Quando Pedro Ivo Campos (1987-1990) assumiu o governo, apenas 29% estava concluída. O novo governador elegeu a ponte como prioridade, e as obras ganharam visibilidade. Na época, foram feitos os pilares e instalada a estrutura metálica. Mas os problemas técnicos e a falta de recursos faziam os prazos de conclusão serem sucessivamente adiados. Pedro Ivo não viveu para ver a ponte pronta. Morreu no dia 27 de fevereiro de 1990. O vice Casildo Maldaner (1990-1991) assumiu o governo e estabeleceu como “ponto de honra” inaugurar a esperada obra.
– Foi uma decisão forte do Pedro Ivo em tocar a obra e, com a falta dele, se tornou a prioridade das prioridades – afirma Maldaner.
Novamente, a falta de recursos dificultou o processo. O país se recuperava do Plano Collor.
– A economia estava parada, a arrecadação caiu. Fazíamos leilões de carros velhos na Secretaria de Administração para fazer caixa – conta o ex-governador.
Apesar de tudo, na noite de 8 de maio de 1991, Maldaner inaugurou a Ponte Pedro Ivo Campos. Daquele dia, o hoje senador não esquece duas frases. Uma é dele mesmo, no discurso de inauguração: “Neste instante, estamos retirando a Ponte Colombo Salles da UTI”. A outra é do deputado Ulysses Guimarães, que esteve em Florianópolis para a solenidade:
– Ele (Ulysses) olhou para o mar e disse que tinha que estar presente na homenagem a Pedro Ivo. Ele disse que tinha que vir, nem que fosse a nado. Havia milhares em cima da ponte, parecia uma via sacra.
(DC, 08/03/2011)
Barreira política no caminho
Além da demora na assinatura para autorizar a construção da Ponte Pedro Ivo, sucessivos entraves políticos arrastaram o processo por cinco governos até a finalização do projeto
A construção da Ponte Pedro Ivo atravessou cinco governos, quatro planos econômicos e um período marcado por uma inflação inimaginável nos dias de hoje. Estes são, segundo alguns dos envolvidos, os ingredientes que tornaram a obra tão problemática. Quando o contrato para a construção da terceira ligação Ilha-Continente foi assinado, o Brasil ainda vivia sob o regime militar, no governo de João Figueiredo. Em Santa Catarina, o governador era Jorge Bornhausen (1979-1982), que se preparava para deixar o mandato e concorrer ao Senado. Mas, antes de deixar o Palácio Cruz e Sousa, então sede do governo, Bornhausen foi surpreendido com um laudo que condenava a Ponte Hercílio Luz. Com apenas a Ponte Colombo Salles em operação, a construção de uma nova ligação passou a ser prioridade.
– Procurei o ministro do Planejamento Delfim Netto, conseguimos os primeiros recursos e assinamos o contrato com o governo federal – lembra o ex-governador.
Com a renúncia de Bornhausen, assumiu o vice Henrique Córdova, mas o projeto só voltou a ganhar viabilidade no governo de Esperidião Amin (1983-1987). Segundo ele, o grande desafio na época era conseguir financiamento para a obra. O Estado, que se recuperava das enchentes do ano anterior, não tinha condições de arcar sozinho com um projeto daquele porte. Já o governo federal, às voltas com a inflação, não liberava recursos. A saída foi buscar uma linha de financiamento com o BNDE (atual BNDES).
– Então propusemos uma linha de financiamento de pontes urbanas montadas em concreto e estrutura metálica ao BNDE – lembra Amin.
Para conseguir os recursos, o projeto precisava da autorização do Ministério do Planejamento e aprovação do Senado. Nesta época, o Brasil vivia o movimento das Diretas, Já. Mas, em Brasília, o governo articulava a derrota da emenda no Congresso Nacional para manter as eleições indiretas, pelo Colégio Eleitoral, com Paulo Maluf como candidato da situação.
– O problema era que o governador Amin, embora fosse do mesmo partido de Maluf, tinha simpatia pelas Diretas. E toda vez que ele dava uma declaração a favor disso, o processo do financiamento emperrava – conta Marcos Rovaris, secretário de Transportes da época.
Mesmo com as dificuldades, o governo conseguiu aprovar a linha de financiamento e obter a autorização do Ministério do Planejamento. Então surgiu um novo obstáculo. O senador Moacyr Dalla (ES) foi eleito presidente do Senado. Segundo Rovaris, quando o projeto chegou ao Senado, Dalla se interessou.
– Ele disse que aprovaria a proposta, desde que antes fosse feito um projeto semelhante para o Espírito Santo. Na época, todos os equipamentos da Usimed, que estavam aqui, foram transferidos lá. Eles fizeram o mesmo projeto e acabaram assinando antes do nosso, o que atrasou a nossa ponte. Não conseguimos implantar um prego antes que a ponte do Espírito Santo fosse finalizada – afirma Rovaris.
(DC, 08/03/2011)
Os 20 anos da outra ponte polêmica
Na próxima terça-feira, a Ponte Pedro Ivo Campos completa 20 anos. Poucas obras em Santa Catarina foram tão cercadas de polêmicas quanto a terceira ligação Ilha-Continente.
Se teve uma ponte tão polêmica em Santa Catarina quanto a Hercílio Luz, esta é a Pedro Ivo Campos, que completa 20 anos na terça-feira. Foi a ligação entre a Ilha e Continente que levou mais tempo para ser construída – nove anos – e ainda foi inaugurada incompleta em 8 de março de 1991, sem a pintura externa e as passarelas.
A construção foi cenário de um dos maiores escândalos do Estado: a suspeita de superfaturamento de US$ 27 milhões pelo último superintendente da obra, o engenheiro Miguel Orofino, uma história que ainda não chegou ao fim.
A ponte, batizada em homenagem ao governador morto um ano antes da conclusão, começou a ser construída em 1982. O então governador Jorge Bornhausen assinou contrato com a Usiminas Mecânica (Usimec) em 13 de maio.
A ponte não era prioridade do governo, que planejava continuar o Aterro da Baía Sul até o aeroporto. Segundo Bornhausen, a interdição da Ponte Hercílio Luz, que dividia o tráfego de 60 mil veículos por dia com a Colombo Salles, mudou o foco para a nova ligação.
– Ficamos só com uma ponte e tivemos que direcionar os recursos para a obra – diz.
Esperidião Amin, secretário de Transportes na gestão de Bornhausen e governador de 1983 a 1987, lembra que a nova ponte foi baseada no projeto da Colombo Salles, mas com o vão central metálico. Isso para obter recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, atual BNDES), que buscava abrir mercado para o aço da estatal Usimec. Embora a contratação da Usimec sem licitação tenha sido legal – por se tratar de empresa pública –, houve polêmica por ela ter subcontratado empreiteiras.
O financiamento saiu em 1984. A demora na aprovação dos recursos paralisou as obras até 1986, quando chegou o material para prosseguir.
– Na época havia grande restrição ao crédito. O Estado não tinha recursos e o governo federal estava às voltas com a inflação – recorda Amin.
Pedro Ivo Campos tomou posse em março de 1987 e deu prazo de 20 meses para a conclusão – que não foi cumprido. Em 1989, as empreiteiras não estavam recebendo e pararam a obra, só voltando em 1990, quando o governador morreu.
Casildo Maldaner assumiu e retomou os pagamentos, mas a um custo alto. Como a maior parte dos U$S 55 milhões veio dos cofres públicos, os salários do funcionalismo atrasaram e os servidores protestaram em frente à obra, na véspera da inauguração, que aconteceu uma semana antes de Maldaner entregar o cargo.
(DC, 06/03/2011)