Um projeto desenvolvido no contraturno escolar, inicialmente em 13 unidades de ensino da rede municipal de São José, tem apresentado resultados positivos no comportamento, autoestima e no rendimento dos alunos. O programa Mais Educação atende cerca de 1500 estudantes em situação de vulnerabilidade social ou sem séries repetentes. É a cultura e a arte chegando às periferias, proporcionando às crianças e adolescentes carentes o olhar e a sensibilidade diante o belo.
O Mais Educação é desenvolvido há cerca de três anos, como piloto, para a implantação do projeto escola em tempo integral. Se no período da manhã os estudantes estão nas salas de aulas ouvindo atentamente as mensagens dos professores, à tarde a cerimônia é deixada de lado para aprender brincando e se divertindo. Oficinas de música, coral e dança, a prática de esportes coletivos, além de jogos e brincadeiras, ocupam o tempo ocioso das crianças, afastando os menores do tenebroso mundo das drogas e da criminalidade.
“O resultado do programa é visível no comportamento dos alunos e na melhora das notas. Eles ouvem mais, são mais participativos e respeitam os educadores”, destaca a coordenadora geral do Mais Educação, Edilene Eva de Lima. O resultado em casa é avaliado em reuniões com os pais. “Os próprios pais dão depoimentos sobre a melhora no comportamento dos filhos. O projeto amplia as possibilidades de futuro das crianças e facilita as relações familiares”, observa.
Formação artística, cidadã e educacional
Na Escola Básica Municipal Professor Altino Corsino da Silva Flores, no bairro Procasa, 60 crianças participam do Mais Educação, que recebe o apoio da ONG (Organização Não Governamental) Música e Cidadania e do Sesi (Serviço Social da Indústria). Desde o ano passado, alunos e pré-adolescentes da comunidade participam de aulas de canto, dança, percussão, violino e flauta. O objetivo da ONG, que atua há 10 anos na Grande Florianópolis, é o de auxiliar na formação artística, cidadã e educacional dos menores.
“Educacional porque conhecem culturas, aprendem técnicas e a trabalhar o coletivo. Cidadã porque reflete no papel deles na sociedade, e artístico, visto que aprendem a compor e a montar espetáculos”, explica a coordenadora da ONG, Maria Helena de Lima, 40. O professor Luiz Paulo Fernandes, 45, antecipa duas apresentações marcadas até o final do ano. “Dia 28 eles participam de um congresso na UFSC. 14 de novembro faremos um espetáculo no Teatro Álvaro de Cabral integrando dança, coral e instrumentos musicais, em 11 canções”, diz o coordenador do Mais Educação na Altino Flores.
Talentos revelados
O aluno da 7ª série da Escola Básica Municipal Professor Altino Corsino da Silva Flores, Igor Alisson de Farias, 13, entrou na aula de violino para ocupar o tempo ocioso da tarde, já que estuda no período da manhã. No entanto, o adolescente que mora na comunidade Chico Mendes com a tia e a avó, não esperava que o instrumento despertasse tamanho interesse e sentimento. “Gosto de tocar e ensaiar. Estou ansioso pelas apresentações e quero fazer dessa a minha profissão”, diz o ídolo do violinista francês, André Ricci.
A timidez e a incerteza do futuro dão esperanças e brilho no olhar do aluno da 5ª série, Jaison do Rosário Pereira, 13. O menino de família humilde, que mora no Jardim Atlântico, em Florianópolis, abre o sorriso ao ser perguntado sobre as expectativas para as duas apresentações, que fará ao lado dos colegas da Escola Altino Flores. “Nunca pensei que um dia me apresentaria num teatro, estou ansioso e vou convidar a minha família para assistir e dar força”, diz Jaison.
Canto é alegria no Vila Formosa
Atividades rítmicas, aulas de canto, coral, dança e composição de letras e arranjos são responsáveis pela significativa melhora na frequência e no desempenho escolar de pelo menos 120 alunos do Centro Educacional Municipal Vila Formosa, no bairro Forquilhas. A atenção e o silencio dedicado nas aulas do ensino regular dão espaço a sorrisos, gargalhadas e brincadeiras, características das oficinas do programa Mais Educação.
Para o coordenador do programa no Vila Formosa, João Maria da Costa, 37, “um processo complementa o outro. O letramento existe nas duas propostas. Sensibilizar e educar ouvidos para a arte é genial”, ressalta. As oficinas de canto e coral, da professora Ana Paulo Moreno, 26, são unanimidade entre as crianças.
“Gosto de fazer dança e jogar xadrez, mas as oficinas de coral são as melhores”, diz a aluna do 5º ano vespertino, Lucélia Elisa Wolf, 9. O colega, Bruno Henrique Paim, 12, fala da diferença em passar o tempo vago no projeto. “Antes eu ficava em casa, vendo desenho, sem aprender nada. Assim, aprendo pela manhã brincando e à tarde me dedico com seriedade aos estudos”, conta o aluno, que adora dançar samba e rap.
(Carol Ramos, ND, 15/10/2011)
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