Passageiros dizem que falta ônibus. As empresas alegam que a oferta é de acordo com a demanda. O número de carros nas vias da Grande Florianópolis aumenta a cada dia, e consequentemente, os congestionamentos. E agora? Quem vai ceder para sobrar mais espaços nas vias?
Biguaçu, São José e Palhoça somam 405 mil habitantes e quase 150 mil carros circulando na Grande Florianópolis. Ônibus, são 637 ônibus. As empresas que operam o transporte coletivo afirmam que o número de passageiros caiu nos últimos cinco anos. O cenário, nas vias intermunicipais como a Via Expressa, é o mesmo diariamente: filas, filas e mais filas com muitos carros e poucos ônibus.
Os números do Departamento Estadual de Trânsito de Santa Catarina comprovam que os veículos emplacados nas três cidades cresce a cada ano. Em todos os três municípios, do número total da frota que circula na Grande Florianópolis, entre carros, caminhões, caminhonetes ou ônibus, a metade do crescimento é de automóveis.
Estatísticas das empresas do transporte coletivo que circulam na mesma região também comprovam que a quantidade de usuários reduziu nos últimos anos. Na empresa Biguaçu, por exemplo, o gerente operacional Isaias Zandonai explica que o congestionamento da Avenida Leoberto Leal, em Barreiros, é a responsável pela diminuição de passageiros. Entre 2010 e 2011, a queda chegou a 1 milhão. A empresa Estrela, que também circula na Grande Florianópolis, perdeu 2 milhões de usuários.
– A questão é que uma linha que levava, por exemplo, 35 minutos, hoje, leva uma hora e10 minutos para cumprir o percurso. Com isso, as pessoas preferem andar de carro – conta Zandonai.
Os motivos citados para tantos carros e poucos ônibus nos constantes engarrafamentos na região metropolitana são inúmeros. Usuários do transporte coletivo reclamam da falta de horários, da pequena quantidade de ônibus, da falta de integração nos bairros, da baixa oferta de linhas alternativas ou do longo tempo no trajeto de casa para o trabalho.
As empresas de ônibus dizem que o número de linhas existe de acordo com a demanda. Se tem usuários, tem transporte nas ruas. Mas, nos últimos anos, houve a troca do transporte coletivo por moto ou carro. O gerente operacional Renato Christ, da empresa Jotur, que tem linhas nas cidades de Biguaçu, Palhoça, São José e Florianópolis, afirma que trabalha sempre no vermelho.
Para Christ, a quantidade de ônibus, hoje, é suficiente, pois há estatística que comprove a necessidade das linhas que circulam.
– Todas as empresas que fazem a Grande Florianópolis operam no prejuízo. O gargalo da Via Expressa contribui para isso, pois gastamos mais combustível nas longas filas, temos que pagar hora-extra aos motoristas e cobradores que ficam trancados no engarrafamento e temos que colocar mais ônibus para atender os usuários – afirma.
O representante da Jotur enfatiza que o problema da falta de usuários e dos inúmeros carros que engarrafam o tráfego vai existir enquanto houver prioridade para o transporte individual:
– Existem outras ações que podem beneficiar o transporte público como a transformação do sentido em mão única da Avenida Presidente Kennedy, em São José. Ajudou bastante. Mas é preciso criar corredores de ônibus na Avenida Ivo Silveira, na Via Expressa, em cima das pontes.
Christ acredita que, se mudanças como estas fossem feitas, o serviço de transporte seria melhor. Ele exemplifica que, há alguns anos, uma linha de Palhoça a Florianópolis levava 38 minutos para concluir o percurso. Hoje, esse tempo dobrou.
* De janeiro a setembro deste ano
(Por Vanessa Campos, DC, 04/11/2011)
Obras para aliviar o gargalo nas pontes
ANEL VIÁRIO
– A implantação da via de contorno da Grande Florianópolis (Rodoanel), que parte de Biguaçu, no km 196, vai desviar o trânsito pesado da BR-101 até o pedágio de Palhoça. O início das obras está previsto para 2012 e a conclusão está prevista para 2015. O anel de contorno, terá quatro pistas no formato de Via Expressa.
Na primeira proposta, o contorno começaria no km 175 da rodovia, no limite entre Biguaçu e Tijucas e iria até o quilômetro 222, em Palhoça. Agora, conforme o projeto apresentado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a alça de contorno começa no km 196, já dentro de Biguaçu, próximo à SC-408, que dá acesso a Antônio Carlos, até o km 220.
O rodoanel na BR-101, na Grande Florianópolis, é esperado há mais de 13 anos, para aliviar o trânsito. A ANTT não estipulou orçamento para a obra, mas, inicialmente, se previa um investimento de R$ 200 milhões.
VIA EXPRESSA
– O projeto de duplicação da BR-282 (Via Expressa) tem prazo para ser entregue até o fim do ano, quando deve ser iniciada a licitação da obra. O projeto de R$ 6,5 milhões é financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2) e elaborado pelo consórcio Essen, Sotepa e Iguatemi, que venceu a concorrência feita no fim do ano passado.
Atualmente, a Via Expressa tem pistas duplas com 5,6 quilômetros de extensão nos dois sentidos e recebe cerca de 170 mil veículos por dia.
Sistema integrado de transporte coletivo
BIGUAÇU, EM JANEIRO
– Deve iniciar no próximo mês as obras do sistema integrado em Biguaçu. A promessa do secretário de Desenvolvimento Urbano e Transporte, Arlindo Kleber Corrêa, é que no fim de janeiro os usuários já estejam com pelo menos 300 linhas a mais de ônibus circulando no município. Ele conta ainda que há deficiência principalmente na região central, nos bairros Bom Viver, Fundos e Praia João Rosa.
Corrêa lamenta que não existe hábito de usar o transporte coletivo na cidade. Porém, com o projeto para interligar os bairros, o cenário pode mudar. Atualmente, o município oferece 50 linhas aos usuários de ônibus:
– Com o custo em torno de R$ 6 milhões, o novo sistema trará pontos reformados, novos terminais rodoviários, integração em todos os bairros, corredores de ônibus, estacionamento rotativo e transporte de cinco em cinco minutos na praça da região central.
PALHOÇA, EM FEVEREIRO
– Até fevereiro, moradores de Palhoça devem ganhar um sistema integrado de transporte coletivo. A oferta será três vezes maior no número de linhas, segundo o superintendente de Trânsito do município, Mauro Marcelino Coelho. O terminal, que fica na Ponte do Imaruim, está quase pronto. As obras estão 90% concluídas, de acordo com Marcelino. O trajeto de quem vai da Barra do Aririú até Palhoça, no Centro, para depois seguir até a Unisul, por exemplo, será um dos vários beneficiados com menos tempo no percurso.
– Atualmente, a média de usuários do transporte em Palhoça é de 100 mil pessoas. Com o novo sistema, a intenção é aumentar, pois será mais rápido andar de ônibus no município – conta o superintendente.
SÃO JOSÉ, SEM PREVISÃO
– Por enquanto, não há previsão de melhorias no transporte coletivo de São José. Para o secretário de Segurança, Defesa Social e Trânsito, Sanderson Almeci de Jesus, antes é preciso integrar toda a região metropolitana.
– Há deficiência no coletivo de São José há mais de 30 anos e cada vez fica mais difícil. Um sistema integrado ajudaria, mas não adianta resolver somente dentro de cada município. Existe uma relação econômica que afeta toda a Grande Florianópolis. A integração tem que ser em toda a região metropolitana. Por causa dos engarrafamentos na Via Expressa, já que o polo comercial é em Florianópolis, o ideal é haver comunicação entre as cidades. Porém, é preciso antes resolver o problema do anel viário, da quadruplicação da Via Expressa.
O secretário lembra que quem sai de Palhoça ou Biguaçu, passa por São José para ir a Florianópolis, onde há concentração de atividades comerciais. Para ele, isso acaba contribuindo para aumentar o gargalo na ponte.
– Se a cidade tivesse sido planejada para ter vida independente, o fluxo de pessoas em direção à Ilha seria bem menor e teríamos mais linhas circulando no bairro, menos ônibus trancados nos engarrafamentos, mais usuários de transporte coletivo – imagina Sanderson.
(DC, 04/11/2011)
Depoimentos
Palhoça
PATRÍCIA CAGOL, Estudante de Medicina
“Acho o transporte urbano muito confuso aqui na Grande Florianópolis. O percurso das linhas também é ruim, pois tem muito trânsito, o que prejudica ainda mais o uso do transporte coletivo, já que há muita perda de tempo.”
São José
GILSON RODRIGO SOARES, Aposentado
“Ando de carro para ajudar minha mulher a ir ao trabalho. De ônibus, além de ser contramão, leva mais tempo. Demoro 30 minutos para levá-la todo dia.
Se fosse de ônibus, ela levaria uma hora e 15minutos para fazer o mesmo percurso.”
Florianópolis
CLÁUDIA RIBEIRO, Empresária
“Precisamos de ônibus que integrem São José e Florianópolis. Moro no Bom Abrigo e minha filha estuda em Campinas. Todo dia, ela precisa cruzar a ponte para ir à escola. É importante criarem um sistema integrado na Grande Florianópolis.”
Biguaçu
ÉRIKA SOARES, Desempregada
JULIANO AUGUSTO DOS SANTOS, 19 anos, auxiliar de produção
“Meu marido trabalha até as 2h. Como não tem ônibus, ele volta a pé. Caminha uma hora. Eu saía às 22h do trabalho e também não encontrava transporte para voltar pra casa, então, pedi demissão.”
(DC, 04/11/2011)
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De onibus TAMBEM.
Ampliar vias requer muito mais do que vontade política, requer desapropriações, com pagamentos justos, nada adianta por exemplo fazer vias com 4 ou mais pistas de cada lado, que desemboquem em vias de menor numero de pistas, ou que não tenham varias saidas vicinais com pistas ampliadas.
Por outro lado, o transporte marítimo, dependendo obviamente do tipo de embarcação e da frequencia de partidas, pode em muito desafogar o transito em qualquer parte, sem que com isso o transporte coletivo terrestre seja prejudicado, pois as vias, já estão prontas,naturalmente. Salvo alguns investimentos inerentes a este tipo de transporte, tais como dragagens, areas de embarque e desembarque, nada comparado aos gastos de implantação e ou ampliação de vias terrestres, tais como mais uma ponte.
O problema de Florianópolis-ilha, é que nunca foi tratada como ilha em termos de ocupação e mobilidade, sempre foi tratada como um pedaço separado do continente com as mesmas necessidades, um erro infraestrutural !
No melhor dos prognóticos, em 2012 a ilha vai parar.
De carro eu saio a hora que eu quero e de ônibus terei que sair no minimo uma hora mais cedo.