Um cenário muito comum nas praias da Capital esconde uma grave ameaça ambiental. As trilhas, utilizadas por banhistas e pescadores, quando abertas em dunas e restingas podem acabar para sempre com a vegetação natural do ambiente. Na praia do Santinho, Norte da Ilha, somente nas imediações da servidão Tico-Tico, cinco trilhas abertas nas dunas levam até a praia, em duas delas passam até carros e caminhões.
A praia é mundialmente conhecida por abrigar em seu costão o melhor resort do Brasil. Porém, o cenário exuberante não é o mesmo em seus 2,2 km de extensão. Enquanto no costão, na divisa com a praia do Moçambique, as dunas e restingas são preservadas, do outro lado, na divisa com a praia dos Ingleses, a vegetação já não é mais a mesma.
Na servidão Tico-Tico, mais de cinco trilhas cortam a restinga e aos poucos vão acabando com a vegetação do local. As dunas já não têm o mesmo formato e a areia fina se transformou em estrada por onde passam veículos de todos os tamanhos. A transformação no cenário foi vivenciado pela moradora Lua Boeira, 25. Ela mora na localidade há 15 anos e assistiu de perto a degradação das dunas e da restinga.
“Quando vim morar aqui o cenário era outro, muito mais verde e bonito. Hoje, a vegetação está muito cortada e no verão acontece até congestionamento de veículos sobre as dunas”, explica.
O problema é um velho conhecido dos órgãos ambientais de Florianópolis. No entanto, com fraca fiscalização e pouco investimento em meios de preservação quase há o que se fazer nas áreas já degradadas.
Ingleses tem cenário semelhante
A praia vizinha a do Santinho, a dos Ingleses, sofre com o mesmo cenário. Porém ao inverso. Na área do costão, nas imediações da rua das Gaivotas, a chegada de empreendimentos imobiliários de alto padrão trouxe o investimento necessário para preservar as dunas. No local, foram construídas pela iniciativa privada duas passarelas ambientais que evitam o pisoteamento da restinga e a abertura ilegal de trilhas. Cada uma custou cerca de R$120 mil e são utilizadas diariamente pelos banhistas. “É bem melhor não precisar pisar na areia, assim chegamos até o mar sem danificar nada”, diz o morador Juliano Garcia.
O superintendente da Floram, Gerson Basso, reconhece o problema. No entanto, informa que é um caso muito difícil de resolver. “A Floram existe há 16 anos e muitas trilhas já foram abertas antes disso. Depois de feitas, não se pode fazer nada a não ser proibir o tráfego de veículos e cavalos sobre as dunas”, explica.
Segundo Basso, os crimes ao meio ambiente ocorrem nos finais de semana quando o número de efetivo é reduzido e para evitar maiores problemas ele diz que conta com a ajuda da população. “Os moradores devem denunciar anotando a placa do veículo que circula pelas dunas e comunicar o caso à Floram”, solicita.
O telefone para denúncias é (48) 3251-6964.
Solução existe, mas tem alto custo
A solução para acabar com a possibilidade de novas abertas nas dunas das praias da Capital existe e foi criada há nove anos pelo Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis). Registradas como passarelas ambientais, as estruturas devem ser construídas em três módulos sendo rampa, passeio e praça com um metro de altura. Como não há definição para o comprimento, ela pode ser erguida conforme a necessidade de preservação do local e por isso, o custo é alto. Para uma passarela com tamanho pequeno o custo pode chegar a R$120 mil.
Nas praias a execução deve partir da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente ou da Secretaria de Obras, mas pode ser financiada pela iniciativa privada.
“Construímos quando há necessidade, mas em muitos casos não temos recursos para isso”, diz o secretário de desenvolvimento José Carlos Rauen.
A vegetação
O que: dunas (montanhas de areia criadas pela ação do vento e do mar)
Porque preservar: para a areia não se espalhar e atingir áreas urbanas como estradas.
O que: restinga (vegetação rasteira que trabalham como fixadoras de dunas e estabilizadoras de manguezais)
Porque preservar: para manter a vegetação natural das praias. Quando a restinga é retirada da areia, as dunas se espalham e não retornam ao formato original.
Restinga não se recupera: depois de pisoteadas tanto a restinga como as dunas nunca mais poderão ser recuperadas, é um processo irreversível.
Fonte: coordenador do núcleo de estudos do mar da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Eduardo Juan Soriano Sierra.
(Por, Aline Rebequi, ND em 12/10/2011)
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