos, as praias da tranquila vila de pescadores ganharam fama nacional e até mesmo fora do país, principalmente nas Américas. Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis, atrai anualmente cerca de 100 mil visitantes, principalmente pela ausência de trânsito e pelas belezas naturais, além da gastronomia açoriana a base de frutos do mar. Praia Grande, Palmas, Tinguá, Armação e Baía dos Golfinhos são algumas das praias mais populares da cidade. Em algumas delas, em dias de sol e calor, fica difícil inclusive conseguir um espaço na faixa de areia.

Mas em meio as mais de 40 belas praias do município existem aquelas escondidas, em que a maioria dos visitantes e veranistas nunca ouviu falar. Em algumas delas é possível chegar através de trilhas. Outras, só mesmo pelo mar. Existem ainda aquelas em que o acesso é restrito, as ilegalmente chamadas de praias particulares. Beleza e tranquilidade são os grandes diferenciais das praias escondidas. O maior público que frequenta esses paraísos é de moradores locais. Eles procuram tranquilidade à beira do mar e distância de tumulto comum nas praias badaladas e cheias de turistas.

Praia de Fora, do Sicial e do Ilhéus são algumas das prainhas de mar grosso, procuradas principalmente por aventureiros e surfistas em busca da onda perfeita. Praia do Estaleiro, do Paiole, Ilhota e do Marcelo são as prediletas quando a intenção é descansar e aproveitar o mar de águas calmas e cristalinas. Uma característica em comum desses paraísos é a ausência de qualquer tipo de comércio. Portanto, se a intenção é esticar o passeio, indispensável levar na mochila garrafas de água e algum tipo de alimento. Dessa forma, o retorno não corre o risco de ser antecipado.

Acessos pelo mar

Para chegar às prainhas escondidas de Governador Celso Ramos é preciso contar com a instrução de moradores, pois os caminhos não são sinalizados, nem os locais identificados. Como na maioria o acesso é restrito, o jeito é ir pelo mar. “Muitos moradores dessas prainhas desfrutam da faixa de areia como se fosse particular, mas sabemos que é ilegal. Por isso, nós vamos até lá de baterinha, pelo mar”, conta um dos nativos que prefere não se identificar.

Para chegar às praias escondidas como Ilhota, Paiole e do Marcelo é preciso ir de barco, lancha, jet ski ou, como as famílias dos pescadores locais, de bateira. As saídas mais próximas são dos bairros Ganchos de Fora, Calheiros e Ganchos do Meio. Alguns pescadores fazem passeios e levam os turistas para conhecer esses paraísos quase que ocultos. Um dos moradores de Ganchos de Fora que faz os passeios é o jovem Vamberto Marcílio Venâncio, 24. Nascido e criado na praia, conhece a região como ninguém.

“Quem vem de fora nem sabe que as prainhas existem. Por isso, são os moradores que aproveitam e vão até lá de bateirinha, para fugir das praias lotadas”, conta Vamber, como é popular. A mãe, Marilza Venâncio, 40, diz a maioria dos nativos não liga de algumas pessoas fazerem uso exclusivo de prainhas, como a da Ilhota. Nela está localizado um dos resorts mais famosos do país, o Ponta dos Ganchos Exclusive Resort, que usa a faixa de areia como propriedade exclusiva dos hóspedes. “Tem tanta prainha pra gente ir, lá não faz diferença”, opina. Mas a opinião não é compartilhada pelo filho. “As praias são públicas e qualquer pessoa deve ter acesso a elas”, ressalta Vamber.

Praia do Paiole

Os portões cadeados, quase em frente à Escola Aderbal Ramos da Silva, em Ganhos do Meio, mostram que a entrada não é bem-vinda, muito menos permitida. O acesso é somente pelo mar, distante a cerca de 10 minutos de barco, a partir de Ganchos de Fora. A faixa de areia é pequena, cerca de 6m. O mar é calmo e cristalino, de frente para um dos criadouros de mariscos. Os amigos Alexandre Garcia, 17, e Pierre marques, 19, sempre que podem vão de bateira até a praia.

“Viemos para tomar um banho de mar e pescar siris. Aqui é tranquilo, nunca tem ninguém. Também gostamos de vir à noite com a galera fazer luau”, diz Alexandre. O amigo avisa. “A entrada aqui não é bem-vinda, vir pelo terreno deles é impossível”, diz o colega, que conta a origem da denominação da prainha. “Dizem que é porque o senhor que morava antigamente aqui tinha o apelido de Paiole”, conta Pierre.

Praia do Marcelo

Uma das prainhas escondidas mais belas e com faixa de areia mais larga. Ao lado da Paiole, o acesso mais fácil para a Praia do Marcelo (nome dado pelos moradores) é pelo bairro Canto dos Ganhos. No entanto, a entrada no terreno é proibida e se pode chegar ao local somente pelo mar. Basta um dia de sol para que os pescadores usem suas embarcações de pesca para levar á família à praia. Moradores denunciam que por ciúme do local, o proprietário da casa teria, inclusive, tapado parte da faixa de areia com um muro de pedras.

“Hoje em dia viemos pegar praia aqui e não somos escorraçados. Mas alguns anos atrás o Marcelo soltava os cachorro para expulsar os visitantes. Ele teve a coragem de tapar a prainha que tinha depois do costão com pedras, um pecado”, diz Arison dos Santos, 28. De caiaque, o morador de Canto dos Ganchos acompanha sempre que possível os amigos a uma tarde diferente na prainha. “Aqui é muito gostoso e só vem gente conhecida. Pelo menos por enquanto”, observa.

Praia de Fora

Quem tem espírito aventureiro e gosta de ter contato direto com a natureza não pode deixar de conhecer a Praia de Fora. Com acesso livre e uma trilha bem estruturada e sinalizada, essa é talvez a prainha escondida mais popular entre moradores e turistas. São pelo menos 25 minutos de caminhada em meio a árvores e bicas d´água, até avistar o mar agitado, de ondas perfeitas. Mais 10 minutos para descer o morro e chegar à faixa de areia, com aproximadamente 500 metros de extensão.

Os primos Maurício Rossi, 18, Vitor Rossi, 15, e Henrique Rossi, 13, arriscam dizer que esta é uma das praias do estado com ondas mais apropriadas para a prática do surfe. “Conheci por acaso, quando caminhava pelo costão esquerdo da praia de Palmas. Depois descobri a trilha. As ondas aqui são demais”, diz Maurício. A fama rendeu um apelido às ondas de direita da Praia de Fora. “O pessoal chama de onda Débora, que é o nome de uma menina perfeita que surfava em Palmas”, explica o nativo, Vamberto Marcílio Venâncio, 24. Outro caminho alternativo é ao lado do Restaurante Mar à Vista, na subida do morro de Palmas.

Outras prainhas

Continuando pela SC-410 que percorre todo o litoral de Governador Celso Ramos, entre os bairros de Palmas e Fazenda da Armação, é possível conhecer outras prainhas isoladas, como a do Sicial. O acesso à trilha é quase em frente ao Palmas Hotel & Spa. São pelo menos 20 minutos de caminhada em meio à natureza até a chegada à faixa de areia. “É linda demais e não tem quase ninguém. O mar é aberto e as ondas são belas. Vim apresentar a praia a uns amigos uruguaios e acabamos ficando do meio-dias às 19h”, conta o turista paranaense, Leonardo Souza, 20.

Outras prainhas escondidas podem ser avistadas na Armação da Piedade e na Costeira da Armação, como a Praia do Estaleiro e outras que cortam propriedades particulares. Os acessos a esses verdadeiros paraísos ainda são poucos conhecidos e divulgados. Mesmo assim, moradores locais temem a explosão turística e o trânsito caótico, realidade que vive hoje Florianópolis. “Antigamente quando era estrada de chão batido não se via gente por esses lados. Agora com asfalto muita gente vem pra cá e o movimento só deve crescer”, teme o morador da Fazenda da Armação, Aires Monteiro, 62.

Praia de todos

Não é de hoje a briga entre nativos e proprietários de casas às margens do mar em Governador Celso Ramos. Todo o litoral da cidade é marcado por pequenas praias, maioria delas, localizadas dentro de propriedades da União, mas cedidas ao uso de particulares. O direito de frequentar qualquer tipo de praia é assegurado pela Constituição Federal de 1988. O procurador da república, Eduardo Barragan, explica com base no artigo 20, incisos 4º e 7º, que, “as praias marítimas são bens da União, portanto, públicas. Ninguém pode dispor delas para uso particular, pois não existe um proprietário, mas um mero possuidor de determinado espaço, por determinado tempo”.

O procurador ressalta que, de acordo com o artigo 11, cabe ao SPU (Superintendência do Patrimônio da União) zelar o uso e a integridade física dos imóveis pertencentes à União. “O órgão pode aplicar multas e embargar obras. Mas o SPU é muito omisso no nosso estado. Na Bahia e em São Paulo, por exemplo, ele atua fortemente na fiscalização e, inclusive, em demolições”, esclarece Barragan. O procurador destaca que algumas leis e até mesmo o Código Florestal proíbem construções em APP (Área de Preservação Permanente).

Saiba mais:

– Ao impedir o acesso à praia a pessoa está praticando um ilícito civil e administrativo.

– Denúncias podem ser feitas a qualquer órgão público municipal, estadual e federal, como Fatma (Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), além do próprio Ministério Público.

– A denúncia pode ser feita através de e-mail, telefone ou por envio de documentos impressos.

– Leia mais sobre o assunto: Lei Federal 4771/65, Decreto de Lei 2398/87 e Decreto de Lei 7063/2010

Governador Celso Ramos

– Os principais acessos a Governador Celso Ramos são nos km 180 e 182 da BR-101, sentido Sul-Norte. Se mater na SC-410

– A cidade fica distante há pelo menos 49 km de Florianópolis pela rodovia BR-101 e 15 km pelo mar.

– A cidade tem pouco mais de 14 mil habitantes e foi colonizada inicialmente por imigrantes açorianos

– As principais fontes de renda vêm da pesca artesanal e industrial, além do turismo de praia

(ND, 23/01/2012)

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