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Desterro e suas destruições

Artigo escrito por Marcelo Ramos Peregrino Ferreira – Advogado (DC, 20/07/2011)
O cenário marinho, se comparado à parede de concreto mediada por um camelódromo de hoje, lembra a infinita capacidade de autodestruição do homem. A foto antiga da cidade de Florianópolis dá uma grande tristeza pela depredação de uma das paisagens mais lindas do mundo. Sucumbiram à verticalização os casarões históricos descritos por Fossari e por Martinho de Haro, substituídos por monumentos à mediocridade.
A destruição segue adiante, na inversão do que Freud chamou de “narcisismo das pequenas diferenças”, para atingir a população nativa. Um grupo, a pretexto de manter a unidade, hostiliza outro. Briga para além do seu círculo para firmar a identidade: torcidas de Avaí e Figueirense. Porém, aqui a hostilidade é contra o próprio grupo, louvando-se uma visão caricata do ilhéu como o infeliz “manezinho”, similar do “jeca tatu”, o caipira.
Uma simplificação lamentável, ainda que bem intencionada, de um vocabulário castiço dos herdeiros de uma cultura helênica, cujos nomes denunciam a influência do Velho Continente: Tertuliano, Trajano, Belisário, Homero (conheci um filho de pescador chamado Tucidides, homônimo do autor da história da Guerra do Peloponeso).
Palavras vistas como mostras de ignorância no teatral e incompreensível “enaltecimento” do “manezinho”, como inchume, atulhar, frege, reinar (como sinônimo de birra), tranqueira estão presentes em Eça de Queirós, Alexandre Herculano e no próprio Camões.
A Ilha talvez seja o único lugar do mundo em que a diversidade e riqueza de vocabulário são sinônimos de pobreza, do simplório “manezinho”. E virou até stand up comedy. Aqui, às avessas, não simplesmente hostilizamos o diferente para nos sentirmos parte de algo, mas nos humilhamos zombeteiros em praça pública para sermos uma unidade. E com orgulho.
Há inequívoca influência bruxólica nesta equação!

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