Programa que quer acabar com o desperdício nas redes catarinenses até o final da década é tema de eventos nesta semana na Capital
Os supermercados catarinenses se comprometeram a não enviar lixo para aterros sanitários ou incineradores até 2020. A meta será alcançada com a implantação do programa Lixo Zero, que consiste em encaminhar todo o material para a reciclagem ou compostagem. Até o final de 2012, será feito um levantamento da quantidade de resíduos produzidos nos estabelecimentos.
Hoje, o processo está mais adiantado no Hippo Supermercados, da Capital, que tem certificado internacional de que recupera 97% do lixo. A assessora de marketing do grupo, Tatiane Pereira, diz que até 2014 espera atingir os 100%. Ela lembra que os cuidados com os resíduos começaram há 10 anos e que o manejo do material faz parte do treinamento dos novos funcionários.
Mas a manutenção do programa tem custo. É preciso contratar pessoas para levar o lixo orgânico para a UFSC, que faz a compostagem, e pagar o transporte para a reciclagem. O Angeloni, maior rede supermercadista do Estado, deu a largada para trilhar o mesmo caminho e ser a primeira grande rede do Brasil a integrar o programa.
A meta é que até 2020 todos os filiados da Associação Catarinense de Supermercados (Acats) adotem a iniciativa. Para o dono da Novociclo, empresa de Florianópolis que implanta o programa Lixo Zero, Rodrigo Sabatini, é inegável o ganho que um negócio obtém ao se preocupar com o destino do lixo.
Ele acredita que nas empresas é mais fácil de mudar a rotina e controlar o destino dos resíduos porque isso depende somente da vontade da diretoria. A especialista americana Leslie Luckacs, que trabalha com programas de Lixo Zero, revela que nos Estados Unidos o gigante supermercadista Wall Mart não manda mais lixo para aterros.
Sabatini acredita que aplicar o conceito em cidades é mais complicado porque depende do engajamento de toda a sociedade, mas um desempenho de 98% de recuperação de resíduos é possível. Ele pontua que tudo começa na concepção do que é lixo. Para o dono da Novociclo, uma garrafa de dois litros de refrigerante não pode ir para um saco preto no momento em que é esvaziada. Se for lavada, pode ficar num local adequado até ser encaminhada para a reciclagem.
O conceito pode ser estendido a outros produtos e o que for orgânico vai para a compostagem. Itens como pilhas e baterias, que não podem ser descartadas em aterro nem recuperados, devem ser devolvidos aos fabricantes. Esta medida faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos, implantada em agosto do ano passado. A lei prevê que a partir de agosto de 2014 as empresas façam a chamada logística reversa. Ou seja, que descartem apenas aquilo que não possa ser reutilizado, reciclado ou tratado.
Debate entre jovens e empresários
Estas obrigações serão discutidas ao longo da semana em eventos na Capital. O primeiro é o Fórum de Experiências Internacionais Lixo Zero no Varejo, que ocorre hoje na sede da Fecomércio de SC, promovido pela Acats em parceria com a Fecomércio. O segundo começa amanhã e vai até sábado e reúne representantes de oito países. Trata-se do Encontro Internacional Lixo Zero Jovem. Mais informações no site www.zerowastemeeting.org/pt.
O conceito que os supermercados e jovens vão discutir já é aplicado por condomínios e bairros de Santa Catarina. Em Coqueiros, parte continental de Florianópolis, são cerca de 3 mil pessoas cadastradas no programa de reciclagem da Novociclo. Elas entregam os resíduos separados e o material é convertido em pontos. Conforme a quantia acumulada, é possível trocar por produtos de decoração, artesanatos e roupas – produtos feitos com material reciclável. O mesmo projeto é realizado no condomínio Pedra Branca, em Palhoça.
(Por Felipe Pereira, DC, 26/10/2011)
“Todo mundo pode participar”
Leslie Luckacs, especialista no programa Lixo Zero
Neste ano, o governo brasileiro assinou a lei de resíduos sólidos para tentar melhorar o destino do lixo. Nos EUA, a legislação sobre o assunto é bem mais antiga, de 1989. A especialista em aplicação do conceito Lixo Zero, Leslie Luckacs, fala sobre os resultados obtidos. Ela será uma das palestrantes do Fórum de Experiências Internacionais Lixo Zero no Varejo, hoje, em Florianópolis.
Leslie é responsável por parte do desempenho americano porque dirige o programa do Fisherman’s Wharf, antigo porto na baía de São Francisco, que é uma das principais atrações turísticas da cidade americana. Apesar de milhões de pessoas passarem pelo local a cada ano, não há envio de lixo para aterros sanitários.
DC – Quais os índices de reaproveitamento de lixo no local onde você mora?
Leslie Luckacs – Na Califórnia, 65% é reciclado e, em São Francisco, sobe para 78%. Existe obrigação de reciclar e fazer compostagem em residência e empresas.
DC – Quando a ideia surgiu?
Leslie – Em 1989 foi formulada uma lei estipulando que metade do lixo fosse reaproveitado. O prazo fixado para atingir esta meta foi de 10 anos. Agora há debates para mudar a lei e aumentar o índice para 65%. Já São Francisco tem o objetivo de lixo zero até 2020.
DC – Como é o interesse das cidades em participar do programa?
Leslie – Enquanto na Itália as cidades mais engajadas são as menores, na Califórnia as 15 principais cidades têm maior compromisso (inclui Los Angeles, São Francisco e Sacramento com o programa).
DC – Hoje, quais os países que se destacam em iniciativas para resolver o problema do lixo?
Leslie – Estados Unidos, Itália e Nova Zelândia estão na frente.
DC – Os países menos desenvolvidos também podem aderir?
Leslie – Todo mundo pode participar. No EUA, a questão é que temos 5% da população mundial e consumimos 25% dos recursos do planeta. E lá os produtos são usados e jogados fora. Há problemas com aterros e a poluição gerada pelos gases e com o líquido que pode contaminar a água. Nos países pobres, a situação é outra. Morei na África e lá os pneus viram calçados porque a disponibilização de recursos é menor e tudo precisa ser reaproveitado.
DC – Quem são os principais agentes da mudança?
Leslie – Com certeza são as empresas. Nas corporações, as mudanças acontecem de maneira muito mais rápida porque basta a ordem da presidência. As grandes marcas, como o Wall Mart, têm até gerente de sustentabilidade porque perceberam que estavam pagando para se livrar do lixo produzido.
(DC, 26/10/2011)
Florianópolis recebe jovens de quatro continentes em encontro sobre Lixo Zero
Entre 27 e 29 de outubro, representantes da Suécia, Filipinas, Estados Unidos, Haiti, Angola, Rússia, Argentina, Colômbia e Brasil, se reunirão em Florianópolis (SC) para debater iniciativas e ações em prol do engajamento jovem para a sustentabilidade ambiental.
Qual o papel dos jovens nas mudanças globais? E como é possível ampliar a mobilização em favor de uma juventude propagadora do conceito lixo zero? Estes questionamentos nortearão as atividades do primeiro Encontro Internacional Lixo Zero Jovem (http://zerowastemeeting.org/ pt/). Dinâmicas de grupo, especialistas com renome internacional e apresentação de iniciativas inovadoras, darão suporte para os debates que buscam promover a troca de experiências e identificar novas formas de conscientização, sensibilização e protagonismo ambiental.
Temas como mobilização voluntária, engajamento jovem para a sustentabilidade, economia e educação para o lixo serão debatidos por palestrantes de vários países. Entre eles: Richard Antony, presidente da Zero Waste International Alliance (ZWIA); Leslie Lukacs, presidente da L2 Environmental, diretora da CRRA Califórnia e membro da ZWIA; Pal Martensson, diretor do Parque da Reciclagem de Gotemburgo, na Suécia; Ana Carvalho, especialista em meio ambiente da Califórnia (EUA) e membro da ZWIA; e Número Lim, Cônsul de Manila (Filipinas). Ele apresentará o exemplo dos Clubes Lixo Zero, que reúnem milhares de jovens estudantes e podem ser replicados em outros países.
Os cases demonstrarão iniciativas que vêm dando certo em todo o mundo. Além dos exemplos da Suécia e Filipinas, ações realizadas no Brasil também terão destaque, entre elas, a Revolução dos Baldinhos, que ocorre numa comunidade de baixa renda em Florianópolis (SC) e incentiva a compostagem; o Projeto Balaco Batuque; e o Programa Lixo Zero em uma escola da capital catarinense, que inicia no Brasil o movimento de criação de Clubes Lixo Zero seguindo os moldes dos existentes nas Filipinas.
Durante o encontro também haverá dinâmicas e debates de grupo. Nestas atividades, os jovens serão divididos em grupos de trabalho compostas por pessoas de diferentes nacionalidades. “Será um momento de reflexão e também descontração, no qual todos poderão compartilhar suas experiências, opiniões e identificar potenciais que possam ser replicados em várias regiões do mundo”, destaca Gustavo Abdalla, presidente do Instituto Lixo Zero Brasil e um dos organizadores do evento.
1° Encontro Internacional Lixo Zero Jovem
Onde: Sesc Cacupé, Florianópolis
Quando: 27 a 29 de outubro de 2011
Inscrições e mais informações: http://zerowastemeeting.org/ pt/
Lixo Zero no mundo – O conceito Lixo Zero representa um objetivo ético, econômico, pedagógico, eficiente e visionário focado na orientação da sociedade para a mudança do estilo de vida e para práticas que incentivem a sustentabilidade. Tem como foco evitar a geração de Lixo e fazer com que cada pessoa se responsabilize por encaminhar corretamente, reduzir o consumo e tomar consciência sobre os resíduos sólidos gerados. Promove a logística reversa, redução da poluição, economia de água e energia, conservação da natureza e inclusão social. A Zero Waste International Alliance – (ZWIA) é a entidade responsável por determinar e difundir o conceito no mundo. No Brasil, ele começou a ser implantado pela Novociclo Ambiental, empresa especializada em gestão de resíduos sólidos, credenciada pela ZWIA. O programa desenvolvido aqui já é aplicado em projetos sociais, escolas, empresas, supermercados etc. Tem como objetivo dar condições para que cada pessoa possa agir de forma a diminuir seu impacto sobre o planeta. Prevê conscientizar as pessoas a reaproveitarem os resíduos, a partir do reuso ou reciclagem, para reduzir o lixo (aquele que não serve pra nada e é encaminhado para os aterros) a quase zero.
(DeOlhoNaIlha, 26/10/2011)
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1 Comentário
Senhores,
tomei conhecimento como é processado o lixo de certo supermercado (acredito que seja a prática de outros), e fiquei horrorizada.
Todo produto que se deteriora dentro do supermercado, (embalagens que molham, entortam, alguns por já estarem vencidos e fornecedor não aceita retorno, etc), como:
sabão em pó, óleo, latas em geral (sardinhas, óleos diversos, compotas etc), embalagens plasticas que quebram, enfim qualquer produto exposto no supermecado. Sabem como vão para o lixão? diariamente são colocados num papa entulho recolhido às 07 horas da manhã, todos JUNTOS,
LATAS, SABÃO, ÓLEO, PAPEL, PLASTICOS, nada é separado.
Como podemos combater a insanidade de empresários que não pensam no destino desse horror? Em casa fazemos de tudo para reciclar. Supermercados podem TUDO??
Fiquei tão indignada ao saber, e pensei onde está a vigilancia sanitária que não vê isso? órgãos de fiscalização?
Conto com quem realmente pensa no universo! E pensa nos seres vivos!
abraço,