Estudo coloca o Brasil como o 3º no mundo onde elas desbancam os homens nesse quesito
O tempo em que lugar de mulher era dentro de casa já se foi. Recente pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que mede a evolução do empreendedorismo no Brasil comparado com outros países, mostra que existem 18,8 milhões pessoas à frente de negócios com até 42 meses de vida. Desse total, 53% (9,96 milhões) são mulheres, desbancando os homens, que ficam com 47% (8,84 milhões).
O consultor organizacional especialista em desenvolvimento das competências de liderança e preparação de equipes, Eduardo Shinyashiki, diz que, há alguns anos, a grande qualidade da liderança era ter foco, e nisso, diz ele, os homens dominavam.
Depois, foi a vez de entender a emoção do cliente.
— Agora, fala-se em marketing 3.0, que vai além do sentimento. É o ganho que o produto traz ao cliente e a mulher transita bem nesse cenário.
Para Shinyashiki, o mundo empresarial atual estimulou as qualidades femininas. Para ele, não basta ter a ideia atualmente, mas é preciso saber lidar com ela.
— E as mulheres vêm ganhando mais espaço —, conta Shinyashiki.
O especialista explica que, quando se abre um programa de desenvolvimento pessoal, por exemplo, as mulheres participam mais do que os homens.
— Elas aliam o comprometimento com autoconhecimento e lidam melhor com a pressão quando estão em situações de estresse —, avalia o consultor.
A psicóloga e coach da Apex Executive Search, Nilce Campos, enxerga que a abertura do mercado de trabalho para as mulheres foi feita de forma gradativa e isso fez com que elas se conscientizassem e ocupassem os espaços.
— Na maioria das vezes, elas são mais comprometidas do que os homens e estão cada vez mais se descobrindo como empreendedoras — , diz.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a procura por qualificação por parte delas. Segundo Nilce, “infelizmente a desigualdade entre salários ainda existe e a mulher tem de batalhar e estudar mais para provar que é competente”.
Para a psicóloga, um dos segredos do sucesso deve ser a união.
— Elas precisam se enxergar como parceiras e não como concorrentes — , diz.
Para o presidente da Associação de Joinville e Região da Pequena, Micro e Média Empresa (Ajorpeme), Diogo Henrique Otero, o empreendedorismo feminino é um processo natural.
— Faz parte da evolução do comportamento das mulheres. Hoje, em alguns casos, elas ainda recebem remuneração mais baixa do que os homens e isso também influencia na abertura dos negócios próprios.
PARA FUGIR DA ZONA DE CONFORTO
Depois de trabalhar em um projeto social, fazer mestrado, dar aulas na faculdade e morar dois anos fora do Brasil, Juliana Cristina de Oliveira, 33, tomou a decisão de se tornar empreendedora. A vontade cresceu quando ela lecionava no curso de administração de empresas em que o empreendedorismo era assunto recorrente.
— Depois, fui morar na Nova Zelândia para fazer um curso de extensão e voltei de lá com a ideia de abrir um negócio de produtos orgânicos — , explica.
Conversando com o pai, que também é empresário, Juliana chegou à conclusão de que não seria a melhor escolha. Outros pensamentos surgiram até que ela se decidiu por uma loja de roupas no Joinville Garten Shopping.
— Pensamos em abrir uma franquia, mas seria algo engessado. Quando decidi por uma loja própria, tive de transpor barreiras para que ela fosse conhecida.
Em abril do ano passado, a Joly abriu as portas. Mesmo com quase um ano de vida, a loja já teve de se reinventar.
— Esperávamos um público entre 30 e 35 anos, mas vimos que as pessoas que frequentam o shopping são mais jovens — , explica.
Para Juliana, ser empreendedora é um desafio difícil, mas prazeroso.
— Foi a melhor escolha que eu poderia tomar. Aqui, não tem como entrar em uma zona de conforto. Cada vez que vejo alguém com uma sacola da loja, vejo que estou no caminho certo.
BRINDES QUE VIERAM COM INOVAÇÃO
Há 18 anos, Raquel Nass, 45, tomou a decisão de abrir uma empresa. Ela e o marido viram no mercado de brindes um ramo promissor e criaram a Aliança Brindes, em Joinville. A empresária conta que o espírito empreendedor está no DNA.
— Já fui bancária, compradora e professora. Naquela época, fazia bijuterias em casa e levava para vender no trabalho — , lembra.
Com boas ideias, ela começou a inovar no ramo e a produzir bolsas e necessaires personalizadas para os clientes.
— As pessoas querem brindes funcionais — , diz.
Depois disso, houve uma inversão no faturamento. Antes, 90% do dinheiro vinham da venda de produtos que a Aliança representava. Atualmente, o mesmo percentual é representado pela vendas das bolsas que são de fabricação própria.
Para a empresária, a mulher tem nas veias o sangue empreendedor.
— Ela é, por natureza, mais empreendedora, porque cuida dos filhos, da casa e tem o trabalho para administrar. Quando só o homem trabalhava, muitas precisavam ter criatividade para se virar com o salário do marido e não deixar ninguém passando necessidade — , opina.
TRABALHO FEITO COM CHOCOLATE
Durante dez anos, Janaina Rodrigues Manteuffel, 28, viveu do outro lado do balcão. Ela era atendente da ótica em que a mãe é sócia e sempre gostou de trabalhar no comércio. Mais tarde, formou-se em jornalismo, mas sempre quis ter o negócio próprio.
Incentivada pelo marido, em novembro de 2007 ela resolveu arriscar. Junto com a sócia Teka Borba, que é chef de cozinha especialista em chocolates, montou uma chocolateria.
— Começamos com pequenos eventos. Adaptei minha cozinha para ser industrial e começamos a produzir em casa — , lembra a empresária.
Era o início da Divino Sabor.
No final de 2009, veio a formalização e a abertura da loja.
— A gente viu que Joinville tinha uma carência no mercado de chocolates finos e eventos e fomos para esse segmento — , diz
A ideia deu certo e, além de chocolate, elas passaram a oferecer cafés, doces e salgados para atrair mais clientes.
— Em Joinville, nós ainda não temos um público que sai de casa apenas para degustar chocolates em uma loja e, por isso, agregamos mais produtos — , explica.
Mesmo estando em um período no qual considera de maturação, ela já conseguiu empregar quatro funcionárias.
— É um caminho de pedras que se lança sementinhas. Ser empresária tem vantagens, como poder jogar o negócio para o rumo que achar melhor.
AJUDA PARA MULHERES DE BAIXA RENDA
Para ajudar às mulheres que querem ser empreendedoras, mas têm baixa renda e escolaridade, o Instituto Consulado da Mulher faz o trabalho de orientação de como dirigir a própria empresa. Em Joinville, 128 mulheres são atendidas pelo programa. Na maior parte das vezes, elas se dedicam a negócios culinários, produção de acessórios e costura.
— Damos orientação sobre como colocar o preço nos produtos, onde vendê-los e fazemos o aporte de recursos para que o negócio cresça — , explica a diretora-executiva do Consulado, Leda Bogër.
No início do programa, em 2002, o foco não era apenas os empreendimentos, mas também a oferta de oficinas.
— Desta forma, atendíamos pessoas que não tinham vulnerabilidade social, o que não era o nosso foco — , explica a diretora.
Agora, o Consulado vai até a comunidade onde as mulheres estão e faz assessoramento dos negócios por cerca de dois anos.
— Temos convênio com o Sebrae e a Univille e indicamos quando achamos que é hora da empresária formalizar o negócio — , diz.
No dia 22, será feita uma reunião com as mulheres que querem participar do trabalho de orientação. As inscrições devem ser feitas pelo telefone (47) 3433-3773, das 8h30 às 17h30.
(Por Ana Paula Fanton, DC, 08/03/2011)
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