Novos radares pegam até bicicleta
03/03/2011
Sem união dos poderes públicos, problemas de mobilidade em Florianópolis estão longe de solução
03/03/2011

Da coluna de Sérgio da Costa Ramos (DC, 03/03/2011)
A cidade de Florianópolis figura numa espécie de Guinness Book da falta de mobilidade urbana. Um estudo acadêmico acaba de concluir que Floripa é a capital brasileira campeã de paralisia, vencendo proporcionalmente, é claro até mesmo as sempre engarrafadas e alagadas Rio e São Paulo. Pior: a capital catarinense seria a vice-campeã mundial, perdendo apenas para a capital tailandesa, Bangcoc.
Exageros à parte, o labirinto da Ilha de Santa Catarina não se formou ao longo de milênios, como o da Ilha de Creta. Bastaram duas décadas. O carrascal urbano foi planejado com o requinte de caracterizar uma cidade ainda pequena, com todos os inconvenientes de uma grande metrópole.
Temos vários Minotauros e nenhum Teseu. Nosso labirinto cresce de 15 em 15 minutos, formando uma sucessão de corredores entrecruzados, ruelas sem saída e uma malha viária mais antiga do que a Sé de Braga. Com um “champignon”: aqui, viadutos de 150 metros levam de três a cinco anos para sair do papel…
Cidade insular e portuária – sem portos ou transporte marítimo –, sobre a Ilha se abateram todas as pragas do progresso predatório. Pior: um progresso deformado, associado ao carrapato de uma ecoteologia caolha, que acaba provocando exatamente o que deveria evitar: a degradação ambiental.
Some-se a todos esses males o da monocultura automotiva, velha arteriosclerose do Brasil. Único país do mundo com 8 mil quilômetros de costa oceânica sem uma frota mercante e uma única tonelada transportada em navegação de cabotagem. Aqui, o navio graneleiro que zarpe do Rio Grande do Sul para o Norte – retirando de circulação 20 carretas de 12 toneladas – é apenas uma utopia. O percurso é penosamente cumprido ao lombo de cavalos mecânicos, sobre labirintos devastados.
Predomina a antilógica do baronato rodoviário: em 10 anos, a frota brasileira pulou de 28,5 milhões para 63 milhões de veículos, com algumas cidades – inclusive a que a Ilha hospeda – matriculando um carro para cada vivente. Com a infraestrutura patinando na infravontade de autoridades inertes, nossa Ilha de Creta ficou entregue à sanha dos Minotauros. E nem foi preciso que se valessem de grande força física ou de chifres pontiagudos. Aos “Minos” bastou exercer a mandriíce e a indolência – e assim construir, por omissão, o mais impenetrável labirinto do Brasil.
Novos espaços nunca prosperam nesta nossa “Ilha de Creta”, em inútil espera pelo seu Teseu. O eterno novo aeroporto é um exemplo já cansado. O Minotauro do atraso também lhe deu uma chifrada. Os que deveriam desenredar o novelo são os primeiros a construir novas paredes para o labirinto, sob o aplauso de um obscurantismo que pretende congelar a infraestrutura da Ilha. Tudo sem deixar de receber exércitos de adventícios, sem deixar de comprar um carro novo por minuto e sem abandonar o hábito de transitar pelo centro da Vila, estacionando na frente de uma farmácia ou padaria.
O labirinto da Ilha cresce a cada minuto, alimentado pelos Minotauros de quatro rodas e nenhum cérebro.

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