Degradado desde as nascentes, é no encontro com as águas da baía Sul, oito quilômetros abaixo, que o rio Tavares mostra mais claramente os efeitos da ocupação desordenada, da ignorância de parcela significativa da população em seu entorno e da omissão do poder público. Assoreamento, emissão clandestina de esgotos domésticos e poluição por metais pesados praticamente dizimaram os principais criadouros de camarões e peixes do estuário, comprometendo a sobrevivência da mais urbana bacia hidrográfica da Ilha. É na foz do rio que se percebe, também, a fragilidade e a precariedade em que vivem as famílias que para sobreviver dependem, basicamente, da extração de berbigão (Anomalocardia brasiliensis), ou vôngole para os mais refinados.
Considerado o primo pobre da ostra, o molusco ainda hoje iguaria apreciada na mesa da população tradicional da cidade, é fonte de renda cada vez mais rara nos baixios do Pirajubaé e do Tipitinga (chamados A e B pelos extrativistas). Maior área de produção natural de berbigão do Brasil e, teoricamente, protegido pela Resex (Reserva Extrativista do Pirajubaé), o banco de areia está ameaçado, principalmente, pela enorme carga de esgotos despejada diretamente no rio pelas comunidades que cresceram entre seu trajeto sinuoso e a rodovia SC-405. A água é escura e oleosa, tornando desagradável o odor característico do manguezal.
A dragagem é uma das alternativas analisadas por técnicos para minimizar os efeitos nocivos do esgoto e da concentração de sedimentos na foz do rio Tavares. O biólogo Angelo Lima, analista ambiental do IcmBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade) na Resex, explica que ainda não existem projetos ou estudos de impactos ao ecossistema, mas reconhece a necessidade de medidas extremas. “O rio está praticamente morto em vários trechos”, avisa.
(Por Edson Rosa, ND, 09/10/2011)
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