Integrantes da “Revolução dos Baldinhos” ocupam terreno da Cohab, mas querem lote que foi prometido pela Prefeitura
A “Revolução dos Baldinhos”, projeto que coleta e transforma em adubo o lixo orgânico produzido nas comunidades de Chico Mendes, Monte Cristo e Novo Horizonte, no Continente, está sem terreno para trabalhar. O pátio da Escola Estadual América Dutra Machado, onde eram feitas as composteiras (buracos no solo onde os dejetos são enterrados para se decompor) lotou. Agora, para evitar a paralisação das atividades, os integrantes do programa adotaram uma estratégia do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra): ocupar propriedades que não estão sendo utilizadas.
Um lote da Cohab-SC (Companhia de Habitação do Estado de Santa Catarina), na frente do conjunto habitacional Panorama, no Monte Cristo, foi o lugar escolhido pela “Revolução dos Baldinhos”, que mudou a realidade das localidades onde atua pois fez o lixo orgânico desaparecer das ruas, diminuindo a quantidade de ratos e o risco de leptospirose. “Antes, só tinha entulho e usuários de crack neste terreno. Agora, está tudo limpo. Só falta o pessoal que mora em volta entender que estamos fazendo um negócio legal”, conta a bolsista do projeto Rose Helena Rodrigues, 38.
Mas a ocupação não deve durar muito, de acordo com a presidente da Cohab-SC, Maria Darci Mota Beck. “Ninguém vai usar ali. Estamos fazendo uma licitação para colocar uma cerca no terreno. Uma parte já foi cedida para a comunidade fazer uma área de lazer. Devemos construir um condomínio, permutar ou vender aquilo”, afirma.
Prefeitura promete ceder terreno
O engenheiro agrônomo da ONG Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo) Marcos de Abreu, que coordena o projeto, diz que está esperando a Prefeitura de Florianópolis ceder um pedaço de terra que prometeu. O secretário adjunto de Habitação e Saneamento Ambiental, Nelson Bittencourt, garante que há um espaço que pode ser destinado ao projeto, ao lado da Escola Estadual América Dutra Machado.
Bittencourt afirma havia um plano de construir um muro, um banheiro e uma sala de almoço no local para dar mais estrutura à “Revolução dos Baldinhos”. Mas, segundo ele, a verba de R$ 120 mil que poderia ser aplicada na obra foi cortada pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “Agora, vamos conversar com o pessoal do projeto para ver se o terreno só com uma cerca serve. Até o fim desta semana, devemos ter uma posição. Não podemos perder uma iniciativa tão interessante como essa”, ressalta.
Projeto recolhe 10 toneladas de resíduos por mês
A “Revolução dos Baldinhos” coleta dez toneladas de lixo orgânico por mês. As bombonas com tampa espalhadas pela comunidade, onde são depositados os resíduos, são recolhidas às terças e sextas. Nos outros dias da semana, é feita conscientização em casas, creches e escolas, entre outras entidades.
O adubo produzido a partir do lixo é distribuído nas comunidades, incentivando a criação de hortas. Até na Creche Municipal Chico Mendes, há uma pequena plantação de espinafre, milho, batata e outras verduras e legumes que são servidos na merenda.
Com uma verba mensal de R$ 20 mil que recebe da Eletrosul, o projeto paga R$ 500 para seis bolsistas fazerem o trabalho. O patrocínio vale até setembro, quando a Cepagro terá de renovar a parceria ou procurar um novo apoiador.
Nesta semana, a PM (Polícia Militar) começou a contribuir com o projeto, levando dejetos e serragens da cavalaria para o local onde o trabalho está sendo realizado. “O conceito ideal de composteira é com resto de comida, esterco animal, serragem e palha. Agora, temos tudo. O processo de transformação em adubo, que demorava seis meses, agora vai levar quatro”, comemora o agrônomo da Cepagro.
(Por Anita Martins, ND, 30/05/2011)
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