Por Pedro Santos (ND, 04/12/2011)
Por todo o ano, a capital catarinense foi tomada por eventos culturais, muitos deles inéditos, de uma forma como nunca antes se viu. A profusão de espetáculos musicais, exposições artísticas, festivais de cinema, dança, música e teatro, entre outras atrações, consolidam Florianópolis no calendário cultural do país.
Muitas das melhores atrações de 2011 passaram na cidade. O ano começou agitado com a passagem memorável da cantora Amy Winehouse (1983-2011) por Florianópolis.
No mês seguinte, foi a vez de Ben Harper tocar na praia do Campeche depois de uma votação nacional que colocou Florianópolis com 51% dos votos à frente de Maresias, em São Paulo, e Búzios, no Rio de Janeiro.
Em seguida, o que se observou foi uma série de espetáculos e festivais que se espalharam pela Ilha. Dos já consagrados aos inéditos, como o 1º Festival Internacional de Palhaços – Ri Catarina, a 6ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul e a Maratona Cultural. Apenas a Maratona levou um público estimado de 90 mil pessoas pelos três dias de evento na capital catarinense.
“Esse ano demos um salto. Fico feliz porque Florianópolis faz parte agora do calendário cultural do país”, avalia a produtora Luiza Lins, da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis.
Ainda assim, há controvérsias. “Foi um ano de muito trabalho e de aumento da demanda. Mas não podemos nos enganar. O faturamento caiu. Por incrível que pareça trazer atrações internacionais é uma questão de economia: se no resto do mundo a média do ingresso fica por conta dos 40 dólares, no Brasil esse número duplica”, argumenta Nani Lobo, produtor do Jam Festival, evento que reuniu talentos do blues, do jazz e da bossa nova.
Para o produtor, a distribuição cultural no Estado cresceu, mas Florianópolis poderia ter crescido mais, não fosse a falta do maior espaço cultural da cidade: o CIC (Centro Integrado de Cultura), fechado há mais de dois anos.
“Por que Chico Buarque não vem para Florianópolis? Porque a cidade não comporta. O outro espaço para um show desses, o Teatro Pedro Ivo, não suporta. O CIC fechado limita os espetáculos, o que faz com que Florianópolis seja uma das capitais mais caras”, ressalta.
De fato, essa discrepância esteve presente na turnê de Maria Betânia por Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. Enquanto nas outras capitais o ingresso cobrado era de R$ 60, em Florianópolis a entrada custou R$ 240.
De acordo com o secretário da SOL (Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte), Cesar Souza Junior, o CIC será reaberto até o meio do ano que vem.
Quem banca a cultura
Fundamentalmente é o governo. A maior parte dos grandes eventos culturais é bancada pela SOL (Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte do Governo do Estado) e pelo Funcultural (Fundo Estadual de Incentivo à Cultura). Ao todo, até meados de novembro, foram pagos 13.819.679,06 em projetos culturais no Estado.
Essa quantia envolve diversos valores destinados à cultura. O FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul), por exemplo, conseguiu aprovar pouco mais de R$ 270 mil reais. A 4ª Semana de Artes aprovou R$ 70 mil e a Maratona Cultural conseguiu aprovar R$ 1,4 milhão.
No que diz respeito às leis de incentivo, a empresa privada que mais destinou recursos do imposto de renda para projetos culturais foi a Unimed. Em 2011, a empresa repassou R$ 855.838 via lei de incentivo, um aumento de 52% em relação ao ano passado.
No âmbito municipal, a Fundação Franklin Cascaes, ligada à prefeitura de Florianópolis, realizou e apoiou projetos em todos os meses do ano. Via lei municipal de incentivo à cultura, foi investido R$ 1,7 milhão em 27 projetos, um aumento de 145% em relação aos 11 projetos aprovados no ano passado.
228 dias de grandes eventos
Em uma conta aproximada, sem contar exposições e apresentações culturais isoladas, 228 dos 365 dias do ano tiveram algum evento na área da cultura. Muitos deles no mesmo dia.
“Hoje temos muitas opções culturais, o que é ótimo. Não somos mais uma província e as coisas têm que acontecer ao mesmo tempo, sim. Floripa já é uma cidade grande. Há público para todos os eventos”, afirma a produtora Luiza Lins.
Do ponto de vista dos artistas, o ano foi bom. Em partes. “2011 foi bem produtivo, fomos convidados para tocar em vários festivais e percebemos um aumento do público, o que é muito bom”, avalia Thiago Gasparino, da banda Somato. Acontece que além de assumir a voz e violoncelo da banda, Thiago faz parte da Ossca (Orquestra Sinfônica de Santa Catarina), e na área da música erudita os negócios não foram tão bem. “Alguns eventos que tradicionalmente eram realizados, ainda não receberam o repasse do Funcultural”, alega. O Funcultural (Fundo Estadual de Incentivo à Cultura) é o meio pelo qual o governo financia projetos culturais com transferências dos contribuintes do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
A equipe da Cia Pé de Vento Teatro está feliz com a repercussão do Festival Internacional de Palhaços – Ri Catarina. Realizado pela primeira vez este ano, trouxe artistas nacionais e internacionais para uma programação especial, que mostrou as várias facetas da técnica teatral de palhaços. “Participar de um festival assim é como estar em uma rede em que fazemos trocas com outros artistas, misturamos experiências e aprendemos muito”, conta Vanderleia Will, uma das organizadoras do evento. De acordo com Vanderleia, a primeira edição foi só o pontapé inicial para um evento que vai se repetir por anos a fio. “Ano que vem tem outro festival. Com certeza.”
Ebulição universitária
Pelo menos dois eventos que ocorrem em universidades atingiram repercussão nacional ao apresentar uma programação de alta qualidade. A terceira edição do UFSCtock agitou o cenário musical independente ao trazer bandas de todo o país, misturar diversos estilos musicais e manter o público fiel, cativo desde os festivais passados. O UFSCtock se diferenciou também por um detalhe: pelo modo inovador e bem sucedido de produção cultural.
O festival foi organizado pelo Circuito Fora do Eixo, grupo que integra uma série de coletivos independentes criada em 2006 para produzir cultura fora dos grandes centros. Em Santa Catarina, o representante do Circuito Fora do Eixo é o coletivo Cardume Cultural, que organizou o UFSCtock.
“Na época da primeira edição do festival, em 2009, nós estávamos ligados ao movimento estudantil. Depois do festival, pensamos como poderíamos fazer para prosseguir com produção cultural”, conta Gabriel Portela, um dos coordenadores do Cardume Cultural. “O movimento estudantil é algo momentâneo e queríamos fazer projetos culturais como projeto de vida mesmo.”
Por meio da imensa rede de contatos que o Fora do Eixo conquistou em todo o Brasil, os coletivos regionais conseguem produzir turnês de artistas nacionais em todas as regiões do país. “É uma reinvenção do mercado tradicional que valoriza a circulação de cultura independente”, avalia Julia Albertoni, uma das coordenadoras do coletivo.
A Semana Ousada de Artes, que é realizada desde 2008, se expandiu para outras 16 cidades catarinenses além da Capital. O evento, organizado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e pela Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), promove atrações de cinema, dança, teatro, música e moda, além de oficinas, palestras e exposições.
“Cada vez mais se mantém a proposta de levar os universitários da sala de aula para os espaços de arte. É um evento que prioriza a profissionalização da classe artística ao mesmo tempo em que estimula o contato com o público”, destaca a produtora-executiva da Semana Ousada, Alexandra Porto, adiantando que a tendência para as próximas edições é expandir as atividades para mais cidades catarinenses.
Recursos do Funcultural
Festival de Dança de Joinville: R$ 2,2 milhões
Maratona Cultural: R$ 1,4 milhões
Auxílio Manutenção do Instituto Teatro Bolshoi no Brasil: R$ 1,2 milhões
Festival de Música de Santa Catarina: R$ 500 mil
Temporada 2011 de Polyphonia Khoros: R$ 500 mil
Circuito de Orquestras Temporada 2011 da Associação Cultural Filarmonica Santa Catarina: R$ 500 mil
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