Com o braço inchado por mordidas, Marilene lembra como três assaltantes a renderam na semana passada, no bairro Estreito, e levaram seu carro, um Honda Fit, em plena luz do dia. “Eles estavam desarmados, mas para conseguir me fazer soltar as chaves eles atacaram com mordidas”, conta a mulher de 68 anos. Esse tipo de crime tem se tornado cada vez mais comum em Florianópolis. Apesar do número de furtos ter se mantido praticamente estável em comparação com o mesmo período do ano passado, quantidade de roubos este ano já supera todos os casos registrados em 2011.
Diferente do furto, o roubo é caracterizado pela subtração de forma violenta. Na maioria dos casos, os ladrões abordam o motorista com armas em punho e levam o veículo. O caso registrado na semana passada na Delegacia de Capoeira, quando os ladrões usaram os próprios dentes para render a mulher, mostra as novas faces que o crime tem assumido em Florianópolis. “Isso é coisa de uma quadrilha que ta agindo na cidade. Eles levaram meu carro e eu fui atrás e descobri que os mesmo já fizeram outros roubos de carro”, conta Cleiton Martins, que também teve seu carro levado em um assalto a mão armada.
Martins conta que conseguiu recuperar o veículo, mas completamente danificado. “Fiquei com um prejuízo de R$ 20 mil, não tenho seguro (do carro), vou ter que arcar com a despesa. A população está nas mãos do crime. Isso vem de cima, dos políticos, que não fazem nada pela população”, desabafa Martins.
Novo “modus operandi”
Recentemente a polícia descobriu uma nova prática no roubo de veículos até então inexistentes na cidade “Até pouco tempo, o roubo de carros para realizarem outros tipos de crimes não existia em Florianópolis, isso é uma coisa recente. E também ”, informa o delegado Alexandre Carvalho, da Deic (Diretoria Estadual de investigações Criminais. Normalmente os bandidos roubam um carro e deixam o veículo estacionado em local bastante movimentado, nas madrugadas o carro serve de meio de transporte para outros crimes, como assaltos a postos de combustíveis e a residências.
Mas o desmanche ainda é o principal destino dos veículos furtados e roubados na cidade. Uma vez levados para os desmanches, os carros são desmontados e as peças colocadas à venda no mercado paralelo. “Depois do desmanche temos a clonagem de veículos e o cabrito”, explica Carvalho. Na clonagem o carro roubado tem o documento adulterado igual a outro do mesmo modelo e cor. O cabrito é a utilização do chassi de carros legais em veículos roubados ou furtados.
“Existem quadrilhas especializadas no roubo de carros no Estado. Elas normalmente agem intermunicipalmente, roubam em uma cidade e vendem em outra. A Deic tem identificado grupos agindo em várias regiões do Estado”, explica carvalho. As cidades com maior incidência de roubo e furto são: Joinville, Florianópolis e São José, sendo que Joinville ainda é a mais problemática, com mais que o dobro de furtos que Florianópolis.
Deic investiga quadrilhas
Em junho deste ano, a divisão de investigações da Deic de roubos e furtos de carros realizou a apreensão de sete carros adulterados. Na ocasião dois homens foram presos em flagrantes suspeitos de integrarem uma quadrilha especializada em roubo e furtos de veículos. Um dos presos revendia os carros em uma loja de seminovos em Brusque.
Os carros populares, aqueles que têm maior venda de peças, ainda são os mais procurados pelos bandidos. “Esses veículos que existe maior demanda de peças são os mais roubados”, informa Marcelo Zorzo, diretor do Sindicato das Seguradoras de Santa Catarina. Zorzo conta que mesmo não sendo de competência das seguradoras, existe uma preocupação com a propagação da violência. “O seguro parte do mutualismo. Isso nos desperta buscar entender o que acontece na sociedade porque vai refletir futuramente no reposicionamento das tarifas de seguro”, explica. Para o sindicato, não só houve aumento em volume de ocorrências, como também é possível perceber atos cada vez mais violentos nos crimes envolvendo roubos de carro.
Zorzo lembra que só no último mês, a seguradora onde trabalha, a Porto Seguro, registrou quatro roubos de carros onde os veículos foram usados para assaltos em residências. “Não tínhamos registro desse tipo de prática”, explica.
Dicas
>>Nunca deixe a chave no contato do carro. Documentos e chaves de reserva também devem ficar fora do veículo, assim como talões de cheques e cartões de crédito.
>>Ao estacionar, feche o carro, mesmo que a saída seja por alguns minutos ou que esteja na garagem da casa ou edifício.
>>Estacione o mais próximo possível do seu destino e evite deixar o carro na rua. Ao entregar o carro, procure identificar os manobristas e exija um comprovante e o número da placa do automóvel.
>>Jamais confie a chave do carro a desconhecidos.
>>Ao sair do estacionamento, verifique se não foi seguido.
>>Travas e dispositivos eletrônicos dificultam o trabalho do ladrão. Caso não possua, a retirada do cabo da bobina pode evitar o furto.
>>Grande parte dos roubos ocorre quando o motorista está entrando ou saindo do veículo. Se você notar algum suspeito próximo ao seu veículo, siga em frente e volte mais tarde.
>>Nunca fique dentro do veículo quando parado. Se for absolutamente necessário permanecer no veículo, mantenha o motor ligado. Nesse caso, não estacione em local do qual você não possa sair rapidamente.
>>Uma simples jaqueta, embrulhos, caixas podem convencer o ladrão a arrombar o seu veículo. Guarde tudo no porta-malas. Lembre-se: você pode saber que seu embrulho não tem valor, quem olha de fora, não.
>>Mantenha seu veículo abastecido e revisado. Todavia, em caso de pane, não se exponha, chame a assistência 24 horas.
>>Estacionar em local iluminado, com movimentação de pessoas e distante de árvores pode não evitar o roubo, mas cria dificuldade para o ladrão.
>>Se observar que o seu carro está sendo furtado, não intervenha. Normalmente, o ladrão age armado e pode ter um comparsa por perto. Em caso de assalto, mantenha-se calmo e não reaja.
(Por Fábio Bispo, ND, 08/10/2011)
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