Projeto da quarta ligação entre a Ilha de Santa Catarina e o Continente é muito mais que apenas a travessia sobre o mar
Os estudos da quarta ponte de Florianópolis, que fará parte de um complexo viário que vai ligar a Avenida Beira-Mar Norte, na Ilha, à BR-101, na altura do Shopping Ideal, em São José, indicam a possibilidade de execução do projeto em quatro anos, a partir da emissão da ordem de serviço. O edital de licitação para a contratação do projeto de engenharia será lançado segunda-feira, às 15h, pelo governador Raimundo Colombo.
As projeções iniciais sobre a nova travessia, bancada pelo governo estadual, trazem uma novidade em relação ao sistema viário atual. Pela primeira vez, cria-se um novo corredor entre a área insular e a parte continental da Capital. Haverá também uma gigantesca área de aterro nas águas da Baía Norte. O espaço novo terá 548 mil metros quadrados para uso dos governos federal (Marinha) e estadual e das prefeituras de Florianópolis e São José, áreas habitacionais nobres, espaços amplos de recreação e lazer e uma sucessão de interligações de todo o complexo viário do Estreito e São José, conectadas com a Ilha.
Outra novidade: os estudos da Secretaria de Infraestrutura preveem que a implantação do novo corredor se dará sem custo para o poder público e sem a cobrança de pedágio. Por meio de parceria público-privada (PPP), os investimentos, calculados em R$ 1,1 bilhão, seriam cobertos pelas empresas interessadas na comercialização parcial das áreas aterradas.
A ponte terá duas pistas, com quatro faixas cada, sendo duas exclusivas do transporte coletivo, além de ciclovias e passagem de pedestres. O sistema prosseguirá em todo o traçado na área do aterro, até atingir a BR-101 Norte.
A área a ser aterrada terá 2,758 milhões de metros quadrados. A área verde abrangerá um terço, ou 913,8 mil metros quadrados, enquanto o sistema viário cobrirá 56 mil metros quadrados. Comportará quatro pistas, além de pistas exclusivas de transporte coletivo, com 8,5 km de extensão. O projeto total prevê a implantação de jardim botânico, arenas esportivas multiuso, amplas áreas de recreação e lazer, urbanização florida e humanizada, marinas públicas, conchas acústicas, ciclovias, viadutos, pontes, passarelas, núcleos habitacionais e construções para o poder público. O espaço novo representaria três vezes mais a área do aterro da Via Expressa Sul.
Para quem mora ou trabalha nas casas, terrenos, escritórios ou apartamentos ao longo da orla continental, serão construídas vias paralelas de tráfego local, com ciclovias e várias pistas de acesso. A Escola de Aprendizes Marinheiros continuará em contato direto com o mar, por meio de um canal especial.
O orçamento de R$ 1,1 bilhão fixa como maiores despesas a construção da ponte, com 1.680 metros, e de pontes menores, viadutos e passarelas com R$ 453 milhões; do aterro (R$ 280 milhões); pavimentação (R$ 110 milhões); e drenagem (R$ 106 milhões).
Nas pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos, passam todos os dias mais de 178 mil veículos, o que extrapola todas as previsões de trânsito máximo. A média é de 1.954 veículos por hora e por faixa. Dentro de nove anos, o movimento rodoviário diário entre a Ilha e o Continente deve chegar a 315 mil veículos, segundo a Secretaria de Infraestrutura.
Ainda de acordo com a secretaria, mais de 50% dos veículos que passam pela Pedro Ivo dirigem-se à Beira-Mar Norte. Com o novo corredor, este tráfego sairia da zona central.
O governo afirma já ter feito contatos preliminares com o Ibama, a Fatma e a Secretaria do Patrimônio da União. Mas ainda falta apresentar os projetos de engenharia com a documentação exigida pela legislação.
Se os prazos forem cumpridos, a previsão do governo é de conclusão da obra em quatro anos, em duas etapas. Na primeira, a empresa a ser contratada construiria a nova ponte e os sistemas viários das cabeceiras. Na segunda, complementaria o sistema viário do aterro para ligação com a BR-101.
O edital de licitação deverá prever a elaboração do projeto executivo (ou de engenharia), o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (Eia/Rima) e o plano de negócios. O sistema de PPP será coordenado pela SC Participações e Parcerias.
– Viadutos, passarelas e prédios do poder público
– Ciclovias, áreas de recreação e arenas esportivas
– Jardim Botânico e 913 mil m2 de área verde
(Poe Moacir Pereira, DC, 05/11/2011)
Dúvidas
O DC conversou com o professor Werner Kraus, do Departamento de Automação e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina. Ele elaborou algumas perguntas preliminares sobre o projeto da quarta ligação, com base na imagem divulgada na tarde de quinta-feira.
Olhando a maquete, nota-se que o número de faixas vai passar de nove para 12. Esta análise está correta?
Na maquete não há semáforos. A Avenida Beira- Mar não vai contar mesmo com semáforos, tornando-se uma via rápida?
Se realmente não tiver semáforos na Beira-Mar, como os motoristas vão entrar e sair da avenida?
Haverá passarelas ou túneis para a travessia dos pedestres?
Especialistas acreditam que o aumento no número de carros vai tornar a avenida muito barulhenta. Este ponto sobre o impacto sonoro foi pensado?
Outros especialistas também questionaram pontos sobre a área a ser aterrada. O projeto prevê quase 3 milhões de metros quadrados de aterro.
O aumento na área de aterro – que terá 3 milhões de metros quadrados – vai causar um impacto muito grande no ecossistema local. O que motivou esta alteração?
Já se sabe de onde será retirada esta areia, já que a Fatma falou da necessidade de análise da matéria a ser retirada do fundo da baía por causa da presença de metal pesado?
Com o aumento da área, como fica a divisão para a iniciativa privada, pública, área de lazer…?
(DC, 05/11/2011)
O que diz o governo
A assessoria de imprensa do governo do Estado informou que só responderá às perguntas a partir de segundafeira, quando será apresentado o projeto da quarta ponte.
(DC, 05/11/2011)
Beira-Mar Norte terá uma nova cara
A mutante Avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis, que já teve bucólicas praias, pode sofrer novas mudanças. Se dois projetos previstos saírem do papel, a via terá uma gigantesca ponte nas proximidades do trapiche e um hotel de luxo sobre a Ponta do Coral, perto da Casa d’Agronômica, onde hoje estão localizados ranchos de pescadores.
O Parque Marinas Ponta do Coral, projeto da construtora Hantei, prevê marina e um hotel de luxo, com 60 metros de altura e capacidade para 300 leitos. A ideia é construir um aterro, elevando a área do local de 14,7 mil para 30 mil metros quadrados. A proposta é destinar 65% do espaço para o público, com praças, anfiteatro ao ar livre e playground. A previsão é acabar em 2015 ou 2016.
Mas a grande transformação será patrocinada pelo projeto que inclui a quarta ligação e mais um pacote de obras. E, pelo seu porte, é natural que ele desperte curiosidade e expectativa. Ainda sem conhecer o projeto mais detalhado, especialistas se manifestam com cautela sobre a obra. Elson Manoel Pereira, professor de geografia da UFSC e especialista em planejamento urbano, questiona o privilégio que ele dá ao automóvel.
– É uma solução rodoviarista, dos anos 1960. O plano do Gama D’Eça, de 1969, por mais crítico que eu seja, era melhor. Ele pensava a região metropolitana, sem se restringir às pontes. Foi este plano que colocou, por exemplo, a área industrial em São José e Palhoça – diz.
Zena Becker, vice-presidente da FloripAmanhã, organização não governamental empenhada na melhoria da qualidade de vida da cidade, também vê o projeto com ressalvas.
– Se construir elevados e pontes funcionasse, Florianópolis não estaria nessa situação – diz.
Para o gestor de negócios Hélio Leite – que até 2010 representava a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) na comissão de Criatividade e Imagem da FloripAmanhã –, esteticamente a nova ponte vai mexer na paisagem:
– A Ponte Hercílio Luz ficará espremida. Pelo menos se resolver o problema da mobilidade das pessoas, já será bom.
O professor do Departamento de Automação e Sistemas da UFSC e especialista em Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS) Werner Kraus Junior levanta algumas questões (leia quadro ao lado). Uma é sobre o número de faixas:12, contra nove hoje. Para ele, o impacto é o barulho. O especialista também alerta sobre semáforos.
– Com semáforos, a capacidade da via iria cair muito. Então, teriam que ser pensadas duas coisas: como os carros vão entrar e sair da avenida e como os pedestres vão atravessar.
(Por Angela Bastos e Mauricio Frighetto, DC, 05/11/2011)
Ponte nova x Ponte velha
Desde quinta-feira, quando as imagens do projeto começaram a vazar, a quarta ponte é o centro das atenções. Esta semana não será diferente. Na segunda-feira, o governo do Estado lança o edital de licitação para a contratação do projeto. No mesmo dia, uma audiência pública vai debater o atraso das obras de restauração e a ameaça de queda da Ponte Hercílio Luz. Ligações polêmicas que ainda vão render muita discussão
Uma ilha e quatro pontes.
Uma em aço, ameaçada cair. Outra ainda virtual, a ser construída.
Duas convencionais, saturadas. Sobre a Pedro Ivo e a Colombo Salles, erguidas nos anos 1991 e 1973 para o tráfego de 80 mil veículos por dia, passam 178 mil a cada 24 horas.
Na segunda-feira, o governo do Estado lança o edital de licitação para a contratação do projeto executivo da quarta ponte, parte de um complexo viário entre o trapiche da Avenida Beira-Mar Norte, na Ilha, e a BR-101, na altura do Shopping Ideal, em São José. O evento, que vai acontecer no Centro Administrativo do Estado, está marcado para as 15h.
No mesmo dia, uma hora antes, na Assembleia Legislativa, acontece uma audiência pública sobre as obras de restauração da Ponte Hercílio Luz. O debate vai desembocar sobre o risco de desabamento da estrutura de 85 anos.
A quarta ponte tem um custo estimado em R$ 1,1 bilhão e prazo de quatro anos para ser entregue à população. A restauração da velha ponte vai custar R$ 170 milhões e tem promessa de conclusão em 2014.
O valor da nova será bancado por empresários, em parceria pública privada. O parceiro tentará lucrar com atividades empresariais nas áreas aterradas. A obra prevê um aterro hidráulico de cerca de 3 milhões de metros quadrados.
O empreendimento exige a liberação de áreas de Marinha, o que necessitará de autorização da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). Mesmo reconhecendo a necessidade da obra, a superintendente da SPU em Florianópolis prevê uma batalha ambiental. Para Isolde Espíndola, “alguns procedimentos se tornam mais complexos quando incluem a inciativa privada”.
A divulgação da maquete eletrônica pelo governo do Estado ampliou a discussão. Na expectativa do detalhamento do projeto, especialistas se manifestam com cautela. A interpretação de que a obra privilegia o uso de automóvel, ignorando as pessoas e sua mobilidade, é observada.
Werner Kraus Junior, professor Departamento de Automação e Sistemas da UFSC e especialista em Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS), entende que mais uma vez, o automóvel é o centro das atenções:
– A solução proposta é um tanto preguiçosa, pois não se esforça para resolver o verdadeiro problema: a mobilidade das pessoas, e não dos automóveis.
Cartão postal escondido
Pela maquete, a nova ponte passa do lado direito da velha Hercílio Luz, no sentido Ilha-Continente. O governo, temendo reprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), recuou do modelo inicial de ponte estaiada, suspensa com cabos de aço. Mas não se livrou do olhar de desaprovação:
– O que me chamou a atenção é o fato de a Hercílio Luz, cartão postal da Capital, ficar escondida entre a nova e as antigas travessias – diz Hélio Leite, da ONG FloripAmanhã.
Se o cronograma anunciado em meados de 2010 estivesse sendo cumprido, a Ponte Hercílio Luz já estaria salva da ameaça de cair. Mas a realidade é bem diferente e hoje apenas um terço da primeira etapa de recuperação do vão central está pronto. A demora motivou a chamada de uma audiência pública na segunda-feira na Assembleia Legislativa.
Solicitada pelo deputado Silvio Dre- veck (PP), a reunião foi marcada para esclarecer a demora no andamento da obra e o risco de desabamento. Representantes da prefeitura e de entidades empresariais foram convidados para o debate. O secretário de Infraestrutura, Valdir Cobalchini, também teve a presença solicitada para explicar o porquê do atraso. Garantiu que vai participar.
– Queremos saber dos prazos, o que foi feito até agora e quanto se gastou – diz Dreveck.
Prevista pelo governo anterior para ficar pronta em 13 de maio de 2012 – quando a travessia completa 86 anos –, a obra está longe do fim. Um dos primeiros anúncios da atual administração foi informar a impossibilidade de cumprir o cronograma por falta de verba. O prazo foi estendido para agosto de 2014. Com a notícia de mais adiamentos, o Consórcio Monumento alertou para o risco de colapso da mais antiga ponte da Capital, inaugurada em 1926.
Um relatório foi encaminhado ao governo. Conforme o consórcio, somente com a construção da estrutura provisória – uma espécie de ponte sob a ponte, que sustentaria o vão central durante a restauração – a ameaça de 5 mil toneladas de aço caírem no mar seria descartada.
De lá para cá se passaram nove meses, e o ritmo lento da obra põe em xeque até mesmo o cronograma já prorrogado. Depois que começou a nova gestão, o prazo de conclusão de colocação das 16 estacas passou para setembro, depois para dezembro, e janeiro de 2012. Faltam três meses e apenas um terço da fase está pronta. Se o ritmo continuar o mesmo, será necessário pelo menos o dobro de tempo para terminar. Mesmo assim, o governo garante que não haverá atraso na entrega.
Criação de entidade para captar recursos
O Estado deve definir esta semana o tipo de entidade que será criada com o propósito de arrecadar recursos para terminar a restauração da Hercílio Luz. A consolidação da instituição é uma recomendação do Ministério da Cultura (MinC) para captar verba pela Lei Rouanet. Acelerar a decisão é fundamental para conseguir ter o projeto aprovado em Brasília ainda este ano.
Há 20 dias a proposta que cria a Fundação Hercílio Luz está sob a avaliação da Casa Civil. Ainda não foi encaminhada para aprovação da Assembleia porque a ideia requer custo com pessoal, e o governo quer custo zero. De acordo com o MinC, a criação de uma entidade é indispensável porque entes federativos não podem receber dinheiro de renúncia fiscal. O ministério afirma que pode ser tanto uma fundação, quanto uma ONG ou uma Organização Social de Interesse Público (Oscip).
Financiar a restauração com recursos da Lei Rouanet é uma meta anunciada pelo governador Raimundo Colombo. Ele projetou a conclusão da ponte para agosto de 2014, se conseguisse investimento de empresas – que recebem renúncia fiscal em troca – a partir de 2012. Serão necessários pelo menos R$ 130 milhões, já que foram investidos até agora pelo Estado R$ 40 milhões dos R$ 170 milhões previstos.
O prazo para cadastrar o projeto de captação na Lei Rouanet encerra dia 30. Isso significa que o Estado tem pouco mais de três semanas para decidir o tipo de instituição que captará o recurso, receber a aprovação dos deputados, fazer o projeto e inscrevê-lo no MinC. O secretário Valdir Cobalchini afirma que conseguirá vencer o prazo. Depois haverá mais um desafio. Se autorizada, o governo terá que ir atrás de empresas para serem os investidores no projeto, o mais caro que a Lei Rouanet já recebeu.
Os dados
– A OBRA
Construção da quarta ligação Ilha-Continente entre a Avenida Beira-Mar Norte e a Beira-Mar Continental, no Bairro Estreito, e acesso à BR-101.
– ÁREA ATERRADA
Terá 2,758 milhões de metros quadrados.
– ÁREA VERDE
Abrangerá um terço, ou 913,8 mil metros quadrados, enquanto o sistema viário cobrirá 56 mil metros quadrados.
– CUSTO
R$ 1,1 bilhão
– CONTEMPLA
548 mil metros quadrados para uso dos governos federal (Marinha) e estadual, para as prefeituras de Florianópolis e São José, áreas habitacionais nobres, espaços amplos de recreação e lazer e uma sucessão de interligações de todo o complexo viário do Bairro Estreito, na Capital, e de São José, conectadas com a Ilha.
– TEMPO DE CONCLUSÃO
4 anos
Último cronograma
– Até janeiro de 2012 – Estaqueamento concluído
– Até agosto de 2012 – Estrutura de sustentação provisória concluída
– De setembro até novembro de 2012 – Transferência de carga
– De dezembro de 2012 até março de 2014 – Reabilitação do vão pênsil, com a troca das barras de olhal e demais estruturas
– De abril até agosto de 2014 – Desmontagem da estrutura de sustentação
(Por Angela Bastos e Roberta Kremer, DC, 06/11/2011)
A ponte e a mobilidade
Da coluna de Moacir Pereira (DC, 06/11/2011)
A capital catarinense está perdendo, gradativamente, a qualidade de vida que a transformou num espaço paradisíaco sonhado por todos. Entre outros motivos, por falta de planejamento urbano, invasões ilegais crescentes, devastação imobiliária e pela inexistência de uma política de mobilidade urbana. O sistema viário é o mesmo de há 30 anos, a prefeitura não revê nem a direção das estreitas ruas do Centro, ninguém tem plano para agilizar o escoamento do trânsito pesado. Para complicar mais, a principal via de acesso à Ilha é do governo federal, que, em matéria de agilidade em obras rodoviárias, está mais para tartaruga do que para guepardo. A Via Expressa, que liga a Capital à BR-101, está com o mesmo traçado de há três décadas. Nem novas faixas na pista duplicada.
Para complicar a situação, vem a ANTT transformar-se em cúmplice da Auto Pista Litoral nesta enganação ostensiva do contorno viário da Grande Florianópolis. Prevista em contrato para ser inaugurada em fevereiro de 2012, continua no papel. Enquanto não sair o anel viário, os engarrafamentos vão infernizar ainda mais a vida de milhares de usuários todos os dias na região metropolitana.
A melhoria da mobilidade torna urgente, assim, algumas medidas do poder público, leia-se prefeituras e governos estadual e federal. O uso intensivo de transporte de massa, a integração ideal do sistema rodoviário com o marítimo e, sobretudo, a nova ligação.
As matérias especiais que o DC vem publicando trazem informações preciosas sobre a criação deste sistema viário proposto pela quarta ligação. Há, nos estudos preliminares, vários aspectos positivos que merecem detida avaliação. O primeiro e mais importante está em desafogar o Centro, superconflagrado. A cidade depende hoje de um único corredor. Com a nova ponte, criaria um segundo sistema de acesso.
INOVAÇÕES
O edital de licitação para a contratação do projeto de engenharia, a ser lançado pelo governador Raimundo Colombo nesta segunda-feira, trará os dados oficiais deste ambicioso empreendimento. Mas pelo que se conhece até agora, há pontos a ressaltar.
Sabe-se que o projeto envolve investimentos de R$ 1,1 bilhão e não terá nem recursos públicos e nem cobrança de pedágio. É uma fórmula que ninguém pode criticar. O complexo projeto será custeado, segundo os estudos, pela iniciativa privada. Como? Dizem os governistas que através da comercialização de área do novo aterro na parte continental norte.
A conferir os mecanismos jurídicos de garantia desta venda. É sabido que os empreendedores exigirão segurança total para o financiamento da obra. O governo federal terá que emitir documento assegurando que o Estado será o proprietário da área aterrada, o que não acontece hoje com o aterro da Baía Sul, executado no governo Colombo Salles há 40 anos, e até mesmo com o aterro da Costeira, implantado no governo Amin.
Há fatores favoráveis à execução do projeto. Não há, por exemplo, qualquer desmatamento, o que já elimina óbices ambientais. As áreas a serem desapropriadas são mínimas. Os pescadores ali instalados só terão benefícios. Suas terras terão supervalorização e a pesca deve aumentar com o desassoreamento previsto, com ocorreu, aliás, no aterro da Costeira.
Outra cogitação de impacto na mobilidade: a proposta de construção do Centro Administrativo do governo no novo aterro. Reduziria drasticamente o movimento de veículos na entrada da cidade. E manteria no Continente os milhares de visitantes com interesse nos órgãos estaduais.
Esqueceram do metrô
Da coluna de Cacau Menezes (DC, 06/11/2011)
Que a maquete da quarta ponte impressionou, isso ninguém tem dúvida. Que ela vai ser construída, saindo do mundo virtual para o mundo factível, isso é outra coisa que não tem mais como ser protelada. Afinal, o trânsito há muito que já não atende à mínima necessidade para uma mobilidade razoável. Porém, o que causou espécie foi a ausência no projeto-maquete do metrô de superfície, que vai ligar Biguaçu à Universidade Federal de Santa Catarina, com aproveitamento da Ponte Hercílio Luz. Prometido para 2012, com a palavra Valter Gallina, que no governo LHS reuniu a imprensa para anunciar a obra do multifalado metrô.
Dia para discutir as duas pontes da Capital
Futuro da Hercílio Luz e o lançamento do edital de licitação da quarta ligação estão em pauta
Hoje é o dia em que se discutirá a morosa restauração da ponte mais antiga da Ilha de Santa Catarina e será dado o primeiro passo para a construção de uma nova travessia até o Continente. Duas grandes obras, muitos desafios para o governo do Estado e dúvidas sobre o futuro das duas ligações.
Enquanto a demora na reforma da Hercílio Luz será alvo de audiência na Assembleia Legislativa, as 14h, uma hora depois, o governador Raimundo Colombo assina o edital de licitação do projeto executivo da quarta ponte, que deve ser localizada na Baía Norte. O secretário de Infraestrutura, Valdir Cobalchini, afirma que comparecerá nos dois encontros.
Na reunião sobre a primeira travessia, Cobalchini participará da abertura da audiência solicitada pelo deputado e líder da bancada progressista, Silvio Dreveck. Os técnicos do governo ficarão para prestar os esclarecimentos e o secretário seguirá para o lançamento do projeto da quarta ponte, que ele mesmo credita como prioridade de governo.
– Aquela ponte (a quarta) vale por duas. Serão oito faixas, além das destinadas para pedestres e ciclistas. Uma coisa jamais imaginada no Estado. Nosso estudo prevê 300 mil veículos passando pelas pontes por dia em 2020, quase o dobro dos que percorrem hoje. Com a nova travessia, vamos salvar o trânsito de Florianópolis – define Cobalchini.
Estimada em R$ 1,1 bilhão, a quarta ponte tem prazo de conclusão de quatro anos. Mas corre um alto risco de entrar em uma batalha ambiental, o que geralmente leva tempo. Isso porque a travessia entre a Beira-Mar Norte e a Beira-Mar Continental terá uma aterro de 3 milhões de metros quadrados, que ligará a ponte – por um sistema viário – até a BR-101, em Biguaçu.
A obra também precisa que a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) conceda a área de Marinha para o Estado, que deseja usar um terço do total como moeda de troca para empresas tocarem o projeto. Por em prática não é tão fácil. A superintendente da SPU no Estado, Isolde Espíndola, adverte que os procedimentos se tornam mais complexos quando incluem a inciativa privada.
À medida em que o governo se volta para o projeto da quarta ponte, a Hercílio Luz passa por novos atrasos. Assim que tomou posse, Colombo prorrogou de 2012 para 2014 a conclusão das obras de restauração. Vislumbrando a nova ligação, o governo não teria dinheiro para injetar na antiga e tombada estrutura.
Com o anúncio de reduzir o investimento em março, o Consórcio Monumento, responsável pela restauração, fez o primeiro alerta do risco de queda. Para acalmar os ânimos, o Estado afirmou que iria buscar os R$ 130 milhões, faltantes dos R$ 170 milhões orçados, para concluir a obra por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Mas, a três semanas de encerrar o prazo de cadastramento do projeto no Ministério da Cultura, não se decidiu nem o tipo de entidade que será criada para captar os recursos de renúncia fiscal.
Com a lentidão na restauração, cresce a incerteza sobre a conclusão da obra
Além disso, a colocação das 16 estacas – base para a estrutura provisória que vai segurar o vão central durante a restauração – já está atrasada.
A balsa utilizada no estaqueamento está há um mês fora de operação. O repasse de dinheiro está inferior ao previsto. Existia um planejamento de investir R$ 11,5 milhões de janeiro a outubro, mas no período foram inseridos R$ 8,3 milhões, ou seja, quase um terço a menos. Diante de mais lentidão na restauração da Hercílio Luz e do anúncio de uma nova ponte, os alertas sobre a ameaça de queda retornam. E a incerteza da conclusão também.
(Por Roberta Kremer, DC, 07/11/2011)
Emergência
Da coluna de Cacau Menezes (DC, 07/11/2011)
A vida na cidade, cada vez mais intolerável sobre quatro rodas, está se tornando inviável na medida em que se aproxima o verão e com ele o iminente colapso do trânsito. As ruas intransitáveis sintetizam dramaticamente grandes e pequenas tolices, descasos históricos e atuais no planejamento da cidade. O trânsito é o resultado final de que tudo está errado no modo como se vive e se constrói na Ilha e arredores. O caos viário não será superado apenas com a busca de mais espaço para carros e coletivos embora não se possa abrir mão de nenhuma das possibilidades de tornar mais racional o tráfego. O buraco é mais acima, é uma questão urbanística e política. Em vez de concentrar recursos em pontes e viadutos, que pecam por não ter uma visão global e estratégica da cidade, é preciso saber administrar melhor o atual equipamento urbano, com tecnologia, inteligência e planejamento.
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