Hotéis, bares, restaurantes e lojas devem abrir 42 mil empregos temporários em SC no verão. O ritmo de contratações segue o do ano passado, quando foram criadas 43 mil vagas, 31,4% a mais do que em 2009. Apesar da forte demanda por mão de obra, não está fácil contratar por falta de qualificação. O DC mostra o perfil dos profissionais mais procurados pelo mercado e dá dicas de agências de recursos humanos para quem quer aproveitar as oportunidades.
Pela quinta vez eleita o melhor destino turístico do país pela revista Viagem e Turismo, Santa Catarina acompanha, todos os anos, o crescimento no número de turistas. E, à medida que aumentam os visitantes, crescem o número de estabelecimentos e a necessidade de contratar pessoal para recebê-los.
No comércio, segundo Sérgio Medeiros, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de SC, serão abertas 26 mil vagas, apenas mil a menos do que no ano passado, a melhor temporada de contratação desde 2008.
Para Medeiros, a queda nas vagas pode ser explicada pelo alto número de efetivações de temporários no ano passado.
– O comércio está crescendo muito no Estado. Segundo o Ministério do Trabalho, foi o setor que mais gerou emprego em 2010. Pela necessidade de mão de obra, 40% dos temporários viraram efetivos – explica, lembrando que a média normal de efetivação é de 20% dos funcionários temporários.
A indústria também contrata para atender os pedidos de Natal, mas, este ano, o desempenho do emprego industrial é um dos piores desde 1998.
Bares e restaurantes devem abrir 10 mil vagas, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
– A maior dificuldade que temos para o verão é a de conseguir mão de obra qualificada. Isso porque temos um período muito curto para selecionar, treinar e capacitar as pessoas – expõe Fábio Queiroz, presidente da Abrasel.
No setor hoteleiro, a expectativa é de contratação de 6 mil temporários, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis (ABIH).
Representantes do setor de turismo do Estado concordam que a formação desejável para os temporários é, dependendo da função, de ensino primário a ensino médio completos, alguma experiência na função e um curso de qualificação de pelo menos um mês.
Para Cláudio João Bristot, secretário do Conselho Estadual das Entidades de Turismo (Seitec/SC), não há cursos suficientes para os interessados.
– Os cursos do Sistema S (Senai, Senac, Sesi), que são ótimos, mas caros, não dão conta desta formação. O problema é que, na origem, o objetivo do Sistema S era oferecer qualificação de qualidade e gratuita – diz.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Turismo (Sintratuh), Fausto Schmidt, acrescenta que outro problema é o baixo salário dos trabalhadores em turismo e hospitalidade. Hoje, o piso da categoria é de R$ 630, para oito horas por dia. A partir de janeiro, será de R$ 789, o que amenizará a falta de pessoal para a temporada, segundo Schmidt.
– Profissionais com qualificação, um segundo idioma, experiência e curso de formação são disputados a tapa pelo mercado e também são melhor remunerados – afirma Bristot.
CLÁUDIO JOÃO BRISOT, Secretário do Seitec/SC
“Profissionais com qualificação, segundo idioma, experiência e curso de formação são disputados a tapa pelo mercado e melhor remunerados.”
(Por Janaina Cavalli, DC, 03/11/2011)
De pedreiro a garçom
Há três temporadas, Ernandes Martini, de 33 anos, vem de Videira, no Vale do Rio do Peixe, trabalhar em Florianópolis. De outubro a abril, ele é garçom no restaurante Costa Norte, nos Ingleses.
Nos meses do ano em que fica na Capital, Ernandes não paga nada para morar, com mais 11 funcionários, em uma casa alugada pelo hotel e restaurante. Ele também economiza no transporte, porque a moradia é do lado do hotel, e nas refeições, uma vez que almoça e janta no local de trabalho.
Com horas extras, mais a gratificação de 10%, o garçom chega a tirar R$ 1,6 mil por mês. Segundo o gerente do restaurante, Cézar João da Silva, a maioria dos 35 funcionários contratados para trabalhar no restaurante durante a temporada é de fora da cidade, principalmente do RS, SP e interior de SC. Em Videira, Ernandes trabalha como pedreiro no resto do ano.
(DC, 03/11/2011)
Atender bem é a principal dica
O empregador do setor de serviços valoriza o bom atendimento, alerta a psicóloga Liliane Fernandes, responsável pelo recrutamento na Back RH. No entanto, é muito difícil encontrar profissionais preparados, o que, segundo ela, é um dos motivos para a oferta cada vez menor.
O resultado é que a maioria das empresas não está exigindo muita qualificação dos candidatos para aumentar as chances de as vagas serem preenchidas.
– Hoje, a mão de obra está tão difícil que o pensamento é “não tem tu, vai tu mesmo” – observa Sérgio Alexandre Medeiros, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL/SC).
Mas, segundo ele, a disponibilidade melhorou, pelo menos, em relação ao ano passado.
– Para garantir o emprego, o interessado precisa de uma qualificação mínima, com segundo grau e um cursinho básico, de técnico em vendas, por exemplo. Alguma experiência também é bem-vinda – afirma.
Medeiros destaca que, pela facilidade de ingresso, o comércio acaba oferecendo a oportunidade do primeiro emprego.
Nas lojas, para compensar a falta de qualificação, os empresários preferem oferecer treinamentos para os funcionários temporários.
– O mercado está difícil para as empresas porque falta mão de obra qualificada. Os treinamentos são uma boa ideia para o comércio – destaca Pedro Luiz Pereira, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em Joinville.
A contratação de funcionários temporários, que trabalham cerca de três meses na empresa, serve para atender a demanda do comércio e cobrir profissionais efetivos que entram em período de férias e licenças. Esta também é uma oportunidade para os interessados que querem mostrar um bom trabalho e conquistar uma vaga efetiva após a experiência.
Segundo Medeiros, é comum, nos serviços, que 20% dos temporários sejam efetivados.
Em cerca de 10 restaurantes das praias de Florianópolis, a intenção dos empresários era a de contratar funcionários fixos. O problema, segundo a maioria, é que muitos são de fora e acham que não terão condição de se manter na cidade fora de temporada.
(DC, 03/11/2011)
Vaga provisória vira emprego fixo
A camareira Claudete Cardoso do Santos, 34 anos, procurou por um emprego no final da alta temporada, no ano passado, e encontrou. Ela entrou, em março, no Hotel Vila das Palmeiras, em Canasvieiras, com o contrato de três meses e foi efetivada – está até hoje no trabalho.
– No verão é muito mais fácil encontrar emprego. Moro em Canasvieiras e sei que aqui a temporada vai até mais tarde. Em março, o hotel ainda estava contratando temporários – conta.
Claudete, que trabalhava como empregada doméstica, com carteira assinada, viu a vaga de camareira em um anúncio de jornal.
– No inverno, ganho mais como empregada do que aqui. Mas o que tiro no verão compensa. Trabalhar em hotel é o que eu gosto de fazer – diz.
Na temporada, Claudete ganha R$ 635, mais as horas extras. Segundo ela, dá para fechar o mês com até R$ 1,1 mil no verão. Durante o inverno, a camareira tira, no máximo, R$ 700 ao mês.
Claudete trabalha das 8h às 16h20min, com uma folga por semana e um domingo livre no mês. Como mora em Canasvieiras, faz o caminho de ida e volta ao trabalho a pé, para economizar e ganhar um extra com o vale-transporte.
(DC, 03/11/2011)
Auxiliar é chamado pela segunda vez
Pela segunda temporada seguida, o auxiliar de cozinha Leonardo Cristian Areias consegue trabalho no Lagoa Restaurante, na Lagoa da Conceição. No ano passado, ficou por três meses no emprego, com carteira assinada, ganhando R$ 800 ao mês, por oito horas ao dia.
Este ano, Leonardo começou ontem no restaurante. Antes, ele trabalhava na Casan fazendo tubulações de esgoto. Com 21 anos, trabalha desde os 16 só com serviços pesados. Ele diz que gostaria de fazer um curso de qualificação para ter oportunidades melhores de emprego, o que dificulta é o fato de não saber ler.
O auxiliar de cozinha ganha almoço e jantar no restaurante. O vale-transporte cobre os cinco ônibus que precisa pegar para chegar do Ribeirão da Ilha, no Sul, até o restaurante, na Lagoa.
Leonardo pretende trabalhar no restaurante durante os três meses apenas.
– Não quero continuar trabalhando aqui no inverno porque o movimento é fraco e não ganho as horas extras – explica.
Ele ajuda a sustentar a casa em que mora com a mãe, aposentada, e com o irmão, de 23 anos, que trabalha fazendo bicos.
(DC, 03/11/2011)
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