Até o final deste ano, Prefeitura de Florianópolis e Governo de Santa Catarina entregam obras para melhorar o trânsito da cidade
Daqui a 50 dias os governos municipal e estadual entregarão três obras que prometem melhorar o trânsito na cidade. No total foram injetados R$8 milhões para execução do elevado Rita Maria, no Centro, e mais R$46 milhões na duplicação da SC-401, Norte da Ilha, e na terceira pista da SC-405, Sul da Ilha. Se considerar o valor gasto no elevado do Trevo da Seta, inaugurado em março deste ano, o montante em investimento chega a R$70 milhões. A meta dos governos é uma só: diminuir as filas. O problema é que mesmo depois de tanto trabalho, das quatro obras entregues este ano, apenas uma terá eficácia em 100%, e com prazo de validade que acaba em dezembro de 2021.
O maior gargalho está no Sul da Ilha. Na região os mais de 38 mil motoristas que passam pela região todos os dias enfrentam filas quilométricas em razão das obras desde setembro de 2009 com o início da execução do elevado do Trevo da Seta. Com ele, foram gastos R$16 milhões e após sua inauguração, em março deste ano, o trânsito continuou caótico. Em maio, veio a execução da terceira pista da rodovia SC-405, que junto ao elevado acabariam com as filas. Porém, segundo o presidente do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura), Paulo Meller, esta meta novamente não será alcançada. “O trânsito vai melhorar, mas as filas só irão acabar com a duplicação da rodovia Diomício Freitas (via que leva à Ressacada) prevista para ser entregue até 2014”, explica.
As obras executadas no Sul da Ilha também têm validade. Elas foram projetadas para contribuir com o trânsito dentro dos próximos dez anos. O problema é que quando o governo entregar a última melhoria, em meados de 2014, faltará apenas seis anos para começar tudo de novo. “Os projetos levam em consideração o crescimento populacional e o número de veículos nas ruas, mas até lá, a missão de melhorar o trânsito será de nossos filhos ou netos”, diz Meller.
No Centro a situação é semelhante ao do Sul da Ilha, quando uma obra por si só não resolve o problema. De acordo com o secretário municipal de Obras, Luis Américo Medeiros, o elevado do Rita Maria (ver info) poderá amenizar as filas na entrada da ilha em 40%. No entanto, em horários de pico, o trânsito pouco mudará. “Sozinho ele não diminuirá as filas nas pontes, para isso, é necessária a quadruplicação da via expressa de responsabilidade do governo federal”, diz.
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura) informou que o projeto de execução da quadruplicação da BR-282 (via expressa) deverá estar pronto no primeiro semestre de 2012. No entanto, não há prazo nem para início, nem para término das obras.
Trânsito livre pelos próximos dez anos
Das obras, a única que terá 100% de resolutividade é a duplicação da SC-401, Norte da Ilha. Lá as quatro faixas, duas em cada sentido, darão vazão ao fluxo de até 50 mil veículos por dia na alta temporada de verão. No entanto, a solução tem data marcada para acabar: dezembro de 2021 quando a obra completa dez anos.
Com este último investimento no valor de R$34 milhões, a rodovia passa a ser 100% duplicada. Além disso, a comunidade da Vargem Pequena ganhou um elevado e duas marginais.
No local, não haverá mais interrupção no trânsito na SC-401 devido à entrada e saída de veículos da comunidade. Os moradores irão circular por baixo do elevado (ver info) e os motoristas poderão seguir em velocidade máxima de 80km/h em toda a extensão da rodovia.
Mesmo com estas mudanças, o presidente do Deinfra, Paulo Meller, não descarta a possibilidade de trânsito lento na região em vésperas de festas como Natal e Ano-novo. “Neste períodos, em horários de pico, é possível que o fluxo perda sua capacidade”, diz Meller.
A opinião de especialistas
“Obras que priorizam carros não geram resultados nem a curto prazo”
Para quem pesquisa na área de mobilidade urbana os governos municipal e estadual não estão no caminho certo. Pelo contrário, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem do Notícias do Dia, os investimentos de hoje para nada servirão amanhã.
De acordo com o professor de administração pública da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Daniel Pinheiro, as obras são paliativas e não vão resolver problema algum nem no curto prazo. “Eu posso afirmar que se amanhã tivesse outra ponte ligando a ilha ao continente o máximo que poderia acontecer seria deslocarmos os engarrafamentos para outro lugar. Afinal, o problema não está nas vias, mas sim no excesso de carros e na forma como temos os utilizados”, afirma.
Mas se as obras não resolvem, o que resolveria? Para Daniel somente um planejamento integrado que envolva transporte público rápido e de qualidade contemplando vias com estrutura para deslocamento alternativo como ciclovias e ciclofaixas. “Se o poder público investisse nisso como política de turismo e exemplo de cidadania e sustentabilidade ganharíamos um transporte limpo, barato e seguro”, diz.
“Solução está na transição para transporte multimodal”
O professor de arquitetura e urbanismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Francisco Antônio Carneiro Ferreira, também não acredita na resolutividade das obras que serão entregues no final do ano pelo governo municipal e estadual. Para ele, investimentos em estruturas viárias que só dão prioridade aos carros apenas pioram a mobilidade urbana da cidade.
“Estas obras induzem ainda mais o uso do carro pela população. Com o alargamento das vias e a promessa de que elas irão acabar com as filas, que motivos as pessoas terão para deixar o carro em casa?”, questiona.
Francisco acredita o governo deveria pensar em projetos que impedissem o uso do carro, como diminuir as áreas de estacionamento e o tráfego de veículos em áreas estreitas e balneários. “Nas praias, por exemplo, o trânsito de pedestres e ciclistas deveria ser priorizado e incentivado. Por tudo isso, a solução está na transição para transporte multimodal, diz.
Onde o transporte multimodal deu certo
Portland, nos Estados Unidos, é uma das cidades americanas mais adaptadas ao uso da bicicleta como meio de transporte. Sua infraestrutura para os ciclistas é usada como exemplo no país.
A cidade, com 500 mil habitantes (100 mil a mais do que Florianópolis) conta com 15 mil pessoas que se locomovem exclusivamente de bicicleta. De acordo com a Bicycle Transportation Alliance, uma organização que incentiva o uso de bicicleta em Portland, cerca de 2,1 milhões de quilômetros são rodados mensalmente pelos ciclistas da cidade.
No entanto, esta parcela de moradores só passou a deixar o carro em casa depois que o governo investiu pesado em infraestrutura para os ciclistas, tais como: paraciclos em cada esquina, estações de aluguel de bicicletas, ônibus que levam as bicicletas em racks instalados na frente do veículo, ciclofaixas e limite de velocidade reduzido na maioria das ruas.
NÚMEROS
Se os governos municipal e estadual levassem em conta a opinião dos especialistas em mobilidade urbana, o valor total das obras que chega a R$70 milhões, daria para:
– construir 700 km de ciclovia ou comprar 116 ônibus do sistema BRT (semelhante ao metrô de superfície.
(Por Aline Rebequi, ND, 01/11/2011)
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2 Comentários
Quadruplicação da BR-282? Então ela passará a ter 4 x 2 = OITO PISTAS! Beleza!
Em outra ocasião enviei meu comentário, agora ratificado por autoridade, de que qualquer obra que utilize o sistema viário atual estará fadado ao imediato fracasso. Pensem numa via que corte a Ilha de Norte a Sul com duas pontes nos extremos. As soluções cosméticas são pura “perda” de recursos públicos.
Fernando rosa