Série de fotos expostas no Terminal Central de Florianópolis desde ontem provoca todo tipo de opinião
Montada ainda na madrugada de ontem, a exposição Intervenção Urbana tomou o Terminal Urbano do Centro (Ticen) – 34 painéis de três metros de largura por dois de altura, cada um apresentando o trabalho de um fotógrafo ou artista gráfico. Não demorou muito para a massa de usuários do transporte coletivo da Capital começar a circular pelo local e perceber algo de diferente.
Claro, nem todos notaram que os painéis estavam instalados. Muitos, preocupados com o horário, não enxergaram a nova paisagem. Mas teve quem parou pra prestar atenção. Uma destas pessoas foi o técnico em eletrotécnica Thiago Bueno, de 23 anos. Ele acompanhou, inclusive, parte da montagem. E lamenta que uma exposição do tipo seja recebida com indiferença por parte das pessoas que passam por ali diariamente – cerca de 250 mil.
– Essas imagens são fortes e nos fazem refletir. Me parece que o povo não está preocupado com o bem estar social, o próprio governo mesmo deixa a desejar – reflete, observando fotos que denunciam as desigualdades.
Há também um caráter histórico. A foto de André Paiva mostrando Seo Chico, personagem do Sul da Ilha que tornou-se conhecido por manter tradições históricas e ser tema de documentário, estampa um dos cartazes.
A aposentada Joaquina Vieira Rosa, 62 anos, reconheceu a figura assim que colocou os olhos no painel.
– É bom recordar esse passado. Eu logo percebi que era o Seu Chico, eu assisti várias vezes a reportagens e a história da vida dele na tevê – explica, aprovando a iniciativa de instalar a exposição no Ticen – ficou muito lindo, deixou o ambiente interessante, diferente.
Para Michelton Henrique de Souza, 22 anos, uma imagem chamou a atenção de cara: o menino “solitário”, fotografia de Silvana Leal. Será que a criança da foto está mesmo solitária? Está triste, ou alegre? O que ela está fazendo exatamente? É uma imagem que abre espaço para tais questionamentos.
– Nós vemos vários meninos assim nas ruas, alguns são menores abandonados. Foi o que me veio primeiro à cabeça, só que não dá para ter certeza do que se passa com ele. Pode estar apenas brincando – tenta decifrar.
Michelton também gostou da foto do Mercado Público em um dia chuvoso, de Celso Peixoto.
– Eu curti muito a foto do mercado, mas é do tempo em que a gente ainda podia ficar lá e tomar uma cerveja – afirma.
O painel que mais despertou paixões na manhã de ontem foi sem dúvida o de Sérgio Sakakibara, uma montagem que repetia três fotos de personagens amados e odiados da última década: Amy Winehouse, Osama Bin Laden e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para um pedestre, os três eram “todos bandidos e tinham que ser presos”.
Já o secretária Luana Müller, 27 anos, acha que o trio é polêmico, e por isso a imagem chama a atenção.
– A Amy tinha uma grande voz e morreu muito jovem, o Lula já era discutido por conta da questão da escolaridade, o Bin Laden ficou conhecido por causa do 11 de setembro – argumenta.
Ainda há vagas nos workshops
A mostra do Ticen integra o segundo Festival de Fotografia Floripa na Foto, que ocorre de 25 a 30 de outubro no Centro Histórico de Florianópolis, com uma expedição fotográfica para o Leste da Ilha no último dia. Dos 18 workshops oferecidos pelo festival ainda há vagas para 12, e para leitura de portfólio. O preço de cada workshop é de R$ 180, e para leitura de portfólio é de R$ 80.
Entre os workshops ainda disponíveis, destacam-se Direito Autoral, com José Roberto Comodo; Fotografia Documental Humanista, com J.R.Ripper; e Retrato Autoral: Espelho/Janela, com Scott Macleay.
(Por Rene Muller, DC, 19/10/2011)