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Desaparecer é ameaça real a animais ameaçados de extinção em Santa Catarina

O Diário Oficial da União deve publicar, nos próximos dias, a lista de animais que são ameaçados de extinção em Santa Catarina. A relação de espécies que se enquadram ainda está em discussão

A lista dos animais ameaçados de extinção em Santa Catarina está para ser oficializada. O presidente da Fundação do Meio Ambiente (Fatma), Murilo Flores, diz que a divulgação no Diário Oficial da relação dos animais é uma “questão de dias”.

De acordo com Flores, o levantamento foi aprovado em abril pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema). Falta apenas a liberação da relação. O parecer do Conselho é aguardado desde julho de 2010.

Já a secretária executiva do Consema, Myrna Murialdo, diz que o levantamento não foi publicado porque ainda está em discussão com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) alguns aspectos como o de quem já tem licença ambiental para criar animais ameaçados. Segundo ela, uma nova reunião para resolver o caso está marcada para 1o de julho.

A lista dos animais em extinção foi feita pela organização não-governamental Ignis, com sede em Itajaí, entre 2007 e 2010. Em 2008, a Fatma destinou R$ 360 mil para financiar o estudo. Segundo a coordenadora técnica da Ignis e integrante do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ana Maria Torres Rodrigues, a elaboração da lista envolveu mais de cem pesquisadores de todo o país e avaliou 1961 espécies de Santa Catarina. O Estado é o único da região Sul e Sudeste que ainda não conta com uma lista oficial de animais ameaçados. Para ela, o governo do Estado precisa formalizar o quanto antes a lista e investir em medidas que possam reverter o quadro de extinção.

– O objetivo é tirar esses animais da lista assim que possível – reforça.

O professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Instituto Larus de conservação ambiental Jorge de Freitas concorda que o levantamento deve vir acompanhado de uma política estatal de proteção das espécies, com o aumento da fiscalização e das penalidades dos infratores da legislação sobre animais.

A lei considera crime relacionado à fauna matar, recolher, manter em cativeiro, perseguir animais silvestres ou expô-los a maus-tratos. O criminoso responde a processo administrativo e penal e deve pagar uma multa de R$ 500. Caso o animal esteja na lista nacional ou internacional, o valor sobe para até R$ 5 mil.

Os animais da lista estadual também exigirão os valores mais altos. Só neste ano, o Ibama já aplicou cerca de cem multas. Já na Polícia Ambiental, cerca de 1,3 mil animais foram apreendidos, com a aplicação de multas, no último ano.

A SÉRIE
CONFIRA ALGUMAS ESPÉCIES AMEAÇADAS
ESPÉCIE NOME COMUM
Aburria jacutinga jacutinga
Eudocimus ruber Guará
Harpia harpyja gavião-real
Sporophila angolensis Curió
Spizaetus melanoleucus gavião-pato
Strix huhula coruja-preta
Carpornis melanocephala Sabiá-pimenta
Diomedea epomophora albatroz-real
Procellaria aequinoctialis pardela-preta
Oreaster reticulatus Estrela-do-mar
Alouatta caraya Bugio
Cavia intermedia Preá
Leopardus pardalis jaguatirica
Eubalaena australis baleia -franca
Ozotoceros bezoarticus veado-campeiro
Dermochelys coriacea tartaruga-de-couro

(DC, 07/06/2011)

O motivo de tanta demora

O Brasil tem uma lista de animais em extinção desde a década de 1980. A última publicação foi em 2003 e está sendo revisada. O presidente da Fatma, Murilo Flores, explica que a lista catarinense demorou a ser elaborada e aprovada pela necessidade de um grande debate técnico. Para ele, a iniciativa para realizar um levantamento com os animais em extinção não tinha sido tomada antes também pela falta de amadurecimento na sociedade para aprovar medidas de preservação.

– Nos Estados Unidos, por exemplo, a caça é regulamentada para se reduzir a população de animais que não têm inimigos naturais. Enfim, precisa de maturidade para entender algumas medidas para o equilíbrio ecológico. Aqui, ainda estamos engatinhando – diz Flores.

Após a oficialização do levantamento, o Estado deve investir na preservação dos espaços para os animais ameaçados e na fiscalização dos crimes ambientais. Mas, para o presidente da Fatma, também tem de ser lançadas campanhas em prol das causas ambientais.

– É necessário uma ação mais dura para punir os crimes contra o meio ambiente, só que também se precisa divulgar ao máximo a importância da preservação das espécies. As pessoas têm que ter consciência para ajudarem na fiscalização dos crimes ambientais – diz Flores.

(DC, 07/06/2011)

Ficou de fora

Os responsáveis pelo Projeto Lontra questionam a credibilidade da lista de animais em extinção que está para ser oficializada em SC. O coordenador geral de projetos e pesquisa do Instituto Ekko Brasil, responsável pelo Projeto Lontra, Carvalho Júnior, lamenta que o projeto, que estuda e recupera lontras machucadas há 25 anos no Estado, nem sequer tenha sido consultado.

– Gostaria de saber por que decidiram nem falar conosco – afirma.

A lontra está nas listas de extinção do RS e do PR. Para Carvalho, o animal também está altamente ameaçado em SC. Carvalho defende que, mais do que se elencar espécies extintas, sejam tomadas medidas urgentes para se preservar os locais por onde os animais se deslocam.

– A lontra se movimenta muito entre as partes da cidade. Não adianta criar unidades de conservação sem se garantir os corredores ecológicos. Preservar a espécie é preservar os ambientes onde ela vive.

Mas a coordenadora do grupo de estudos de mamíferos da Ignis, organização não-governamental que fez o levantamento das espécies em extinção em SC, Marta Cremer, considera que não houve um declínio considerável da população de lontras no Estado. Segundo ela, a lontra não é tão sensível e nem tão exigente em termos de hábitat, o que facilita a preservação. A coordenadora técnica do levantamento da Ignis, Ana Maria Torres Rodrigues, explica que o estudo considerou critérios de organizações internacionais, como da união de preservação da natureza IUCN. Entre esses critérios está a quantidade e o tempo de vida dos indivíduos de cada espécie, o potencial reprodutor, a criação de ambientes para se desenvolverem e o grau de ameaça, ou seja, os aspectos que podem reduzir a população.

Os animais que vivem em uma área restrita, por exemplo, ou aqueles mais facilmente caçados, estão mais suscetíveis ao desaparecimento.

A recomendação é de que a relação dos animais em extinção seja reformulada a cada cinco anos, observando-se quais animais saíram do risco de desaparecimento. O presidente da Fatma, Murilo Flores, concorda que a lista tem que ser dinâmica. Ele diz que a relação de animais pode ser alterada, desde que pesquisadores apresentem dados e comprovação técnica do risco.

Em nota, a IUCN lamenta a ausência da lontra na lista. A união considera que o animal merece ser caracterizado como “vulnerável” para se investir na preservação da vegetação das margens, hábitat típico da espécie.

(DC, 07/06/2011)

Para eles, pode ser mais rápido

A bióloga do ICMBio, Edineia Caldas Correia, lembra que, com o aquecimento global e a destruição dos hábitats, nenhum animal está livre da extinção. Mas, para algumas espécies catarinenses, o desaparecimento pode vir ainda mais rápido.

O preá do Arquipélago de Moleques do Sul, em Palhoça, corre o risco de desaparecer independentemente da ação do homem.

A população que vive na ilha de 9,86 hectares não passa de cem. Qualquer evento atípico na área, como a introdução de um animal que possa se tornar predador da espécie ou mesmo um incêndio acidental pode exterminar o mamífero, porque ele tem um hábitat muito específico e só vive lá.

Animais ameaçados pela ocupação humana

O lagartinho da restinga pode desaparecer pelo fim de onde ele vive. A restinga é a área de 300 metros que beira o mar. Na Capital, por exemplo, essa faixa está ameaçada pela intensa ocupação humana com a construção de loteamentos.

A jacutinga precisa de grandes áreas para sobreviver, sendo intolerante à presença humana. Assim como outros animais predadores, a ave está ameaçada também pela falta de alimento. Por enquanto, a jacutinga pode ser encontrada em unidades de preservação, como o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, na Grande Florianópolis.

(DC, 07/06/2011)

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