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Canal da Barra da Lagoa, a artéria da vida

Estabilizado a partir de 1980 com construção dos molhes, o canal da barra funciona como a artéria que oxigena e renova a água da Lagoa da Conceição, até então predominantemente doce e salobra. Além da salinização, a hidrodinâmica diária proporcionada pelas marés reduz em pequena escala os impactos da concentração de esgoto doméstico e do assoreamento. Também contribui para entrada de espécies marinhas de peixes e crustáceos.

Antes da fixação pelos molhes, no verão a foz do canal se fechava naturalmente, isolando a lagoa do mar. Segundo o professor Érico Porto, que está concluindo tese de doutorado em biologia marinha pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) , sem o contato com o oceano atlântico, o processo de acúmulo de matéria orgânica apressaria ainda mais o fim da vida aquática. “Lagoas costeiras nascem, se desenvolvem e desaparecem. A morte é um processo natural, lento e irreversível”, explica. O tempo de vida útil depende do gênesis, do formato e do tamanho da bacia, mas, fundamentalmente, da ação humana. Pelos estudos disponíveis, o ecossistema da Lagoa da Conceição é de 5.100 anos, “relativamente novo”, segundo Porto.

Erosão de dunas causada pelo vento sul e o acúmulo de sedimentos transportados por riachos e nascentes reduzem a profundidade, que varia de 30 centímetros a 8,50 metros. A parte rasa, segundo Porto é o que define a vida útil da lagoa. “A hidrodinâmica e a oxigenação são praticamente nulas, e há grande concentração de efluentes domésticos e metais pesados”, confirma.

Comunidade ajuda a contaminar

O desinteresse comunitário, acentuado com a desativação do comitê de gerenciamento da bacia, em 2000, acelera o processo de degradação ambiental. Segundo José da Costa, 52, que atualmente tenta reestruturar a Amola (Associação dos Moradores da Lagoa da Conceição), o poder público é omisso, mas ainda falta consciência em parcela significativa da população.

Pulverizadas, as associações de moradores perderam a capacidade de mobilização. “Querem nos matar no cansaço”, adverte.

Sem plano diretor definido e nenhuma fiscalização, as construções estão em todos os cantos da Freguesia e nas localidades do entorno da Freguesia.

Enquanto isso, a falta de estrutura da Vigilância Sanitária Municipal inviabiliza vistorias periódicas e interdição das ligações clandestinas de esgoto. “Todo mundo quer morar aqui, mas muita gente quer se livrar da nojeira da forma mais fácil. Não se importa se coco, xixi ou lixo sejam despejados diariamente na lagoa”, diz.

Presença humana até o fim

Abertura do estreito sob a ponte da avenida das Rendeiras, redução nos índices de coliformes fecais, controle da emissão de metais pesados e macrodrenagem seriam, a médio e longo prazos, os tratamento mais adequados para ajudar na cura da lagoa. A receita é do professor Érico Porto, do departamento de biologia da UFSC, que iniciou os estudos na década de 1990 e está concluindo doutorado sobre a hidrodinâmica, o acúmulo de sedimentos e a importância do canal da barra.

Porto pesquisou o funcionamento das marés e a renovação das águas, e concluiu que a urbanização desordenada da orla acelerou o processo natural de transformação do ecossistema lagunar. E alerta para outro fator de risco, fora d’água. Partículas de borracha e petróleo, são levados pela chuva e contaminam toda a cadeia alimentar.

(Por Edson Rosa, ND, 20/12/2011)

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