A introdução de novas espécies e a crescente ocupação das cidades são responsáveis pelo sumiço de alguns animais e pelo surgimento de outros que antes não existiam em SC. Tudo culpa do bicho homem
Santa Catarina é um paraíso não apenas para as pessoas, com praias, dunas e lagoas. É um paraíso também para os animais. Ou, ao menos, era, antes da ocupação humana. Por estar na faixa de transição entre os climas subtropical e tropical e por ter, em seus limites, o encontro das correntes marítimas do norte e do sul, SC contava com uma grande variedade de espécies na terra, no ar e na água. Mas muitos animais desapareceram ou podem desaparecer, principalmente pela ação do homem, com a introdução de espécies não nativas e a destruição dos hábitats dos bichos.
O biólogo da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Alair de Souza, destaca a biodiversidade do Estado. Mas, para ele, cada peça no sistema de conjunto de organismos tem uma função. Caso grandes intervenções se mantenham no ritmo acelerado pelo crescimento das cidades, a riqueza biológica pode se perder antes mesmo de se conhecê-la por completo.
A coordenadora técnica da organização não-governamental Ignis e do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), Ana Maria Rodrigues, ressalta a ameaça que as espécies sofrem. Além disso, para ela, a escassez de algum animal pode ser o alerta de que o ambiente está ruim. Por isso, envolve questões que afetam a todos, embora muitas pessoas não tenham essa percepção.
– O animal é indicativo da saúde ambiental. Ele acaba sumindo se o ambiente estiver degradado ou poluído – destaca.
Para ver como o território catarinense está de saúde, vale, então, lembrar algumas espécies que estiveram por aqui e aquelas que são “intrusas”.
(Por Gabriella Bitelbrun, DC, 06/06/2011)
Dia de sol e muito verde
O menino Davi tem apenas um ano e seu pai, Alex Juliano Barbosa, já está preocupado em lhe ensinar a amar a natureza e os animais. Ontem, num domingo de muito sol e friozinho agradável, o vigilante levou o filho ao evento realizado em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, na Beira-Mar de São José.
De forma lúdica, Davi conferiu o plantio de árvores, brincou nas réplicas de tartarugas do Projeto Tamar e com cachorros expostos para adoção. Outras três mil pessoas participaram das atividades.
O evento, promovido pela prefeitura e organizado pelo Diário Catarinense, contou com projetos ecológicos da região da Grande Florianópolis. Entre eles o de reciclagem da empresa Novo Ciclo, de compostagem de lixo orgânico da Chico Mendes, da Capital, além da presença da equipe do Parque Ambiental dos Sabiás, de São José, que distribuiu mudas de plantas nativas.
Alex, que estava disposto a adotar um dos cães da Ong Protetores e Amigos Trabalhando pelos Animais (Pata), disse que trouxe o filho para conscientizá-lo desde cedo sobre a importância de preservar o meio ambiente.
– Quero que ele aprenda a cuidar de plantas e dos bichos – conta o pai.
Outras atividades foram realizadas como pintura coletiva e brincadeiras com a arena kids do Sesc. Durante a semana, serão realizadas a limpeza da orla de São José e o plantio de flores na Beira-Mar. Na quarta-feira, o projeto de lei que cria o Jardim Botânico de São José, será encaminhado à Câmara.
(DC, 06/06/2011)
Caramujo africano
Pode parecer um pouco estranho para algumas pessoas, mas o caramujo africano foi trazido do sudeste do Brasil por volta da década de 1990 como ingrediente culinário. Segundo o Sargento da Polícia Militar Ambiental, Marcelo Duarte, os produtores catarinenses empolgaram-se com a novidade mas, pela pouca aceitação dos clientes, abandonaram algumas áreas de cultivo. Como o animal é hermafrodita, com sistemas reprodutores dos dois sexos, ele se multiplicou rapidamente. Outro motivo para a grande proliferação é a falta de predadores para o molusco. De acordo com o sargento Duarte, o caramujo africano transmite doenças para o homem. Por isso, pode ser considerado um problema de saúde pública, principalmente, na Capital catarinense, caso a reprodução do molusco não seja controlada.
(DC, 06/06/2011)
Os animais que estão sumidos e…
Onça pintada
O último registro da onça pintada em Santa Catarina foi há quarenta anos. De acordo com a analista ambiental do ICMBio, Edineia Caldas Correia, os animais predadores são os que sentem primeiro os impactos da ocupação humana porque estão no topo da cadeia alimentar. A onça sofreu com o desmatamento, causando a destruição de seu hábitat natural, já que precisava de grandes áreas verdes para sobreviver. Mas a onça desapareceu também pela redução de suas opções alimentares. Com o fim das florestas, animais de menor porte morreram ou se dispersaram, diminuindo as chances de caça deste felino que necessitava de cerca de dois quilos de alimento por dia.
(DC, 06/06/2011)
Toninha
Junto com o golfinho cinza e o nariz de garrafa, a toninha estava entre as três espécies de golfinho mais frequentes em SC. O animal era encontrado, principalmente, no litoral norte do Estado. Hoje, é uma das espécies mais ameaçadas do país. Entre as causas de desparecimento e morte das toninhas estão a interferência das embarcações, a poluição das águas e a captura em pesca.
– Não é proposital a pesca desses golfinhos. Geralmente, é acidental, mas os animais não resistem – explica a analista ambiental Edineia Caldas Correia.
Uma das dificuldades para a espécie se manter são os poucos filhotes gerados a cada gestação. Em média, dois.
(DC, 06/06/2011)
Gavião- pega-macaco e harpia
As aves de rapina podiam ser encontradas por todo o Estado. Mas, como destaca a analista ambiental, Edineia Correia, o gavião-pega-macaco talvez nem possa mais ser visto na região de Florianópolis, e a harpia provavelmente tenha desaparecido de SC. O maior problema tem sido a falta de oferta de alimento, como pequenos mamíferos. O gavião-pega-macaco, por exemplo, come filhotes de macacos-prego. Esses primatas estão em menor número pela competição alimentar com os saguis na Ilha de Santa Catarina.
(DC, 06/06/2011)
Os que foram trazidos para o Estado
Bico-de-lacre e pardal
Os animais foram trazidos com os europeus, ainda durante a colonização do Brasil, como aves ornamentais, no início do século 19 por D. João VI. Também por serem soltos ou por fugirem das gaiolas, os pássaros se espalharam em todo o país, inclusive por Santa Catarina. Mas, enquanto o bico-de-lacre se adaptou bem à natureza local, sem causar desequilíbrios ambientais, o pardal traz problemas para a agricultura.
Fazem parte do cardápio diário do pequeno pássaro, entre outros alimentos, quantidades de arroz e trigo, o que prejudica as plantações de grãos no Sul de Santa Catarina.
(DC, 06/06/2011)
Sagui
Os saguis foram trazidos do Sudeste e do Nordeste, principalmente depois da década de 1980, como bichos de estimação e mercadorias. Muitos fugiram ou foram soltos na Ilha de SC pelo comportamento agressivo que podem apresentar na puberdade. Na Ilha, as espécies mais vistas são o sagui-de-tufo-branco, o sagui-de-tufo-preto e o sagui-de-cara-branca. Elas encontraram ambiente propício pela grande quantidade de alimento – frutas, sementes e até ovos de aves – e pela falta de predadores.
– Trazer animal de outras regiões é um problema fácil de causar e quase impossível de resolver – destaca Edineia Caldas Correia.
Uma saída para evitar o desequilíbrio seria a eutanásia de alguns animais.
(DC, 06/06/2011)
Quati
O quati é um animal nativo de SC. Mas, há cerca de três décadas, alguns casais da espécie foram levados também para a Ilha do Campeche. A área pequena, aliada à ausência de predadores e à abundância de alimentos – como insetos e frutas que, no verão, ainda são mais frequentes com a presença de visitantes –, fez com que a população de quatis aumentasse sem controle. Por se alimentarem também de ovos de aves, eles já começam a ameaçar espécies como a tiê-sangue. De acordo com o biólogo da Universidade Federal de SC (UFSC) e do Instituto Larus, de conservação ambiental, Jorge de Freitas, o quati já se configura como um problema ambiental naquela área.
(DC, 06/06/2011)
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