Colonizadores e mais recentemente empresas loteadoras deram nomes que despertam curiosidade nos bairros do continente
Rússia e Alemanha, em Biguaçu. Lisboa, em São José, e Madri em Palhoça. Bairros periféricos que receberam nomes de grandes países ou capitais em nada lembram os locais europeus. Alem da diferença no número de habitantes, os bairros da Grande Florianópolis estão longe de ter a mesma infraestrutura. Separados pela distância geográfica e econômica os moradores da “Europa brasileira” acalentam desejos de prosperidade e notabilidade, no entanto, esperam primeiramente receber do poder público o respeito quanto às suas necessidades básicas.
“Já me perguntaram se eu estava de férias em Santa Catarina”, brinca a estudante Patrícia dos Santos, 31. A moradora do bairro Madri, em Palhoça lembra que explicar que o local fica no Brasil já se tornou rotineiro, se repetindo a cada vez que há necessidade de declarar seu endereço. A curiosidade de quem desconhece os bairros com nomes de países e cidades européias é levada na brincadeira pelos habitantes que lamentam sempre as diferenças, não entre os povos e continentes, mas econômicas principalmente. “O nome é bonito. O bairro é bom, mas precisa de mais atenção da prefeitura”, observa Patrícia, ressaltando que as ruas precisam de limpeza e a área de lazer de mais cuidados.
Madri: Um lugar para mudar novas atividades
Madrid a capital espanhola com seus mais de 3 milhões de habitantes foi a inspiração para o nome do loteamento em Palhoça. O local que atualmente conta com mais de seis mil habitantes há cerda de uma década era apenas uma pastagem entre os bairros Caminho Novo e São Sebastião. Os 1.538 lotes que no lançamento do empreendimento eram comercializados a R$ 6.500 cada, hoje, valem em mediar$ 80 mil. Ruas asfaltadas, arborizadas, ciclovia, e estação de tratamento de esgoto, alem de uma ampla área para esporte e lazer foram atrativos que fizeram do Madri o bairro de mais rápido crescimento em Palhoça nos últimos anos.
“Eu era vigilante quando apostei em um minimercado”, diz o comerciante Lenoir Zucco, 44, sobre a decisão tomada há dez anos. O comerciante garante que o Madri é um bom lugar para criar os filhos. “Aqui mora muita gente de bem”, diz ao se referir sobre a tranquilidade do local. No entanto, Zucco complementa os pedidos de Patrícia por cuidados com as ruas e cães abandonados. “O bairro está pronto precisa de manutenção”, diz.
Lisboa brasileira muito aquém da capital Lusitana
Sair de Florianópolis e chegar a Lisboa em 50 minutos é simples. Desde que o local seja o bairro de São José. As ruas, todas com nomes de locais portugueses são divididos pela avenida que leva o nome da capital lusitana, que possui mais de 500 mil habitantes. “Fui o primeiro dos moradores. Agora o bairro tem mais de seis mil deles”, se orgulha Vitor Francisco Souza, 68 anos. Na rua Madeira ele construiu há 15 anos sua casa e na frente dela uma pequena sala onde comercializa materiais para a construção civil. Da lojinha de Souza saíram centenas de torneiras, milhares de parafusos e uma infinidade de ferramentas. “Só vendo a vista. Aprendi essa lição da pior maneira”,garante.
Ao falar da falta de segurança e de um local para prática de esportes o comerciante recorda que já reagiu a pelo menos duas tentativas de roubo. “Antigamente era mais seguro. Mas, o bairro cresceu muito”, avalia. A aposentada Maria Vieira, 68, faz coro às reclamações do vizinho. “Eu gosto de morar aqui. Mas eu queria muito um pracinha e que cuidassem melhor das nossas ruas portuguesas”, pede.
De um lado Rússia, do outro Alemanha
Elas foram colonizadas logo após a chegada dos primeiros imigrantes alemães, que partiram de São Pedro de Alcântara em busca de terras mais férteis para a agricultura, a partir de 1830. Alemanha e Rússia são duas localidades do bairro Santa Cruz, em Biguaçu, separadas há menos de um quilômetro, por uma linha imaginária na altura do morro. A origem dos nomes? Segundo uma das moradoras mais antigas, Ana Maria da Silva Farias, 82, a resposta está na história que ouvia dos pais desde pequena.
“Meu pai de criação dizia que é porque naquele tempo estava acontecendo a Segunda Guerra Mundial. O pessoal da Alemanha sempre atravessava o morro para vir aos bailes aqui na Rússia para brigar”, lembra. O país derrotado naquele combate determinou o nome da localidade. “Os do lado de lá sempre perdiam a briga nas festas e por isso levaram o nome de Alemanha, que perdeu a guerra naquela época”, lembra dona Ana, como é carinhosamente chamada no bairro.
O filho, Élson João da Silva, nascido e criado na mesma casa da família, leva o nome da localidade no apelido. “Um jornalista da cidade me deu esse apelido, porque uma vez fui candidato a vereador, representando a localidade. Aí ficou Élson da Rússia”, conta o morador, hoje secretário de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Aquicultura de Biguaçu. Conhecida da família, mas do lado do morro, na Alemanha, mora a professora aposentada Luiza Vieira de Faria, 70.
A bisneta de Manoel Teixeira de Oliveira, prefeito de Biguaçu entre os anos 1899 a 1906, e de descendência açoriana, se orgulha em falar do crescimento do bairro. “Tenho aqui tudo que preciso. Leio as notícias na internet e consigo falar com quem preciso. Saio daqui só para o cemitério”, diz a aposentada, que apesar de morar na Alemanha, sempre recebeu cartas e contas a pagar com o endereço da localidade Rússia.
(Por Alessandra Oliveira, ND, 08/09/2011)
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