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Obras inacabadas servem de lar para moradores a procura sem-teto

Prefeitura não tem dados para contabilizar o número de prédios abandonados na cidade

Eles estão em áreas nobres da cidade, muitas vezes suntuosos, quase prontos à espera de moradores, porém vazios. Como fantasmas, prédios inacabados passam despercebidos em meio ao desenvolvimento da cidade e se tornam moradias dos que não têm teto. Barrados por questões judiciais ou financeiras, alguns têm um longo histórico, como o condomínio Flórida, perto da cabeceira continental das pontes, que depois de anos parado foi retomado.

A prefeitura de Florianópolis não sabe quantas construções paradas há na cidade. O abandono é a chance para moradores de rua a procura de um lar. Deise da Silva Leite é moradora em um prédio abandonado localizado no Continente, com uma vista privilegiada para as pontes. Com uma cama sem colchão e alguns pertences, ela mora no que seria a garagem. Com um olhar perdido, ela diz que sua vontade é voltar para casa, em Caxias do Sul (RS).

Morando há oito meses nas ruas da Capital, Deise conta que veio para cá para conhecer a praia dos Ingleses. “Cheguei aqui me roubaram R$ 500 e meus documentos. Era tudo que eu tinha.” Quando a equipe de reportagem chegou no prédio abandonado na servidão Dona Floriana, no Estreito, Deise estava no fundo do prédio com outras pessoas. Foi receptiva, contando sua história, enquanto os demais foram saindo. “Tive que aprender a viver na rua. Hoje, eles me respeitam”, disse. Com apenas 23 anos, ela conta que sente saudades dos três filhos. “Preciso de R$ 85 para voltar para casa. Minha mãe não sabe que vivo na rua, não contei”, diz ela.

Oportunidades

Em Coqueiros, na rua Antônio Generoso da Silveira, outro prédio com sua construção em fase final, porém inacabada, chama atenção por uma janela com cortina, que indica que o local é habitado. Sandro Ribeiro, 43, garante que não mora no local. Ele diz que apenas cuida para que a obra não seja invadida. Apesar de não ser autorizada a entrada da reportagem, é possível perceber, no local, um carro estacionado e até um cachorro preso à corrente. “Aqui eu tenho alguns móveis, água e luz. Cuido do local há três anos e o problema é ficar sozinho. Sei que é provisório, quando sair daqui vou comprar uma casa. Aqui pelo menos não preciso pagar aluguel e cuido do imóvel”, diz Sandro.

Para o Sinduscon, entidade que representa a classe patronal da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis, o número de obras inacabadas é pequeno e são casos pontuais de construtoras não consolidadas na região.

Volta para casa

A situação de pessoas que moram em prédios abandonados é conhecida da equipe de abordagem de rua da Prefeitura de Florianópolis. Em média, 180 moradores de rua são abordados por mês pela equipe.

Os que estão doentes têm a opção de tratamento médico, e os que querem voltar para casa, como é o caso de Deise da Silva Leite, a Secretaria de Assitência Social oferece a passagem. “Temos várias situações de invasão em Florianópolis. O proprietário do imóvel tem que proteger o seu bem”, lembra a coordenadora do programa, Irma da Silva.

Aos que quiserem apoio da equipe de Abordagem de Rua podem procurar pelo Creas Pop, instalado nas dependências da passarela do samba Nego Quirido, no Centro de Florianópolis. O horário de atendimento é das 8h às 18h.

(Por Mônica Amanda Foltran, ND, 17/08/2011)

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