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“Precisamos provocar o encantamento”

ENTREVISTA; Vinícius Lummertz Secretário de Turismo de Florianópolis

– O turismo em Florianópolis não pode ser visto como monotemático, mas transversal ao conjunto de atividades que caracterizam a cidade.

O assunto é um dos preferidos do secretário de Turismo da Capital, Vinícius Lummertz, que tomou posse na última quinta-feira. Ele corre contra o tempo – tem um ano e meio à frente da pasta –, mas carrega uma experiência profissional importante para alguém que deverá atender as coisas do cotidiano da cidade. No governo do Estado, foi idealizador e primeiro presidente da SC Parcerias, secretário especial de Articulação Internacional e secretário de Planejamento.

Lummertz destaca o potencial de Florianópolis amparado em pesquisas que mostram o gosto do turista pela cidade: 93% se declaram satisfeitos.

– Mas precisamos alongar o período de nossa temporada.

Para o secretário, Florianópolis leva vantagens sobre outras capitais brasileiras:

– Os grandes centros estão trancados, em vias abarrotadas, sem relação com a natureza. Nós ainda temos muito disso aqui em Florianópolis– diz.

Ontem à tarde, o secretário conversou com o DC. Confira trechos da entrevista.

Ações

– Meu problema para colocar as coisas em prática é o tempo disponível. Corro o risco de ser criticado. Às vezes, as críticas são dogmáticas e de caráter preconceituoso. Florianópolis é uma cidade com muito preconceito, que vem pelo fato de ser muito ideologizada. É aquela história de colocar todo o oceano em um buraco que se fez na areia da praia. Uma cidade como Florianópolis é um sistema complexo. Não dá para dizer que ‘tem que ser assim’. É preciso que se dialogue, com cartas abertas e na mesa, todas aptas ou com desejo de abrir mão de algo para se ganhar.

Fenaostra (1)

– Neste ano, a festa será mais comunitária, mais ligada às raízes. Eu vi o início da Oktoberfest, e ela é boa até hoje por ter uma raiz bem plantada na sua cultura. Nós precisamos restituir isso à Fenaostra. Quero acelerar o assunto talentos de Florianópolis. Temos expoentes locais em todas as áreas. Podemos ter algum show nacional, mas não como no passado. Daremos oportunidade e uma cara das pessoas daqui, sem perder qualidade.

Fenaostra (2)

– Sendo uma feira de produtores e de ostras, eu optaria em fazer uma festa que tenha ligação com a gastronomia e com o ambiente do qual ela emerge. Uma oportunidade de celebrar a nossa originalidade. Nós precisamos entender que quanto mais global, mais o turista vai querer ver o que é local. A festa será mais valiosa se tiver a expressão do que nós somos. Por isso, manteremos a essência e a promoção dos nossos talentos locais.

Natal

– Queremos privilegiar a questão do Centro da cidade, com ações em conjunto com a Câmara de Dirigentes Lojistas e a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis. Para mim, a síntese da cidade é a Avenida Paulo Fontes, perto do Ticen. Por ali passam cerca de 300 mil pessoas ao dia. Para o Réveillon, vai depender de parcerias. Os recursos estão concentrados e o orçamento é pouco. Nós estamos trabalhando 16 horas por dia e dialogando em busca das parcerias. Não são equações fáceis, pois tem o arcabouço jurídico brasileiro. Não é difícil apenas conseguir um parceiro para financiar determinado evento, mas também poder fazer determinadas coisas amparadas pela lei.

Abastecimento

– Tive uma reunião recentemente com a Casan e vários trabalhos serão feitos, inclusive em caráter emergencial, para, na temporada, suprir com água o Norte da Ilha, enquanto se esperam pelas obras maiores. Estamos buscando uma alternativa de chuveiros para as praias, mas que talvez não seja aprovada pelos órgãos ambientais.

Qualidade

– Os empresários do setor turístico precisam se preparar: vamos ter uma ação pesada na área da saúde a partir do mês de outubro. Até dezembro, vamos estar em cima de restaurantes, bares e até banheiros de postos de combustíveis. Já está acertado com a Secretaria Municipal de Saúde, pois isso é garantia de qualidade. Vamos exigir o cumprimento das normas. Mas isso não pode ser visto como ameaça, mas como colaboração.

Cultura

– Precisamos mobilizar a cultura. Onde, em Florianópolis, se tem um lugar para o turista comprar uma tela ou uma escultura dos melhores artistas que temos aqui? Estes artistas conseguem chegar às pessoas que querem consumir? Parcialmente, talvez. Apesar do pouco tempo, sonho com uma cidade com uma dinâmica e estética urbana mais alegre, mais animada. Nós precisamos construir ambientes na cidade que provoquem encantamento. Gramado e Canela fizeram isso. Veneza e Florença, também. Nós temos isso, mas precisamos embalar melhor. Santo Antônio de Lisboa pode ser muito melhor. E temos o elemento mar. Salvador tem 10 marinas. Nós, apenas uma. Nós ainda estamos de costas para o mar, mesmo tendo duas baías (Norte e Sul).

Carnaval

– De cinco anos para cá, o Carnaval mudou muito. Aliás, como todas as festas da cidade houve crescimento. Mas entendemos que dá para crescer ainda mais. A Liga das Escolas de Samba de Florianópolis nos apresentou uma proposta onde manifesta a vontade de administrar o evento na passarela. O prefeito me deu carta branca para tratar deste assunto. Mas precisa ser bem construída. A prefeitura paga tudo e ainda não chegamos aos números. Mas a ideia é muito boa.

Incentivos

– Eu sou favorável a um modelo de incentivos fiscais para atividades desejadas, por exemplo, no Centro de Florianópolis. O mix desta região pode melhorar, com coisas como cafés, floriculturas, livrarias, cinema, bares. Se houver interesse, por que não apoiar? Tivemos uma reunião no Ipuf onde analisamos mais de 20 projetos, sendo que todos terão uma hierarquia de grau de impacto e de dificuldade para a execução. Mas é importante que haja esta possibilidade.

Setur

– Temos aqui na Setur 22 pessoas trabalhando, entre efetivos e comissionados. Esta pequena estrutura precisa entender que faz parte de uma engrenagem que roda o trade turístico e toda a estrutura do Estado. Teremos uma mudança de papel e da lógica de trabalho. Temos que sair da posição de agente para catalizador, ou seja, que mobiliza as partes, para o que se pretende alcançar. É um trabalho em rede.

Plano Diretor

– O Plano Diretor do Campeche está pronto, mas não sai por causa da intransigência. Isso só vai ocorrer quando puder ser desenhado, um genuíno debate, com o objetivo de construir. Quando é apenas guerrilha, nós ficamos nos impasses que temos. O prefeito Dário Berger teve coragem em fazer o Plano Diretor, que está pronto. Mas não existe ambiente para dar andamento. Falta ainda apaziguar ânimos no sentido de que não será 100% do que cada um quer. Precisaríamos de 10 planos diretores para agradar a uma parte da cidade. Hoje, a cidade ainda é 60% ilegal, entre residências e comércio. Florianópolis é uma cidade que ainda não se entendeu sobre o seu futuro. Em um ambiente desse, há cidades de várias tribos e que conversam socialmente, mas quando é hora de falar seriamente, como o Plano Diretor, nós voltamos a um Vietnã, e não anda.

(Por Angela Bastos, DC, 28/07/2011)

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