Os brasileiros compraram, em 2010, aproximadamente 30 milhões de celulares. E você, que é brasileiro, sabe bem o que é feito com o modelo anterior, agora obsoleto: a primeira é dar para alguém que não liga para as modernidades da tecnologia, e fica com ele; a segunda é a lixeira.
Como se sabe, o lixo não evapora no ar – na verdade, ele costuma ocupar muito espaço e na cabeça de ambientalistas e políticos comprometidos. E a preocupação tem fundamento, principalmente no Brasil. Os países desenvolvidos ainda são os maiores produtores de lixo eletrônico, mas, segundo relatório divulgado pela ONU no início do ano passado, dos emergentes, o Brasil é o que produz o maior volume deste tipo de lixo a cada ano – meio quilo por pessoa. Sendo um país de 200 milhões de pessoas, são 100 milhões de toneladas.
Essa montanha de eletroeletrônicos fora de uso é reflexo do crescimento econômico dos últimos anos. Com o avanço do poder de consumo da classe C, as famílias puderam trocar antigos aparelhos por novos, e a tendência é que se faça isso com cada vez mais frequência.
Com tanta produção de lixo e preocupação com o meio ambiente foi sancionado, em agosto do ano passado, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos. A medida obriga fornecedores e fabricantes a criarem políticas ambientais para os aparelhos eletrônicos que são jogados fora. Ao invés de, como antes, simplesmente colocar aquela velha televisão de tubo no lixo, agora o consumidor deve encaminhá-la ao comerciante ou distribuidor e estes devolvem ao fabricante. É o princípio da logística reversa: os produtos devem seguir um ciclo que começa com o fabricante e termina com ele.
A natureza agradecece
O principal problema do descarte inadequado dos eletrônicos é a sua composição perigosa. Quase todos eles são feitos de plástico, material que pode demorar séculos para se decompor. Grande parte possui toxinas ou metais pesados, e isso gera uma série de problemas quando depositados em lixões ou incinerados. No caso dos lixões esses componentes contaminam o solo ou um possível lençol freático. Quando incinerados, liberam poluentes nas cinzas que produzem e estas acabam na atmosfera. A liberação de mercúrio, por exemplo, pode afetar cadeias alimentares, principalmente de peixes, e, consequentemente, contaminar humanos.
O que estamos fazendo
Na UFSC, o responsável pelo gerenciamento dos resíduos produzidos no Hospital Universitário é Luiz Carlos Pereira. Ele explica que todo o material que entra e sai da UFSC é catalogado, possibilitando um melhor controle sobre o destino dos resíduos. O que está estragado, mas que ainda pode ser aproveitado ou reciclado é distribuído para ONGs cadastradas. No momento são apenas três, mas nos próximos meses este número irá se ampliar para 18. São elas que irão fazer a separação dos resíduos para revendê-los para empresas que, por sua vez, fazem o processamento desse material previamente separado.
Um dos destinos deste lixo eletrônico produzido na UFSC é o Comitê para Democratização da Informática (CDI-SC). O que o CDI recebe passa por uma avaliação de usabilidade, para verificar o que funciona e ainda pode ser reaproveitado. O que vale a pena salvar é usado para montar novos computadores, que são encaminhados para instituições de caridade e telecentros – lan-houses gratuitas localizados em bairros carentes – ligados ao CDI.
Luiz Carlos exemplifica o quanto as coisas podem ser reaproveitadas: “Em um curso de manutenção de computadores que fizemos conseguimos transformar doze PCs velhos em quatro novos”. O que muitas vezes acontece é um componente estragar e todo o conjunto é jogado fora; se não isso, a tecnologia simplesmente fica ultrapassada. De uma forma ou de outra, na maioria dos lugares, o resíduo tecnológico vai para lixões e aterros sanitários, antes que se possa salvar qualquer coisa.
Ambientalmente correto e Lucrativo
O CDI-SC trabalha em conjunto com a Compuciclado, que se dedica à reciclagem de eletroeletrônicos. Um indicativo de que esse mercado se encontra em larga expansão são os números da empresa: de acordo com a coordenadora administrativa da empresa, Denise Rae, em março passaram 40 toneladas de lixo eletrônico por lá, sendo seis toneladas de ferro, revendido a empresas que possuem a tecnologia para reaproveitá-lo. Apenas na cidade são, pelo menos, mais três concorrentes. Se somadas todas as quantidades de lixo que passam pelos recicladores da capital, sabe-se que eles não dão conta de atender a demanda da região.
Porém, toda a motivação por trás pela reciclagem de eletrônicos não é puramente ambiental. O interesse das empresas é em algum componente valioso presente nos aparelhos. Telefones celulares contém, em média, 19% de cobre e 8% de ferro. Na Compuciclado, por exemplo, são separados ferro, plástico, alumínio, cobre, vidro e placas de computador – estas últimas são as mais interessantes. De acordo com a Associação de Coletores de Materiais Recicláveis (ACMR, ligada à COMCAP), elas são vendidas a seis reais o quilo – seis mil reais a tonelada. Não à-toa: elas contêm em sua composição, em média, 21 metais, dentre eles pequenas quantidades de ouro, platina ou índio, por exemplo – este último custando, hoje, aproximadamente 700 dólares o quilo.
As placas, no entanto, não são decompostas no Brasil. A tecnologia para separação dos metais ainda não existe no país, por isso elas são vendidas para outras empresas que fazem o serviço, localizadas nos Estados Unidos e Europa, principalmente.
Como descartar?
Para um destino adequado do lixo eletrônico, são duas alternativas: depositá-los em um dos postos de coleta ou contatar uma das empresas que fazem o serviço na cidade.
(Por Giovanni Bello, Cotidiano, 05/04/2011)
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