Força-tarefa entre Prefeitura, PM, PF e GM vai apreender produtos de ambulantes que insistirem na venda ilegal nesta quarta
Quem passou nesta terça-feira (26) pelo Centro da Capital notou um clima diferente do que o habitual. O primeiro dia da força-tarefa organizada pela Prefeitura Municipal para acabar com o comércio ilegal na região surtiu efeito, embora tenha dividido opiniões entre moradores e ambulantes. A ação começou às 7h e foi até as 19h, com a participação de três fiscais da SESP (Secretaria Executiva de Serviços Públicos), três funcionários do programa de abordagem de rua, da Secretaria Municipal de Assistência Social, e três guardas municipais por turno. As polícias Militar e Federal deram apoio à operação.
Segundo o secretario executivo de serviços públicos, Salomão Mattos Sobrinho, a ação de ontem foi mais educativa do que repressiva. “Todos foram avisados que não podem trabalhar ilegalmente e amanhã (quarta-feira) a operação será repressiva. Eles só poderão voltar a trabalhar quando forem autorizados”, comenta. Na tarde de terça, os ambulantes foram recebidos na SESP para uma reunião com o secretário e para fazer o cadastro da atividade, inclusive aqueles que já possuem alvará da prefeitura. Os vendedores de pipoca, milho verde, pinhão, água de coco e cachorro quente, em torno de 40, são os únicos que tem a licença para trabalhar na rua.
Até o final da tarde de terça, 77 ambulantes se inscreveram na SESP. Eles serão avaliados pela secretaria, que só então determinará quem poderá voltar a vender os produtos. Muitos terão que trocar de atividade. “Vamos avaliar a situação e verificar se o produto não concorre com o comércio fixo. Se concorrer, a pessoa vai ter que achar outro trabalho. Vamos analisar também se o local em que a pessoa está é o adequado para a venda. Poderemos fazer o remanejamento para feiras de alimentos e de artesanato. Esperamos que em duas semanas isso já esteja resolvido. Daremos prioridade para que os deficientes voltem a vender e para quem já tem o alvará”, explica Mattos.
Opiniões divididas entre os moradores
Entre a manhã e a tarde de terça, as pessoas conseguiam caminhar naturalmente pela calçada central da avenida Paulo Fontes, sem esbarrar nos ambulantes que comercializam diversos tipos de produtos no local. Em frente ao Camelódromo, a população sentia falta dos vendedores de passes de papel para as linhas de ônibus intermunicipais. Comprar cachorro quente, pipoca ou milho não era possível. Até mesmo a panfletagem foi impedida de acontecer.
Para Thiago Xavier, 24, a ação diminuiu a poluição e o movimento na região central da cidade. “Normalmente é uma loucura. Mas, por um lado, eles estão trabalhando ao invés de estarem roubando”, afirma. A copeira Tânia Regina da Silva, 52, é da mesma opinião. “Tem gente que necessita fazer isso para viver. Se tiver um local mais apropriado para eles venderem seus produtos aí seria melhor. Fica mais livre pra gente caminhar com as crianças por aqui”, comenta. Eli da Silveira, 60, achou ótimo que os ambulantes saíram da frente do TICEN (Terminal Central). “Depois que desço do ônibus nem dá pra passar por ali. Há tempos ficava pensando que alguém tinha que fazer alguma coisa. Eles tem que ir trabalhar na cidade deles”, diz.
Ambulantes não têm data para retornar ao trabalho
O uruguaio Eduardo Fonseca veio para Florianópolis no dia 3 de fevereiro para vender artesanato e lenços. Ele era o único ambulante comercializando produtos em frente ao TICEN na tarde de terça. “Fiquei sabendo da ação, mas achei estranho, porque na semana passada eu estava vendendo aqui e o fiscal veio, me olhou, pediu pra eu arrumar os produtos e permitiu que eu continuasse trabalhando. Uma semana pode e na outra não?”, questiona.
João Ferreira dos Santos, dono de uma barraca de churros no Centro da cidade, foi pego de surpresa pela operação da força-tarefa. Ele tem o alvará da prefeitura, mas, mesmo assim, foi impedido de vender e teve que ir até a SESP. “Trabalho há 15 anos no local. Não sei o que será agora, porém espero que resolvam logo a situação, porque senão não posso trabalhar”, relata.
Já Eloisa Luciara Vieira vende artesanatos na rua Felipe Schmidt e trabalha com panfletagem há quatro anos. Ela não tinha o alvará, mas foi até a secretaria regularizar a situação. “Trabalhava em uma farmácia, mas sofri cinco assaltos a mão armada, entrei em depressão e não quis mais voltar. Acho que essa ação vai melhorar nosso trabalho, mas preciso trabalhar, já que tenho despesas pra pagar e dependo disso”, comenta.
Vendedores de passe serão realocados
A situação dos 110 vendedores de passes de papel cadastrados na SESP será resolvida nesta quarta, em reunião com o secretário e com representantes dos vendedores. Ontem, eles também foram impedidos de comercializar, porém continuaram com a atividade de forma mascarada para fugir da fiscalização.
Segundo Mattos, os vendedores terão um espaço próprio para vender de forma organizada os passes. “O passe de papel está com os dias contados. São poucas linhas que ainda alimentam as vendas. Isso dará tempo para que eles passem para uma outra atividade, mas eles saíram do local em que estão”, garante.
PF e Abordagem de Rua tiram estrangeiros das ruas
Os funcionários do programa de abordagem de rua da Secretaria Municipal de Assistência Social e a PF (Polícia Federal) encaminharam três argentinos para o NAF (Núcleo de Apoio à Família), que fica no Terminal Rodoviário Rita Maria. Eles trabalhavam ilegalmente na Capital com visto de turista. “Eles foram identificados e a equipe conversou com um primo deles no Brasil que disse os ajudaria. Não trabalhamos só com repressão, é uma ação multidisciplinar”, comenta o delegado da PF, Ildo Rosa.
Além dos três argentinos, dois moradores de rua foram encaminhados ao Creas Pop (Centro de Referência Especializado para a População de Rua). Na força-tarefa, os assistentes e educadores sociais da abordagem de rua estão ajudando a identificar os ambulantes que por questões sociais permanecem na venda ilegal de produtos. “Viemos dar um suporte nesse sentido. Mas nosso trabalho continua. Fazemos de 100 a 150 abordagens mensalmente”, explica Leila Franzoni, assistente social.
(Por Emanuelle Gomes, ND, 27/04/2011)
Lei e ordem na região central
Da coluna de Carlos Damião (ND, 27/04/2011)
Força-tarefa cumpriu bem sua missão, impedindo a atuação de ambulantes e recolhendo moradores de rua
Quem circulou pelo centro de Florianópolis durante a terça-feira (26) há de ter se surpreendido com a súbita tranquilidade nas ruas. Desde as primeiras horas da manhã, fiscais, policiais militares, civis e federais, ocuparam a região central para evitar a ação dos ambulantes. A prefeitura, em conjunto com os órgãos de segurança, também recolheu alguns moradores de rua nos pontos mais críticos, como a Rua Victor Meirelles. O choque de ordem era aguardado há muito tempo – e esta coluna antecipou sua realização na edição do último fim de semana. Felizmente, a prefeitura da Capital resolveu dar um basta à anarquia que imperava no Centro, comprometendo a qualidade de vida e a própria dinâmica da economia local. Segundo o secretário de Governo, Gean Loureiro, a ação não tem volta. Será repetida tantas vezes quantas forem necessárias, até que os infratores desistam de desafiar a legislação.
Passes
Um dos fenômenos mais problemáticos das ruas de Florianópolis é o dos vendedores de passes de ônibus. Cerca de 120 pessoas vivem desse comércio clandestino, que deve acabar naturalmente. Em breve, todas as empresas dos outros municípios vão implantar o sistema de Passe Rápido (cartão magnético).
Sem noção
No universo de ilegalidades encontrado pelas autoridades na região central de Florianópolis há inúmeras questões emblemáticas. Alguém abordado por uma autoridade apresentou um crachá que pretendia atestar legitimidade às ações clandestinas. Detalhe: o suposto documento teria sido assinado por conhecida personalidade política, que presidiria certa “associação de vendedores de passes”.
Vigília
Ambulantes, inclusive estrangeiros, ficaram sem condições de vender suas quinquilharias na terça-feira (26). Alguns, diante da maciça presença de autoridades nas ruas, buscaram abrigo no pátio da Igreja de São Francisco. Guardaram a muamba e ficaram esperando a saída do “rapa”. Perderam tempo.
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