Peças são bem conservadas, mas passam despercebidas pela população, apesar de terem relevência histórica e artística
Em algum momento, alguém os considerou heróis. Tanto que ganharam bustos ou estátuas na cidade ou no estado de origem. Hoje, para parte da população, não são mais que nomes famosos, alguns dados também a ruas. Em Florianópolis, é o que acontece com Fernando Machado, Anita Garibaldi, Hercílio Luz, Cruz e Souza, Jerônimo Coelho, Victor Meirelles, Vidal Ramos, José Boiteux, e Lauro Müller, entre outros.
Apesar de estarem bem instalados e cuidados, melhor até que muitas pessoas vivas, os bustos e as estátuas da capital são ignorados pela maioria dos passantes. Mesmo quem para e tira foto das peças não se importa com o significado e a importância da figura retratada. Após fotografar a imagem de Jerônimo Coelho, fundador da imprensa catarinense, na Praça 15 de Novembro, o funcionário público Marcelo Castro, 36, de Maringá, disse se tratar do “fundador da companhia não sei do que”.
Cena parecida ocorreu nesta semana com integrantes de uma daquelas excursões turísticas em que os guias dão dez minutos para os guiados admirarem cada local. Foi na praça Fernando Machado, onde há uma estátua do militar, que lutou na Guerra do Paraguai. Três amigas fizeram uma corrida de revezamento para posarem em frente ao busto e partirem para a próxima atração. Sequer leram o nome de quem se tratava.
O oposto fez a turista italiana Maria Pia, 55. Parada em frente à imagem de Hercílio Luz erguida na cabeceira da ponte que também leva o seu nome, ela ouviu atentamente a explicação do guia sobre quem foi essa personalidade. Além disso, observou o estilo artístico da obra e comentou: “Na Itália, e na Europa toda, somos apaixonados por história. Estou impressionada como aqui não se valoriza isso”.
Bustos têm importância histórica, artística e urbanística
Apesar de pouco valorizados pela população, até porque são objetos característicos de outro momento, os bustos e as estátuas têm relevância histórica e artística porque guardam informações sobre a trajetória do Brasil. O professor de História da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) Reinaldo L. Lohn explica que boa parte dessas peças foi construída no período da República (1889 a 1930) em todo o país.
O intuito teria sido fortalecer o sistema republicano, já que a figura do imperador ainda era bastante popular na época, e o nacionalismo. “Foi um processo chamado de republicanização. Nomes de ruas, eventos e até da cidade (antigamente, Desterro) foram mudados para homenagear personalidades republicanas”, diz.
O valor dos bustos e das estátuas como obras de arte é mostrar um estilo que não é mais dominante, o chamado acadêmico, inspirado nas escolas europeias e característico por retratar as pessoas com a maior proximidade do real possível. “A partir dos anos 50, o país passou por uma modernização da arquitetura e das artes. Mas as pessoas ainda costumam achar mais bonito um monumento antigo que um feito por Oscar Niemeyer, por exemplo”, ressalta Lohn. Além disso, são como exposições gratuitas na rua, o que democratiza e populariza a arte.
De acordo com o especialista, esses objetos ainda funcionam como guardiões dos espaços públicos, impedindo que “a especulação imobiliária tome conta dessas áreas, cada vez mais restritas”.
Principais bustos da capital
Fernando Machado (1822 – 1868)
Quem foi: Coronel que dedicou sua vida ao serviço militar, iniciando aos 15 anos. Combateu na Guerra do Paraguai.
Autor da obra: José Otávio Correa Lima (1917), escultor que fez carreira no Rio de Janeiro e em Roma. Lecionou na Escola Nacional de Belas Artes.
Onde ver: praça Fernando Machado, ao lado do Largo da Alfândega.
Anita Garibaldi (1821 – 1849)
Quem foi: Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como “Heroína dos Dois Mundos”, lutou na Revolução Farroupilha e no Movimento de Unificação da Itália. Natural da região de Laguna, foi casada com o revolucionário Giuseppe Garibaldi.
Autor da obra: Antônio de Matos (1920), escultor que atuou também em Minas Gerais.
Onde ver: praça Getúlio Vargas, conhecida como praça dos Bombeiros.
Hercílio Luz (1860 – 1924)
Quem foi: o engenheiro e político Hercílio Pedro da Luz governou Santa Catarina três vezes e foi senador. Construiu a ponte que leva o seu nome, mas morreu antes de a estrutura ser inaugurada.
Autoria da obra: desconhecida (1936).
Onde ver: praça Hercílio Luz, na cabeceira da ponte que fica ao lado do Parque da Luz.
Cruz e Sousa (1861 – 1898)
Quem foi: filho de ex-escravos, o poeta florianopolitano é conhecido ao redor do mundo como o maior simbolista brasileiro. Foi diretor de um jornal abolicionista e nomeado promotor de Laguna, mas rejeitado, mais tarde, por ser negro.
Autoria da obra: Antônio de Matos (1919).
Onde ver: praça 15 de Novembro.
Victor Meirelles (1832 – 1903)
Quem foi: o pintor catarinense estudou na Academia Imperial de Belas Artes, onde ganhou o Prêmio de Viagem da Academia, que possibilitou que passasse vários anos em aperfeiçoamento na Europa. Lá, pintou uma de suas obras mais conhecidas, “A Primeira Missa no Brasil”. De volta ao país de origem, se tornou um dos artistas preferidos de Dom Pedro II.
Autoria da obra: escultor, pintor e restaurador Eduardo Sá (1926), que estudou na Academia Imperial de Belas Artes com Victor Meirelles. Fez cursos em Paris e obras no Rio de Janeiro.
Onde ver: praça 15 de Novembro.
Jerônimo Coelho (1806 – 1860)
Quem foi: Jerônimo Francisco Coelho, jornalista, político e militar, fundou “O Catharinense”, o primeiro jornal da então província de Santa Catarina. Foi deputado seis vezes e ministro da Marinha.
Autoria da obra: José Otávio Correa Lima (1919).
Onde ver: praça 15 de Novembro.
Lauro Müller (1863 – 1926)
Quem foi: Lauro Severiano Müller foi ministro da Viação e Obras Públicas e das Relações Exteriores, senador, governador de Santa Catarina, deputado, constituinte republicano e general do Exército.
Autoria da obra: desconhecida, assim como a data de realização.
Onde ver: praça Lauro Müller, ao lado do hotel Majestic.
Celso Ramos (1897 – 1996)
Quem foi: Filho de Vidal Ramos, foi governador do estado de 1961 a 1966. O lageano ainda presidiu o Avaí Futebol Clube.
Autoria da obra: Marino Malinverni (data desconhecida), filho do italiano Agostinho Malinverni, que construía mausoléus de famílias importantes da região de Lages, onde vivia. Aprendeu o ofício com o pai e passou a produzir anjos, santos, grutas e placas, entre outros objetos de arte.
Onde ver: praça Celso Ramos, na Agronômica.
Vidal Ramos (1895 – 1902)
Quem foi: ocupou os cargos de deputado sete vezes, presidente de Santa Catarina de 1910 a 1914 e senador de 1915 a 1929.
Autoria da obra: desconhecida (1966).
Onde ver: praça Pereira Oliveira, ao lado do Teatro Álvaro de Carvalho.
Bulcão Vianna (1875 – 1940)
Quem foi: Antônio Vicente Bulcão Vianna nasceu em São Francisco do Conde, na Bahia, estado onde se formou em Medicina. Foi médico do Exército, servindo no Hospital Militar de Florianópolis, de 1905 ao seu falecimento.
Autoria da obra: escultor Nicodemus (1943), com a ajuda do artista plástico Zacco Paraná e do construtor João José Mendonça.
Onde ver: praça Getúlio Vargas.
Carl Hoepcke (1844 – 1924)
Quem foi: O alemão Carl Franz Albert Hoepcke veio para o Brasil com 19 anos. Morou em Blumenau, mas se estabeleceu como empresário de destaque na indústria, no comércio e na navegação em Florianópolis.
Autoria da obra: desconhecida, assim como a data de realização.
Onde ver: praça Getúlio Vargas .
José Boiteux (1865 – 1934)
Quem foi: foi jornalista, historiador, advogado e deputado estadual. Considerado patrono do ensino superior em Santa Catarina, fundou a Sociedade Catarinense de Letras.
Autoria da obra: escultor Marinho Portela (1944).
Onde ver: praça 15 de Novembro.
(Por Anita Martins, ND, 02/05/2011)
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1 Comentário
se em vez, de ficar gastando dinheiro para realizar manutenção nestes bustos.investissem no cuidado da cidade seria muito mais proveitos floripa esta muito mal.são morros com mata atlantica sendo domados,são mangues que aos poucos vão sendo tomados por especuladores imobiliários.a cidade esta abandonada.as praias não possuem nenhuma infrasetrututa para receber turistas.uma vergonha.e querem se preocupar com bustos.e não se tem com quem reclamar.cada orgão publico joga a responsabilidade em outro orgão publico.estou com vergonha de floripa,trabalho com turismo mas,estou muito decpcionado.ta na hora de retomar a idéia de divisão do municipio de floripa.