As mudanças no clima mundial podem ser analisadas a partir de diferentes aspectos. Como um risco, uma oportunidade ou uma exigência de mudança de comportamento. Para entender como as empresas do Rio Grande do Sul, quarta economia do país, encaram esse assunto, o pesquisador Eduardo Baltar decidiu ir fundo no tema.
O resultado dos questionários aplicados a 92 empresas são reveladores. Embora 58,17% das organizações ouvidas desenvolvam ações de combate às mudanças do clima, apenas um quarto realiza o inventário de emissões de gases do efeito estufa (GEE).
Para Antônio Costa, professor-doutor do Programa de Engenharia Industrial da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que há quatro anos estuda o assunto, os dados são compreensíveis. Segundo ele, políticas públicas que contribuam com novas linhas de créditos para projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) seriam um bom caminho.
– Hoje, o desconhecimento é muito grande. Apenas as grandes empresas atuam com mais força – afirma.
Baltar reforça a opinião de Costa, ao entender que os números não significam descaso, mas, sim, desconhecimento do assunto.
– O grande problema é que a maioria das empresas não conhece os riscos nem as oportunidades decorrentes das mudanças climáticas – conclui o pesquisador.
Atitudes positivas ainda são raras
Ainda assim, é possível apontar alguns destaques quando o tema é conscientização e redução de impacto. A fábrica brasileira da Thyssen Krupp Elevadores é um exemplo.
Ações básicas, como separação do lixo e tratamento dos efluentes, começaram já no final da década de 90. Em 2009, a empresa decidiu reunir as ações em um projeto único e formalizar avanços. Foi quando surgiu o Programa de Eficiência Sustentável.
– Exige trabalho, mas não é algo inviável se há apoio da diretoria – diz José Ramiro, gerente da Divisão de Garantia da Qualidade da Thyseen e coordenador do programa.
Outro destaque é a CMPC – Celulose Riograndense que realizou seu primeiro inventário em 2003. Para o diretor-presidente Walter Lidio Nunes, o passo é importante para definir metas e gerenciar as atividades. Hoje, a empresa também mantém o Plano de Melhorias Ambientais que, entre outras coisas, foca na eficiência energética e no uso de combustível renovável. Apenas o lícor negro, resina oriunda do próprio processo produtivo, responde por cerca de 70% do combustível usado pela CMPC. Para Nunes, as empresas precisam começar a agir:
– Um engajamento maior da federação das indústrias com o tema poderia facilitar o envolvimento de mais empresas – sugere.
Os números
– Foram ouvidas 92 empresas associadas à sede regional de Porto Alegre da Câmara Americana de Comércio (Amcham) ou indústrias associadas ao Centro de Indústrias do Rio Grande do Sul (Ciergs)
– 34,7% das empresas que responderam ao estudo têm mais de 500 funcionários
– 75% das empresas ouvidas não desenvolvem inventário de emissões de gases do efeito estufa
– 84,8% dos entrevistados afirmaram desconhecer riscos e oportunidades impostos pela intensidade de gases do efeito estufa aos seus produtos e serviços
– Há um empate quando a pergunta é o grau de risco ou oportunidade imposto pelas mudanças climáticas. 20,7% vê como uma grande oportunidade, outros 20,7% entende que a oportunidade é pequena.
– 87% das empresas que desenvolvem inventário analisam as emissões diretas
– 58,17% das empresas ouvidas desenvolvem ações de combate às mudanças do clima
– A maior parte das empresas que agem no combate às mudanças climáticas fazem melhorias no seu processo produtivo ou desenvolvem programas de eficiência energética
(ZH, 08/03/2011)
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