Cidasc e Ibama fecham sítio onde bovinos e porcos se alimentavam de restos de outros animais e verduras podres
Dentro do sítio de Valdemar Machado, 14 caixas de mangas podres são disputadas pelas moscas, que voam das frutas às verduras estragadas para chegar aos porcos que andam livres pela lama.
O cheiro forte só parece não incomodar o proprietário de 61 anos que, na manhã de ontem, foi surpreendido pela visita de técnicos da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e do Ibama. Por três meses, fiscais do Ibama registraram indícios de abate clandestino e crimes ambientais no local, que já havia sido embargado em 1999.
Durante 12 anos, desde a última fiscalização do Ibama na região, o sítio de Valdermar Machado funcionava clandestinamente. Parte da propriedade está localizada em área de preservação permanente (APP), justamente no lugar onde dejetos dos porcos são lançados em um córrego que abastece a comunidade de São Matheus, em Três Riachos, área rural de Biguaçu, na Grande Florianópolis.
Técnicos da Cidasc e do Ibama coletaram amostras de água antes e depois da cerca onde Valdemar Machado cria os porcos. De acordo com o Ibama, entre gado e suínos, 140 animais eram criados.
– Constatamos as condições precárias dos animais, que, em desacordo com a lei, se alimentam com restos de outros animais – disse Flávio Veloso, médico-veterinário da Defesa Sanitária Animal da Cidasc.
– Eu não faço abate, não. Já tive abatedouro, mas agora não tenho mais. Só engordo os animais para vender depois – explicou o proprietário, visivelmente constrangido pela presença da polícia e de técnicos ambientais em sua propriedade.
Pele de boi dentro da pia
Na pia dentro de um galpão do sítio, peles de gado foram encontradas. Ainda assim, no momento da inspeção, o Ibama não detectou abate clandestino. Valdemar Machado foi multado por danificar uma APP e desrespeitar o embargo anterior. Com os resultados das amostras de água coletadas do córrego será comprovado se o proprietário poluiu o meio ambiente. O Ibama também suspeita que a carne vendida por Valdemar abastecia a Grande Florianópolis a partir de frigoríficos clandestinos.
– Toda a área foi interditada e ele terá que desmanchar os galpões. Um processo foi instaurado no Ibama e será encaminhado ao Ministério Público por crime ambiental. A verdade é que faltou fiscalização na área desde o primeiro embargo, em 1999 – destacou a fiscal do Ibama, Janete Maciel.
O único funcionário do sítio é um senhor magro, de 62 anos, que recebe R$ 50 semanais em uma jornada diária que soma mais de 10 horas de trabalho. Antônio Farias declarou que houve um abate de porco há duas semanas e, abaixando a cabeça, lamentou a condição do lixo, do mau cheiro e dos animais no local de trabalho.
– É, pensando assim, essa sujeira deve fazer mal pra gente e para os animais, né? – filosofou.
DIARIO.COM.BR Confira o vídeo sobre o fechamento do abatedouro.
(Por Pedro Santos, DC, 04/03/2011)
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