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Após 20 anos de promessas, moradores do alto do Morro da Queimada, em Florianópolis, recebem água encanada

É o primeiro Verão de cerca de 30 famílias com o produto encanado nas torneiras

Era começo de dezembro. A salgadeira Neide Pereira, 45 anos, estava varrendo o quintal de casa quando começou a escutar um chiado estranho numa caixa d’água que estava inutilizada há meses. Aproximou-se, cautelosa, e ao abrir a tampa, levou um susto.

— Mas, meu Deus, o que é isso? — exclamou, incrédula diante da água, que jorrava feroz pela mangueira e enchia a caixa d’água.

A casa de Neide foi uma das primeiras a receber água naquela região do morro. Entusiasmada para contar a boa notícia, ela chamou os vizinhos, que vieram correndo, mas o benefício não chegou para todos de uma vez.

Obra começou em 2010

A infraestrutura foi construída pela Casan, com recursos do PAC, para bombear água para todo o Maciço do Morro da Cruz. A obra começou em 2010.

Com a pressão, nos primeiros dias, o encanamento novo estourou. Em poucos dias, porém, a água começou a jorrar em toda a comunidade, para cerca de 30 famílias, que viviam sem abastecimento há mais de 20 anos.

A Hora acompanha a situação da comunidade desde agosto de 2011.

Economia é diferença

O ano de 2012 teve um início promissor para a cozinheira, acostumada a estocar mais de mil litros de água para garantir a sobrevivência. O Natal de Neide já foi um pouco mais farto, com o dinheiro que economizou ao deixar de comprar as bombonas com água reserva. Eram cinco por semana, o que gerava um custo mensal de R$ 180, muito menos do que Neide espera pagar na fatura da Casan.

— Agora eu compro água só pra beber e pra dar pros bichos — conta.

Hoje, apenas uma caixa d’água de 500 litros, que enche com a chuva, já é suficiente para dar segurança a Neide. Das mais de 300 garrafas pets que enchia por precaução, apenas cinco restaram, e servem para regar as plantas.

— Agora não preciso mais economizar — comemora, deixando a água banhar a horta que cultiva no quintal.

“Sem água, a gente não vive”

A casa da auxiliar de sala Édna Neves, 29 anos, é a mais alta do Morro da Queimada. A altura proporciona privilégios, como a possibilidade de, no Réveillon, assistir de camarote ao show de fogos da Pinheira, da Beira-Mar Norte e da Ponte Hercílio Luz. Para receber a água, porém, Édna foi uma das últimas. Quando chegou, ela ficou tão emocionada que se dividia entre o riso e o choro.

— Agora a gente pode tomar um banho decente, fazer uma comida decente. Não tem que encher balde pra lavar roupa – comemora Édna.

Escadaria com galão nas costas

Com três filhos pequenos, viu sua vida mudar depois de 10 anos. Antes, buscava água na casa da vizinha, no pé do morro. Subia uma rampa íngreme e uma escadaria com mais de 30 degraus com o galão nas costas, às vezes até de madrugada.

— Tudo mudou na minha vida agora. Sem água a gente não vive, né! — exclama.

Atraso

De acordo com a Casan, a obra demorou em função de problemas com algumas empreiteiras licitadas, que desistiram de continuar pela dificuldade na região. Depois de pronta, o abastecimento de água demorou a iniciar porque o sistema ainda estava em fase de testes.

A obra

Implantação de rede de esgoto e água no Maciço do Morro da Cruz

::: Custo: R$ 10,5 milhões.

::: Área beneficiada: Caieira, Serrinha e outras nove comunidades do Maciço do Morro da Cruz.

::: População: 22 mil pessoas.

::: Início: 2010.

::: Conclusão: Novembro de 2011.

(Por Laís Novo, DC, 11/01/2012)

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