Para marcar o Dia do Meio Ambiente, no domingo, o Diário Catarinense faz uma série de reportagens que trará animais característicos de SC e as ameaças que eles enfrentam para continuar no nosso território. Na primeira reportagem da série, o DC destaca como esses moradores tão antigos podem conviver longe do cativeiro e de bem com a população humana, cada vez mais espaçosa.
É de se imaginar que um Estado tão rico em paisagens como Santa Catarina tenha também uma variedade de ecossistemas. E tem. A primeira reportagem desta série destaca alguns animais que vivem em manguezais, trechos de floresta tropical ou no mar, bem pertinho dos humanos. Há uma infinidade de espécies. Na terra, o gato-do-mato-pequeno e o macaco-prego, por exemplo, que podem ser encontrados por todo o Estado. No céu, a gralha azul voa mais frequentemente na região serrana, como Lages, enquanto o preá do Arquipélago de Moleques do Sul é uma preciosidade que só tem em Palhoça. No mar, o encontro de correntes marinhas traz, além de golfinhos e baleias, as tartarugas. Não importa se no Litoral ou no interior, é só escolher a vizinhança.
(Por Gabrielle Bittelbrun, DC, 06/06/2011)
A pacata
O sorriso de Zenóbia não é muito simpático. Mesmo assim, a fêmea de jacaré-do-papo-amarelo atrai os olhares de quem passa pelo Pontal de Jurerê, no Norte da Ilha, na Capital, desde 1997. Ela, que já vivia pela área do balneário da Daniela, resolveu se instalar e chocar seus ovos em um bolsão de mangue ao lado da casa do advogado Rogério Queiroz. O aposentado gostou da nova vizinha e, junto a outros moradores, e com apoio da prefeitura, construiu uma pequena reserva ecológica, o Posto Avançado das Saracuras. Os filhotes foram logo para a Estação Ecológica de Carijós. Zenóbia, com 1,90 metro e idade estimada de 30 anos, ficou por ali, onde caça pequenos pássaros e peixes. No máximo, circula entre os terrenos de área verde próximos à casa de Rogério.
– Algumas vezes ela parou no meio da rua para tomar sol. A gente teve que empurrá-la com um bambu para os carros passarem – afirma o morador.
Esse tipo de jacaré pode ser encontrado em mangues. O biólogo da Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) Alair de Souza explica que a espécie, que vive cerca de 50 anos, só apresenta comportamento agressivo quando se sente ameaçada ou para defender as crias. Por enquanto, Zenóbia continua sendo atração. E uma boa vizinha.
(DC, 06/06/2011)
A discreta
A presença das lontras não é um privilégio catarinense. Pela facilidade em se adaptar ao clima, elas cobrem a faixa do Chile ao México, passando pelo território brasileiro. Em Florianópolis, só a Lagoa do Peri concentra pelo menos oito exemplares. As lontras transitam também pela Lagoinha do Leste, Naufragados e na Lagoa da Conceição. Mas poucas pessoas conseguem encontrá-las mergulhando ou se refugiando nas margens.
– Como é um animal de hábitos solitários, é raro vê-lo – destaca a presidente do Instituto Ekko Brasil e responsável pelo Projeto Lontra, Alesandra Birolo.
Mas é difícil Yaci, de quatro anos, acreditar que lontras são selvagens. A filha da pesquisadora está acostumada a brincar e a dar mamadeira aos animais que chegam órfãos no Projeto Lontra. O pescador Rogério Pinheiro afirma que os mais experientes também podem mudar de postura. O morador da Lagoa do Peri não gostava dos animais, pois eles comiam os peixes. Hoje, deixa comida na beira da lagoa para as lontras e leva peixes para os animais que vivem em cativeiro. E ensina a lição aos três filhos e ao neto.
– Eu explico que as lontras não fazem mal e que foi a gente que invadiu o lugar delas – afirma o pescador.
(DC, 06/06/2011)
A folgada
Os saguis são apontados pelos biólogos como “pragas” da Capital. O professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Jorge Freitas explica que os animais vieram, principalmente, da Bahia e do Rio de Janeiro. Eram vendidos como animais de estimação por volta da década de 1980, mas muitos foram soltos ou fugiram dos cativeiros.
– Todo animal que vem de um lugar que não é seu hábitat de origem causa problemas ambientais.
Por não ter um predador na região, o sagui, que se reproduz rapidamente, ameaça outras espécies. Ele come frutas e sementes mas, também, ovos de aves, comprometendo a proliferação de alguns pássaros. Freitas prevê um desequilíbrio no ecossistema caso eles continuem se multiplicando. Enquanto isso, os pequenos seguem pelos galhos da Ilha abusando da boa impressão de macaquinhos fofinhos.
– Eu jogo banana para eles. Eles comem e logo vão embora – diz a dona de casa Zilma de Souza.
(DC, 06/06/2011)
A faminta
Na Capital, os restaurantes à beira da Lagoa da Conceição têm um atrativo – e uma incomodação – a mais:
– Com certeza, as gaivotas ajudam a cativar, né? As crianças, principalmente, adoram – afirma o garçom Gilmar Veira.
A dona de um restaurante da região, Roseli Laureano, explica que, em dias de menor movimento, as gaivotas ficam tão “confiadas” que chegam a tentar pegar a comida do prato dos clientes. Mesmo assim, todo mundo se empenha em alimentá-las no trapiche.
– Se não fosse assim, dando comida, como elas conseguiriam se alimentar, né? – questiona Roseli.
O professor Jorge Freitas explica que o certo seria deixar que elas procurassem alimento sozinhas, para que não se tornem dependentes. Afirma que os animais se adaptam facilmente aos alimentos disponíveis. Mesmo assim, sofrem com as intervenções humanas:
– Muitas vezes os animais engolem plástico ou têm anzois presos no bico por tentarem comer peixes.
(DC, 06/06/2011)
A parceira
As baleias passam pelo mar catarinense entre junho e setembro. Os animais, vindos das proximidades da Antártida, revezam-se em grupos ao longo dos anos para dar à luz e procurar parceiros, com uma média de 100 em SC anualmente. A diretora de pesquisa do projeto Baleia-Franca, Karina Groch, destaca que é um grupo que vem crescendo por causa do fim da caça da espécie. Os moradores do Litoral descobriram que as baleias migratórias e os botos, que moram na região, têm muito mais valor vivos. As baleias movimentam o turismo, enquanto os botos são aliados dos pescadores. Em Laguna, ocorre a “pesca do boto”. Como explica o pescador Antônio Manoel Souza, o animal cerca o cardume.
– É só jogar a rede. Tem muito pescador que vive só disso – revela Souza.
Ao encurralar o cardume, o boto também consegue se alimentar. Mas Antônio conta que existem, ainda, botos mais egoístas, que ajudam a pescar para depois puxar os peixes do fundo da rede. Nem todo vizinho é perfeito.
(DC, 05/06/2011)
A turma
Todos os dias, o aposentado Loyd Ubatuba tem um compromisso: pegar a bicicleta, no Bairro Vorstadt, em Blumenau, para pedalar pela cidade. São três horas diárias de exercícios físicos que garantem ao homem, de 76 anos, saúde e diversão. Nesses passeios, não perde a oportunidade de parar às margens do Rio Itajaí-Açu para ver as capivaras. Nativas da região, já se tornaram parte da paisagem blumenauense. E o gosto pelos animais rende boas histórias para contar.
– Na Rua República Argentina (que fica às margens do rio), já passei por apuros. Várias capivaras apareceram correndo na minha frente e quase foram atropeladas – lembra Ubatuba.
A bióloga Elisabete Rechenberg explica que as capivaras vivem perto dos rios porque se alimentam de plantas que crescem nas margens e usam a água para fugir dos predadores. Por instinto, elas andam sempre em grupos. As capivaras são dóceis e tranquilas. Raramente atacam. E tanta calmaria fez até com que um pato se juntase a um grupo na Avenida Beira-Rio.
Há cerca de dois meses, Ubatuba percebeu que a ave seguia os roedores. Quando elas atravessavam o rio, ele as seguia. Quando elas dormiam, ele dormia. Semana passada, porém, o pato sumiu. Testemunhas contaram que viram dois homens pegando animal e fugindo.
– Sempre gostei das capivaras e o pato era um motivo a mais para eu parar para vê-las. Era muito engraçado, ele achava que era uma capivara. Pena que tem gente que não sabe apreciar a natureza – diz o aposentado.
(DC, 05/06/2011)
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